Um homem sem nome, uma identidade sem rosto, uma vida de onde se escoa a razão. Ele vê o Diabo que, no fundo, emana da sua própria incerteza, da ignorância que é o seu refúgio e inicia a espiral de busca dele próprio.
Ele somos nós, homens à procura da identidade, o mesmo é dizer, de ser feliz. A loucura que se aponta ao homem sem nome vai-se revelando, ao longo do livro, a normalidade da vida, desta vida que só conhecemos pela rama. Dentro de nós, dentro do homem sem nome, cresce a raiva do não saber quem somos, muito menos para onde vamos. Cresce a revolta e o Diabo emerge, nascido e criado no mais profundo da nossa alma. E a morte do pai, culpado de ser e de o fazer nascer, redimirá o mal de viver.
Normalidade ou loucura, Diabo ou consciência, destino ou vontade, tudo afinal se mistura num caos chamado vida. “Os Parricidas” não é, definitivamente, um livro qualquer; é a síntese da loucura normal, o repensar que todos procuramos de uma vida dominada pelo absurdo. As trajectórias que seguimos, aparentemente dominadas pelos cordelinhos de um fantoche que somos mas que julgamos manobrar, perdem um dia o sentido. É nessa altura que questionamos, repensamos e (tantas vezes!) encontramos o absurdo; ou o Diabo. Ou nós mesmos.
Podia dizer aqui uma série de banalidades sobre as influências de Dostoievski ou os traços indeléveis das leituras que o Novais terá feito de Kafka, mas por detrás disto tudo talvez esteja algo de muito mais profundo e, ao mesmo tempo, terrivelmente banal: a luta incessante pela busca da identidade. E as derrotas que todos nós sofremos nessa luta desigual. Por isso, não é Dostoievski que vejo por detrás dos Parricidas, embora “O Idiota” esteja por ali; nem o Joseph K de Kafka, embora ele espreite pelas frestas do livro; é Auster que eu leio por detrás das palavras do Novais.
Seja como for; com interpretações atrevidas como estas ou sem elas, ler Novais é algo que já não sentia há muito tempo: há ideias para lá dos clássicos.
Parabéns por este excelente blog. Apesar de serem apenas impressões pessoais, está muito bem conseguido, com excelentes escolhas literárias.
ResponderEliminarContinuação de um bom trabalho no blog e de boas leituras.
Cumprimentos