segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Adultério - Paulo Coelho


Comentário:
Na mais positiva das leituras, este é um livro sobre a eterna inquietude do ser humano; sobre aquilo que António Variações chamava de Estar Além: só querer estar onde não estou, só querer ser o que não sou. Há no ser humano qualquer coisa que não se adapta à quietude, à paz de espírito; há sempre necessidade de algo mais, não necessariamente material; é por isso que a paz é tão difícil de obter.
Por outro lado, algo nos vai dizendo, ao longo da leitura que estamos perante um livro banal. No centro do enredo está a velha e mil vezes repetida questão dos limites do normal; a questão de saber se a loucura a que qualquer ser humano é levado pelas circunstancias, muitas vezes pela inquietude que referi, não é afinal um estado de “normalidade”. Mas, sinceramente, sobre esse assunto será possível que Paulo Coelho vá mais longe do que já foram os também brasileiros Machado de Assis e Clarice Lispector? Não me parece.
Depois vêm os lugares comuns a fazer lembrar a mais vulgar literatura de autoajuda: a medicina não dá respostas; apenas vende. O ioga e as técnicas orientais de meditação também não… 
A mais descarada banalidade e, ao mesmo tempo, uma generalização abusiva, mas que fica sempre bem num livro de Paulo Coelho:
“Os homens traem porque está no seu sistema genético. A mulher o faz porque não tem dignidade suficiente, e além de entregar seu corpo acaba sempre entregando um pouco do seu coração”.
Mas aqui está uma das grandes razões do sucesso dos livros deste autor: ele diz exatamente aquilo que a maioria dos leitores quer ler.
A vida exige desafios; quando eles não existem, o indivíduo tende a procurar situações de risco e aventura que, regra geral, resultam em comportamentos que conduzem à autodestruição. Isto não é uma descoberta de Paulo Coelho; é uma caraterística da alma humana há muito conhecida; o que o autor faz é apenas ilustrá-la com o exemplo típico da pessoa que, aparentemente, tinha tudo para ser feliz e que se vai auto-destruindo. Como é óbvio, “aparentemente” é a palavra-chave neste processo. E o grande problema deste livro é que tudo é demasiado óbvio; demasiado comum. E a literatura, como arte que é, exige algo mais que o banal.
Pela parte que me toca, acho que já esgotei a minha paciência para com Paulo Coelho; respeito o sucesso que tem e o bem que faz a muita gente que já o leu e com ele ganhou algo. Só por isso, já Paulo Coelho merece o reconhecimento que tem. Mas a mim já nada de novo diz…

Sinopse:
Uma mulher, casada, mãe de dois filhos, e jornalista de carreira, começa a questionar a rotina e a previsibilidade dos seus dias. Ao olhos de todos, tem uma vida perfeita: um casamento sólido e estável, um marido dedicado, filhos alegres e felizes, um trabalho que a faz sentir-se realizada. Contudo, já não é capaz de suportar o esforço necessário para fingir que é feliz, quando a única coisa que sente pela vida é uma enorme apatia. Tudo muda quanto reencontra, acidentalmente, um antigo namorado da sua adolescência. Quando se reencontram, desperta nela uma inesperada e violenta paixão, e fará tudo o que seja preciso para conquistar esse amor impossível.

13 comentários:

Sara disse...

Uma vez tentei ler um livro dele e foi uma autêntica tortura...Foi talvez o primeiro livro que deixei a meio. Essa citação seria suficiente para o atirar pela janela e deixa-lo lá...

Unknown disse...

:):):)
também acho

A VIDA NUMA GOA disse...

Não acredito que este blog se tenha dado o trabalho de ler e analisar Paulo Coelho, um verdadeiro lixo.

Carla disse...

Olá
Eu gosto muito de Paulo Coelho e um livro que aconselho todos a ler é Veronika decide morrer, já foi adaptado à sétima arte e deu um excelente filme.
Não vejo o que este blog tem para não se poder dar ao "trabalho" de ler e saborear Paulo Coelho.
Boas leituras

Carlos Faria disse...

Paulo Coelho diz precisamente aqui que o leitor quer ouvir, umas vez serve de autoajuda, outras de alívio de consciência. Literatura é para mim mais do isso e por isso já não leio Paulo Coelho.

Unknown disse...

Caros amigos
há umas décadas o arcebispo de Braga fez um memorável sermão puritano porque a RTP2 havia passado um filme escandaloso. Tratava-se do Império dos Sentidos. A crítica foi de tal forma feroz que todos concluíram: o senhor arcebispo viu o filme todo!
Eu faço como o senhor arcebispo :)

Carla disse...

Olá Manuel
Pois é as pessoas criticam mas as pessoas lêem Paulo Coelho, mas como não fica bem assumir fazem como o senhor arcebispo ;)

Unknown disse...

Leitora, que fique bem claro: eu faço como o senhor arcebispo no sentido em que leio para poder comentar; não faço como ele lendo e dizendo que não leio :)

Carla disse...

Olá
Pois mas Manuel existem muitos que fazem como ele lêem e dizem que não leram mas criticam como se tivessem lido.
Boas leituras;)

Unknown disse...

Isso é que eu acho pouco ético.
Por exemplo, eu nunca vi O Império dos Sentidos; portanto, não me pronuncio mas até coloco a hipótese de ser um filme bonito :)

Anónimo disse...

Adoro Paulo Coelho .

Anónimo disse...

Também gostei "Verônica ",um livro para ler e reler

Anónimo disse...

Adoro a maneira como Paulo retrata a alma feminina e os problemas que nos envolve que estão inseridos em uma determina sociedade