domingo, 18 de dezembro de 2011

TERTÚLIA na nova Bertrand de Braga

Foi engraçado. Muito bom mesmo. Gostava de fazer aqui um resumo mas acreditem que dava uma trabalheira danada. Porquê? Porque foram duas horas de animada cavaqueira em que se falou de mil e uma coisas relacionadas com livros, blogues, escritores, leitores, enfim, uma conversa onde houve de tudo e onde não faltou a má-língua!
Deixo aqui três bonecos da autoria da mãe da Ana Nunes. Ficamos, desde já, à espera da próxima.


sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O Príncipe da Neblina - Carlos Ruiz Zafón



O Príncipe da Neblina é uma obra despretensiosa, escrita por Zafón no início da sua carreira literária. Tem interesse pelo conhecimento que nos possibilita das primeiras experiencias literárias deste grande escritor espanhol mas não tem uma qualidade literária (nem de perto nem de longe) comparável aos seus grandes livros.
Trata-se de uma estória fantástica, com enredo obscuro e misterioso, digno de um filme de terror. O herói, Max, é um jovem que se propõe desvendar um mistério em torno de um ser sinistro que parece habitar a mesma ilha onde se radicou a família de Max. O seu amigo Roland é o alvo do maléfico Príncipe da Neblina. Cabe a Max e sua irmã ajudarem o pobre Roland.
O enredo, muito previsível, tem o dom de não nos cobrar um grande esforço. É daqueles livros que constitui um pequeno passeio para a mente. Por outras palavras, é um livro tão agradável que será certamente um alvo magnífico para os ataques cerrados dos críticos literários.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Tertúlia na Bertrand Braga


Lendo O Príncipe da Neblina, de Carlos Ruiz Zafón


Reverte e Zafón: dois escritores espanhóis. Embora a obra de Reverte seja bem mais profícua e mais completa, o certo é que ambos são consagrados. Em comum têm um estilo baseado na emoção e na criatividade. Os valores são, em ambos, os da alma espanhola: os da honra e do sangue. Mas Zafón e Reverte têm algo mais em comum: começaram a ter sucesso nos inícios da década de 90. Se A Sombra da Águia foi um marco na fase inicial de Reverte, O Príncipe da Neblina (escrito em 1993 e só agora (!!!) publicado em Portugal) desempenhou esse papel na obra de Zafón.
Encetei a leitura deste livro, portanto, pela mesma razão que li A Sombra da Águia: para mergulhar nos primórdios da carreira do escritor.
Não espero, obviamente, deste livro, a genialidade de A Sombra do Vento ou de O Jogo do Anjo. Mas a arte e o talento de Zafón estarão aqui já patentes. Espero eu…
Imagem daqui-

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

A Sombra da Águia - Arturo Perez-Reverte


Ler Arturo Perez-Reverte é sempre uma experiência muito gratificante, para quem gosta de suspense e de aventuras. E muito mais gratificante é tratando-se de um dos primeiros romances do escritor espanhol, naquela fase mais “ingénua”, mais pura, dos seus escritos em torno dos seus temas favoritos: a guerra, a honra e a coragem.
Nesta obra, Reverte conta-nos uma história curiosíssima: um grupo de soldados, voluntários e em grande parte mercenários espanhóis alistam-se no exército de Napoleão. A sua ambição é ganhar “algum”, porque fidelidade à causa, isso é coisa que não existe nestes castelhanos que odeiam Napoleão, ao ponto de se referirem a ele de forma sempre depreciativa.
Na Rússia, o exército francês encontra-se às portas de Moscovo. A situação é a mesma que serve de pano de fundo a uma grande parte da obra de Tolstoi, Guerra e Paz. Os exércitos de Napoleão conseguem conquistar Moscovo mas é uma vitória apenas aparente; a partir daí, inicia-se a grande ofensiva russa e Napoleão começa a perder a guerra.
Verificando esta realidade, o contingente espanhol decide desertar. Começam a dirigir-se para o exército russo, a fim de se entregar ao inimigo mas Napoleão entende tudo ao contrário, convencendo-se que os espanhóis estão a empreender uma brava ofensiva sobre os russos.
O enredo torna-se assim hilariante, com os mal-entendidos dos franceses e a forma absurda como os espanhóis não conseguem exercer a sua cobardia, confundidos com heróis que nem eles queriam ser.
Trata-se, portanto, de um livro sem grande fôlego literário, ao contrário de outras obras, verdadeiramente magistrais deste escritor, mas que se lê com imenso agrado, tão emocionante e divertido é o enredo. Sem dúvida, um dos livros mais bem dispostos que li nos últimos tempos.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Lendo A Sombra da Águia, de Arturo Perez-Reverte


Escrito em 1993, só foi publicado em Portugal, pela Porto Editora, em 2009. No entanto, este é um livro fundamental para compreender a carreira literária deste que é, talvez, o melhor escritor espanhol da actualidade.
De facto, Perez-Reverte tem um percurso curioso: talvez devido à sua formação profissional, Reverte iniciou a carreira literária com alguns livros notáveis pela emoção e pela imaginação com que criava aventuras e episódios bélicos, como em Limpeza de Sangue ou os seis livros da série Capitão Alatriste. Pouco tempo depois atingiu o seu auge naquela que é, para mim, a sua obra-prima: o Clube Dumas.
Mais tarde Reverte inicia um desvio na sua linha criativa, tornando-se um autor mais reflexivo, mais interior, menos espectacular. É o período de O Pintor de Batalhas. Eu, pessoalmente, prefiro esta época ingénua e inicial, mais divertida e descontraída, com o se encontra neste divertido A Sombra da Águia, em que um batalhão de soldados espanhóis ao serviço de Napoleão na Rússia, tenta desertar mas Napoleão confunde a fuga dos espanhóis traidores com um ataque heróico e manda um destacamento para ajudar os bravos heróis espanhóis.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Qual o traço distintivo da genialidade? Parte III


Em posts anteriores defini como tipos de escritores (a) aqueles que fundam as suas estórias na imaginação, construindo enredos que prendem o leitor pela criatividade e (b) aqueles que se debruçam sobra a natureza do ser humano na sua dimensão individual.
Penso que um terceiro tipo de escritores de ficção pode completar esta espécie de tipologia: (c)aqueles que se debruçam sobre o homem na sua dimensão colectiva. Refiro-me aos romances históricos e a todos os livros que abordam a dimensão histórica, social ou política da humanidade.
Neste tipo tenho de destacar, como paradigmas máximos, Umberto Eco e Franz Kafka.
Umberto Eco, com romances históricos monumentais, como Baudolino, O Cemitério de Praga e, principalmente, O Nome da Rosa é, na minha opinião, o maior mestre deste género.
Quanto a Franz Kafka foi, a meu ver, quem melhor soube entender a submissão do ser humano à autêntica tirania do social. Em O Processo o homem é tiranizado pela burocracia; em O Castelo e A Metamorfose pelo social; em A Grande Muralha da China pelo poder político.
A submissão do homem às super-estruturas sociais e políticas é também superiormente abordada pelos grandes existencialistas franceses como Simone de Beauvoir e Albert Camus, com destaque, a meu ver, para essa obra-prima que é O Estrangeiro. Fora do ambiente existencialista destacaria ainda uma obra fabulosa, de Celine, Viagem ao Fim da Noite.
Em Portugal, este género é superiormente representado por José Saramago.
Devo dizer que tenho uma especial predilecção por estes escritores uma vez que, regra geral a sua escrita é muito interventiva relativamente aos poderes instituídos e às desigualdades que, infelizmente, são apanágio das sociedades humanas.
No entanto, os mestres dos mestres, aqueles que superaram os maiores, são os que pertencem a um quarto grupo, que definirei no próximo texto.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

O Braço Esquerdo de Deus - Paul Hoffman


Algures num contexto medieval, entre brumas negras de mistério e terror, um castelo tenebroso onde vivem umas dezenas de clérigos loucos que escravizam umas centenas de pobres criancinhas. Os rapazes, esfomeados e esfarrapados, são maltratados brutalmente pelos clérigos (os Redentores) que os preparam para uma misteriosa guerra. Comem uma coisa horrível a que chamam pés-de-morto. São espancados brutalmente todos os dias e por qualquer motivo. Cale é uma dessas crianças e uma qualquer justificação que o leitor não conhece de início faz com que Cale seja ainda mais maltratado que os outros. 
O livro avança e o horror acentua-se. Descobre-se que alguns Redentores cometem crimes horríveis com... raparigas!
Chega-se a um ponto em que o leitor imagina o escritor aflito porque já não tem mais adjectivos para qualificar a desgraça de Cale e daquelas pobres criancinhas. Thomas Cale já era o mais desgraçado que se podia imaginar e o leitor já sorri de tanta desgraça acumulada.
Tudo neste livro é negro e tenebroso: desde as vestes pretas dos Redentores, até ao pensamento das crianças. Ali não há esperança nem redenção. Não há um raio de sol ou de vida. Tudo o que Paul Hoffman nos oferece é um quadro horrível, uma pintura de Bosh mas sem qualquer genialidade; apenas o Mal na sua expressão máxima.
Um dia Cale foge e é admitido por uma outra comunidade que, vem a saber-se depois, são os donos de um grande império, os Materazzi. Estes são menos brutais que os Redentores. E haverá uma guerra entre Materazzi e Redentores. Só no final se saberá que Cale estava no centro do conflito. A verdade revelada nas últimas páginas era para ser terrível não se desse o caso de se tornar óbvia para o leitor ao longo da leitura, até porque o título do livro já revela metade do mistério. Mas creio que Hoffman não previu isso e para um leitor atento, o final soa como banal e previsivelmente absurdo. O leitor já esperava esse limite entre a fantasia e o absurdo, que este tipo de literatura muitas vezes ultrapassa.
Devo dizer que não é uma leitura desagradável; lê-se com fluidez, num estilo simples e concreto, sem grandes considerações filosóficas, sem muitas descrições inúteis, com um apreciável ritmo narrativo. O problema deste livro é que não traz nada de novo. Num género em que a imaginação é fundamental, Hoffman refugia-se em clichés, em lugares comuns próprios do género e não sai daí.
Fez sucesso e vendeu muito. Era isso que se pretendia. Mas mais nada que isso.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Qual o traço distintivo da genialidade? Parte II


Ontem referi-me aqui àqueles escritores que baseiam a sua genialidade na imaginação.
Hoje quero referir-me a outro tipo de escritores: aqueles cujo talento se baseia na capacidade de retratar o ser humano na sua individualidade; na sua alma e no seu intelecto; nas emoções e sentimentos. Conhecer interiormente o ser humano, compreender os nossos comportamentos em todas as suas dimensões, explicar os nossos sofrimentos e alegrias, os nossos desejos e anseios mais profundos, são talvez tarefas quiméricas. Mas na literatura como na vida, as quimeras são os faróis que iluminam as auto estradas do comportamento humano.
E da imensa mole de escritores que se aproximaram dessas quimeras e nos deram visões absolutamente geniais da alma humana, destaco aqui alguns que me ficaram na memória como génios intemporais:
Fiodor Dostoievski foi talvez o escritor que melhor conheceu e compreendeu o ser humano em todas as suas dimensões. Ninguém como ele compreendeu a loucura “normal” de O Idiota, a mente criminosa e o remorso em Crime e Castigo, o ser religioso e o misticismo em Os Irmãos Karamazov.
Alguns escritores germanófilos são especialmente dotados deste talento especial para a interioridade: por exemplo Herman Hesse, nessas obras-primas que são Sidartha e O Lobo das Estepes, Gunter Grass no monumental O Tambor.
Num domínio um pouco mais abstracto, talvez mais artístico destaco o imortal William Faulkner.
Na literatura portuguesa não posso deixar de destacar António Lobo Antunes; ele é talvez o escritor luso que melhor conhece a alma humana.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Qual o traço da genialidade? Parte I


A mini-polémica que já se gerou neste blogue em torno da eventual qualidade literária de O Braço Esquerdo de Deus levou-me a pensar nisto: qual será a característica fundamental de um grande escritor? Qual será a marca distintiva de um génio literário?
Depois de uma breve reflexão identifiquei TRÊS traços que julgo caracterizar esses génios. Melhor ainda: estou convencido que os grandes escritores se podem encaixar em QUATRO categorias: três grupos que equivalem a essas três dimensões e os génios supremos que eu julgo serem os que aliam essas três dimensões.
Hoje ficarei pela primeira dimensão: os escritores cujo talento de baseia na IMAGINAÇÃO.
Se Paul Hoffman fosse um grande escritor, pertenceria a esta categoria. Mas não é. Na minha opinião, obviamente.
A imaginação fértil de alguns escritores permite-lhes contar estórias que nos encantam; eles fazem da criação a sua arma. Inventam situações e desfechos que nos deixam maravilhados.
Alguns dos exemplos mais brilhantes que recordo assim de repente:
Dan Brown, pelo menos em Anjos e Demónios; Arturo Perez-Reverte, principalmente na primeira fase da sua carreira, em que nos maravilhou, por exemplo, com as aventuras do Capitão Alatriste; o também espanhol Carlos Ruiz Zafón, com centenas de páginas de pura criatividade; estes são verdadeiros artistas da imaginação. Na literatura sul-americana há vários exemplos destes génios da imaginação, como o verdadeiramente fantástico Gabriel Garcia Marquez, mas também Isabel Allende e Luís Sepúlveda.
Gostava de destacar, um pouco acima de todos estes, dois enormes contadores de histórias: Paul Auster e Haruki Murakami. No entanto, a genialidade destes já os aproxima das categorias seguintes e já os coloca bem perto da categoria dos génios supremos.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Um desabafo de Abraão Forjaz


O livro do post de ontem, O Braço Esquerdo de Deus, faz-me lembrar esta questão: o proprietário deste blogue, convencido da sua superior sabedoria, escreveu aqui há tempo que a minha pessoa devia escrever mais. Bem, é uma opinião… e opiniões cada um tem a sua. A minha é bem diferente! Não falta por aí quem escreva e se uns podem eventualmente pecar por defeito, eu não quero pecar por excesso como esses escrivães de encomenda.
Há por aí tanto escriba que devia estar quietinho à lareira, com uma mantinha em cima dos joelhos! Na verdade, estou a ser injusto. A maioria das pessoas escreve para ganhar a vida. Ou para se encher de dinheiro como os burros se enchem de moscas!
Aqui chegados no nosso raciocínio atingimos o coração do problema: uns escrevem demais e outros escrevem de menos porque as pessoas escrevem mais ou menos conforme as suas motivações: se eu escrevesse por dinheiro, como fazem uns senhores que eu conheço, pois certamente, o atrevido proprietário deste blogue teria aqui quilómetros de epístolas bem condimentadas com figuras de estilo e até apetitosas polémicas.
Indo directamente ao assunto: esses escritores de fachada, que fabricam estórias de fantasia ao quilómetro, são os artistas pimba da literatura; escrevem para vender e o incauto leitor, talvez iludido por estórias da carochinha que o fazem adormecer, lá se deixa levar.
Mas não se pense que sou assim tão dogmático: afinal de contas, se os Paul Hoffman’s querem vender e se o povo quer estórias de embalar, então está tudo muito bem e isto não passa de um desabafo de leitor vencido pelo preconceito…

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Lendo O Braço Esquerdo de Deus

Tenham medo... tenham muito medo!!!!
Vocês acham que há homens maus?
Em O Braço Esquerdo de Deus eles são piores!
Vocês acham que já leram coisas insanas sobre o sofrimento humano?
Em O Braço Esquerdo de Deus há pior!
Vocês já leram livros de terror?
Em O Braço Esquerdo de Deus tudo é AINDA mais aterrorizador!
Portanto, tenham muito medo!
Aqui fica a minha terrível ameaça:
Dentro de dias, aqui no blogue, a minha opinião completa sobre este livro MEDONHO!

sábado, 3 de dezembro de 2011

A Melhor Leitura de Novembro: O Conde de Abranhos

A minha melhor leitura no mês de novembro foi sem dúvida o Conde de Abranhos, de Eça de Queirós.
Trata-se de um livro genial, em que a crítica social e política vem embrulhada num invólucro de humor que a pena de Eça tão bem sabe transmitir ao leitor.
Trata-se, acima de tudo, de um livro com uma mensagem muito actual, numa época, a nosso, marcada (tal como a de Eça de Queirós) pela incompetência da classe política. E ontem como hoje, é essa incompetência que determina a injustiça daquilo a que chamamos "CRISE".
Eles, os políticos fazem as crises; ou seja, governam-se. Os comuns dos mortais, esses pagam. Pelo meio, vamos rindo...

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

O texto vencedor


Aqui fica o poema vencedor do Passatempo:

D. Dinis em que todos os livros de história aparece
Que todos conhecem dos bancos da escola
Que foi o sexto a ter Portugal nas mãos
Que é sempre representado com severa fisionomia

Aquele que com a Santa casou
Em soberba festa
A que dos pães fez rosas
Espinhosa transformação

Foi aquele que a universidade mandou abrir
E que ainda lá está
Para sempre em pedra imortalizado
Quem sabe se pelo que vê não andará deprimido

Foi aquele que poemas legou
Que as dores do coração pôs em verso
O maior dos travadores
Que cantou o amor e o escárnio

Foi aquele que dizem que se escapava
“Ide vê-las senhor” dizia Isabel
Notava-se logo que ia para santa com tal paciência
Dizem que era para os lados de Odivelas que se perdia

Foi aquele a quem chamaram lavrador
Não foi por pegar na enxada
Ou se calhar até pegou sabemos lá nós
E ao pinhal de Leiria ficou para sempre ligado

Mas para lá dos factos tanto se esconde
O que será que oculta a sua fisionomia severa de monarca?
Será que as damas mesmo visitava em Odivelas?
Longo reinado, quantos desgostos?

Afinal tantos factos, tantas datas…que sabemos nós
Dos homens que nos governaram outrora?

Sara Fernanda Barros Paredes
Agualva-Cacém

Resultado do Passatempo D. Dinis


E a vencedora do passatempo D. Dinis é:
Sara Fernanda Barros Paredes
Agualva-Cacém
A vencedora irá receber um exemplar da obra de Cristina Torrão, autografado pela autora.
PARABÉNS