terça-feira, 15 de maio de 2012

O Xangô de Baker Street - Jô Soares



Jô Soares há muito que nos habituou a rir. Poucos como ele nos conseguem arrancar uma bela gargalhada. Ler este livro sem gargalhar é um desafio, eu diria insuperável
A ideia básica do livro é muito interessante: nos finais do século XIX cruzam-se no Brasil famosas personagens reais com outras de ficção mas já consagradas pela literatura: Sherlock Holmes e o seu inseparável Watson deslocam-se ao Brasil, por solicitação do Imperador D. Pedro II para investigar o estranho caso de um Stradivárius desaparecido e que o velho Rei tinha oferecido em segredo a uma das suas amantes. O pior é que o ladrão é também um horrível assassino de mulheres e Sherlock terá de desvendar todos os mistérios.
O enredo é enriquecido com a descrição do Rio de Janeiro daquela época, com as aventuras diletantes de um grupo de poetas de onde se destaca o famoso Olavo Bilac e uma célebre diva francesa, a atriz Sara Bernardt.
A eficácia do humor deste livro deve-se em grande parte ao contraste entre o british Sharlock Holmes e a aparência devassa dos brasileiros. No entanto não tardou muito que o detetive se rendesse à devassidão e acabasse por se render aos encantos do samba e até da canábis. Por outro lado, Sherlock vai-se revelando cada vez mais desastrado, caindo em situações ridículas… aliás, o humor de Jo Soares assenta, acima de tudo, no ridículo; na primeira fase do livro, o leitor é levado a pensar que o autor pretende ridicularizar os brasileiros, em contraste com os elementos estrangeiros. Mas não. Depressa se descobre que Jô Soares ridiculariza tudo e todos, desde um Rei decrépito, poetas devassos, uma atriz famosa mas de mau génio, um Inspetor de polícia quase demente e, acima de tudo, um Sherlock Holmes idiota e incompetente.
Se bem que salpicado por alguns clichés, é um livro que se lê com muito agrado. Não é uma obra prima nem pretendo sê-lo: creio que o autor apenas pretendeu escrever uma sátira divertida. E conseguiu-o. Deixando-nos com vontade de ver o filme com Joaquim de Almeida no papel de Sherlock Holmes e Maria de Medeiros como Sarah Bernardt.
Uma nota especial para o final: é absolutamente surpreendente e divertido.


3 comentários:

Fefa Rodrigues disse...

É bem divertido mesmo!!!

Indico O Homem que Matou Getúlio Vargas, também do Jô.

Abraços

Fefa Rodrigues

Unknown disse...

Exatamente, Fefa. Tenho-o na fila de espera :)

Miguel Pestana disse...

Acho que nunca tinha lido uma critica a nenhum livro do Jô Soares.
Tinha conhecimento dos livros mas nunca tive curiosidade em pesquisar sobre eles.Se calhar pelo velho cliché de que um apresentador não será um bom escritor...

Vou estar mais atento, depois de ter lido a sua opinião, caro Manuel.

Esta semana - por coincidência - li num blogue brasileiro que o Jô acaba de lançar um novo livro, lá.