"...a morte de qualquer homem diminui-me,
porque sou parte do género humano,
e por isso não me perguntes por quem os sinos dobram;
eles dobram por ti"
John Donne
Comentário:
porque sou parte do género humano,
e por isso não me perguntes por quem os sinos dobram;
eles dobram por ti"
John Donne
Comentário:
Este livro é um marco histórico na literatura mundial do século XX. Publicado em 1940, ele é mais um testemunho dramático e sentido desse período tão negro da história da humanidade. Neste caso, Hemingway transpõe para o livro o reflexo da sua própria experiência pessoal: depois de ter combatido como voluntário na Guerra Civil de Espanha, em que alinhou nas brigadas republicanas, contra os fascistas, este enorme escritor faz refletir no protagonista essa mesma experiência. E é na sua habitual voz poética que o faz. Hemingway foi talvez o homem que no século XX melhor conseguiu descrever o drama das guerras na prosa de ficção.
A ação desenrola-se nos arredores de Segóvia, onde o americano Robert Jordan chega com a missão de dinamitar uma ponte, juntando-se a uma brigada de revolucionários espanhóis. Todo o enredo se desenrola durante os dois dias que antecedem a explosão da ponte. Tal como é próprio de Hemingway, não é preciso um enredo muito factual para manter o leitor agarrado ao livro ao longo das suas 500 páginas. O poder e o encanto deste livro estão na força tremenda das palavras mas que refletem a força da personalidade do autor; um homem que viveu nos limites e escreveu nos limites. Daí a sua admiração por Espanha e pelo povo espanhol: um povo sem moderação, sem meios-termos; um povo que é amor e sangue; dor e paixão.
Um dos aspetos mais significativos desta obra é o facto de os personagens praticamente não saberem nada sobre o desenrolar da guerra; mau grado arriscarem a vida em nome de um ideal que mal conhecem (a República), eles são meros peões. No entanto, nas suas vidas, a guerra deixou de ser um meio para se tornar um fim em si. Para eles o importante já não é para que serve a guerra mas sim como cumprir o seu papel na guerra.
Mas a guerra não é feita de ideais; a maioria do povo não lutava pela República ou pelo fascismo; lutava pela necessidade de se “agarrar” a um partido; por necessidade de defesa. O álcool, por exemplo, era uma fonte de coragem maior do que qualquer ideal. Muitas vezes a embriaguez era um motivo mais forte para matar do que qualquer ideal. Por outro lado, a multidão é propícia aos exageros; o entusiasmo coletivo é redobrado e a fúria revolucionária fazia surgir verdadeiros atos de terror.
Mas a força e mesmo a violência da escrita de Hemingway é temperada de forma quase mágica com uma espécie de poesia em prosa que nos surpreende em qualquer das suas obras. Este pano de fundo da guerra civil espanhola é o ideal para que o autor ponha em prática essa mescla, porque o povo espanhol e a sua mentalidade refletem precisamente esta mistura: tal como a escrita de Hemingway, os espanhóis são, ao mesmo tempo, violentos e apaixonados. Só os espanhóis são capazes de amar e matar ao mesmo tempo. Violência e amor caminham de mãos dadas ao longo destas 500 páginas tornando esta leitura verdadeiramente apaixonante.
Sinopse:
O mais célebre romance sobre a Espanha em luta com o franquismo conta a história de Robert Jordan, um jovem americano das Brigadas Internacionais, membro de uma unidade guerrilheira que combate algures numa zona montanhosa. É uma história de coragem e lealdade, de amor e derrota, que acabou por constituir um dos mais belos romances de guerra do século XX. «Se a função de um escritor é revelar a realidade», escreveria o editor Maxwell Perkins em carta dirigida a Hemingway após ter concluído a leitura do seu manuscrito, «nunca ninguém o fez melhor do que você».
in www.fnac.pt
8 comentários:
Gosto demais de suas análises. Aguçam-me o desejo de ler os que não li e reler os já lidos.
Uma das coisas que mais me marcou neste livro foi o relato da violência extrema de retaliação efetuado pelo próprio grupo protagonista do romance. Mostrando que todos eram capazes de atos irracionais e não apenas os inimigos, que neste caso foram também os adversários reais de Hemingway.
Uma isenção rara de se ver num escritor que tomou partido por um dos lados.
Já o li há muitos anos - quando o li, decorei o poema de Jonh Donne "Nenhum homem é uma ilha isolada".
Almma, muito obrigado! A intenção é precisamente essa ;)
É isso mesmo Carlos. É com uma sensibilidade tremenda que ele aponta os erros e exageros dos seus próprios partidários,por exemplo aqueles atos horríveis de Pablo, um revolucionário que, como Paulo da Bíblia, viveu amargurado pelos seus erros.
Redonda, este é de facto um livro unico e esse poema ajusta-se a ele na perfeição.
"...a morte de qualquer homem diminui-me,
porque sou parte do género humano,
e por isso não me perguntes por quem os sinos dobram;
eles dobram por ti"
é isto, não é?
A parte final é sim, e também gosto das frases sobre cada homem ser parte do continente e que quando um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica mais pobre, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria". E costumo lembrar-me destas palavras quando ouço os sinos a tocar pela morte de alguém desconhecido.
Olá Manuel,
Já li este fabuloso romance há muitos anos. Vou reler.
É este o poder dos teus textos.
Abraço.
Quero muito ler este livro!
E a tua opinião convenceu-me ainda mais para o ler. ;)
Obrigado :)
Beijinhos para vocês
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