Sinopse:
A caverna é uma
história de gente simples: um oleiro, um guarda, duas mulheres e um cão muito
humano. Esses personagens circulam pelo Centro, um gigantesco monumento do
consumo onde os moradores usam crachá, são vigiados por câmaras de vídeo e não
podem abrir as janelas de casa.
É no Centro que trabalha o guarda Marçal. Era para o Centro que seu sogro, o oleiro Cipriano, vendia a louça de barro que fabricava artesanalmente na aldeota em que vive - agora, os clientes do Centro preferem pratos e jarros de plástico. Sem outro ofício na vida, Cipriano perde a razão de viver. E a convite do genro, muda-se para o Centro, essa verdadeira gruta onde milhares de pessoas se divertem, comem e trabalham sem verem a luz do sol e da lua.
Enquanto isso, em baixo dos diversos subsolos, os funcionários do Centro descobrem uma estranha caverna. Driblando a vigilância, Cipriano consegue entrar lá dentro. O que descobre é aterrador.
Nesta versão moderna do mito da caverna de Platão, José Saramago faz uma apresentação sutil da face cruel do mundo capitalista e tecnológico.
É no Centro que trabalha o guarda Marçal. Era para o Centro que seu sogro, o oleiro Cipriano, vendia a louça de barro que fabricava artesanalmente na aldeota em que vive - agora, os clientes do Centro preferem pratos e jarros de plástico. Sem outro ofício na vida, Cipriano perde a razão de viver. E a convite do genro, muda-se para o Centro, essa verdadeira gruta onde milhares de pessoas se divertem, comem e trabalham sem verem a luz do sol e da lua.
Enquanto isso, em baixo dos diversos subsolos, os funcionários do Centro descobrem uma estranha caverna. Driblando a vigilância, Cipriano consegue entrar lá dentro. O que descobre é aterrador.
Nesta versão moderna do mito da caverna de Platão, José Saramago faz uma apresentação sutil da face cruel do mundo capitalista e tecnológico.
Comentário:
Este livro é mais uma prova da imensa capacidade de José
Saramago para nos surpreender. Nada na sua obra de ficção se assemelha a A Caverna. Podemos dizer que há aqui
alguns tons de neorrealismo que ele
desenvolvera em Levantado do Chão. O ambiente rural e a exploração do trabalho
pela dinâmica capitalista, são assuntos aqui revisitados. Mas os pontos de
contacto com as obras anteriores a esta (2000) são muito poucas. A versatilidade de Saramago ficava a qui
bem vincada.
Há, neste livro, uma referência
clara à Caverna de Platão: os cadáveres que hão-de ser encontrados no final do
livro “somos nós”; nós, os que apenas vemos sombras; nós, os que não passamos
de espetadores impotentes perante aqueles que nos comandam como marionetes;
nós, que moldamos o barro, que somos criadores, no fundo, não passamos de
fantoches.
Os bonecos que Cipriano Algor, Marta e Marçal moldaram “somos
nós”, também eles; são as criaturas que um Deus menor um dia houve por bem
inventar e lançar aos leões. O resto são sombras; são mundos inacabados, sempre
distantes, sempre inacessíveis a quem está condenado a apenas sobreviver. No
entanto, por maior que seja a injustiça, todo o homem é um Deus. Pode ser
apenas um deus menor, assim mesmo com letra minúscula; mas ao moldar o barro, a
família Algor assume o sagrado.
E no fim há sempre a liberdade; a liberdade de penetrar bem
fundo na Caverna; a liberdade de dizer não ao Centro Comercial ou a tudo o
resto. E a liberdade maior, aquela que Cipriano encontrará em Isaura Estudiosa;
a liberdade de amar.
Pelo meio fica a imensa caminhada do criador de bonecos e
moldador de barro. Uma caminhada penosa, escondida, mas onde há sempre algo que
nunca diz não. Algo que escapa à tirania do Centro comercial e de todos os desuses
do mal: o cão. O Achado, que um dia deu luz à vida de Cipriano.
Enfim, estamos
perante um livro cheio de poesia que reforça no leitor aquela ideia que há
muito assimilou: que José Saramago é um homem único; um homem em quem a sensibilidade
humana, a bondade, o sentido de solidariedade estarão sempre vivas, por mais
milénios que continuemos limitados às sombras da Caverna de Platão.
Um dos livros que ainda não li mas que em breve espero fazê-lo :)
ResponderEliminarJá leu "O Homem Duplicado"?
É um da obra de Saramago que mais impacto teve em mim, além do "Ensaio sobre a Cegueira".
Bons livros. Boas leituras.
Há coisas incríveis, Denise; há dois minutos fui buscar O Homem Duplicado à estante; neste momento o livro está a fazer de tapete do rato :)
ResponderEliminar... mas antes ainda vou ler a História do Cerco de Lisboa. Neste mês vai ser só Saramago :)