Sinopse:
O Americano Tranquilo é um dos grandes romances com a
guerra do Vietname como pano de fundo. Contudo, antecipa, através da sua
personagem principal, Alden Pyle, um agente da CIA, o que posteriormente veio a
ser a intervenção norte-americana naquele país do Extremo Oriente. Livro sobre
a guerra mas que se não detém em descrições bélicas. Livro, isso sim, sobre a
condição humana, onde o que está verdadeiramente em causa é o amor, o ódio, a
traição, a morte de inocentes e o sacrifício de civis.
Comentário:
O pano de fundo é fornecido pela Indochina francesa nos anos
cinquenta, quando alguns grupos terroristas (ou patriotas, consoante o ponto de
vista) começam a exigir a independência do Vietname. Isto conduziu a uma
verdadeira guerra colonial.
Fowler é um jornalista inglês cansado do jornalismo. Ele
abomina a política medíocre e interesseira. Adora o Vietname e apaixona-se, tal
como Pyle, por uma bela vietnamita, Phuong. Este triângulo amoroso dá corpo à
estória.
Indo direto ao aspeto mais importante deste livro, parece-me
que há nele um traço de génio, na forma como Greene nos apresenta um enredo
profundamente moralista sem nunca cair num tom apologético ou catequético. É de
forma lenta e gradual que o leitor se vai apercebendo deste carater moralista,
ao verificar que nenhuma das personagens pode aspirar a ser feliz; todos eles
esbarram com a realidade, com a guerra, o ódio, os interesses materiais, numa
palavra, a imoralidade.
Assim, veja-se o caso de Phoum; bela e inteligente, porém
interesseira. Quando Fowler afirma não ter dinheiro para a fazer feliz, ela,
aconselhada pela irmã, propõe que ele faça um belo seguro de vida! Fowler,
jornalista ateu, procura e não encontra a paz de espírito que outrora tinha
tido no seu casamento católico. Agora, a tentativa de divórcio e o sonho do
casamento com Phuong são vistos como um jogo ou um negócio. Fowler representa
sem dúvida a ausência de moral, se bem que se trate de um personagem ingénuo e
bom.
Pyle é um homem com sonhos. Católico, ele simpatiza com um
curioso movimento religioso, o caodaísmo. Trata-se de uma tentativa de juntar
as três religiões mais praticadas naquela zona do Oriente: o catolicismo,
budismo e islamismo. É esta ingenuidade que leva Pyle a apoiar determinados
atos terroristas, aparentemente inofensivos, para lutar pela independência do
território. Quando se verifica que um desses atentados provocou a morte de
inocentes, Pyle limpa o sangue das botas e comenta: “Não sabia”… era suposto
combater o comunismo.
A falácia desta luta entre o bem e o mal é a tom fundamental
da crítica de Greene: uma crítica à guerra como forma de negação radical da
moral.
Trata-se, enfim, de um livro profundamente sentimental,
talvez o mais moralista de Greene, escrito, como todos os seus romances de uma
forma fluida e fácil. Talvez o livro mais elaborado, mais sério e mais
inteligente de Greene.
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