Sinopse:
Numa pequena vila sarda, a velha costureira, Ti Bonaria, acolhe Maria, «cedida» a ela por uma família humilde com muitos filhos. Oferece à sua «filha da alma» uma profissão e estudos, uma escolha audaciosa para uma mulher na Sardenha dos anos cinquenta. Maria cresce rodeada de ternura; mas há certos aspetos da vida da Ti Bonaria que a incomodam, em particular as suas ausências noturnas. Ela não sabe que a velha é a acabadora, a «última mãe», a mulher que ajuda os que sofrem a morrer. No dia em que descobre, a sua vida muda por completo e serão necessários muitos anos para que consiga perdoar à sua mãe adotiva. Com uma linguagem poética e essencial, Michela Murgia cria duas personagens inesquecíveis numa Sardenha intemporal, de costumes fascinantes.
in www.wook.pt
Comentário:
Eis como se pode escrever de forma agradável sobre a eutanásia; este é o melhor elogio que se pode fazer a este livro. Sobre um tema tão lúgubre, em que a morte está por todo o lado; sob um ambiente tão "pesado", a autora submete a morte ao amor.
Esta não é uma obra-prima nem pretendeu ser; é um livro simples, que se lê num ou dois serões, com uma escrita profundamente poética mas ao mesmo tempo simples e objetiva. Ou seja, sendo um livro sobre algo que é por natureza doloroso, não deixa de ser uma leitura agradável e mesmo bastante positiva.
Mesmo assim, por detrás da aparente leveza da escrita não deixa de estar uma Itália profundamente triste e deprimida, saída da segunda guerra mundial, em que o fascismo de Mussolini provocou a devastação e a miséria. A comunidade rural da Sardenha, de onde é originária a protagonista, é retratada como palco da mais sórdida miséria, onde as famílias dificilmente conseguem sobreviver com dignidade. Esta realidade sócio económica é agravada por um quadro mental extremamente conservador, onde reina a superstição. Este conservadorismo, escondido por detrás de tradições e de uma moral apenas aparente, constitui um quadro de obscurantismo que prevalece nesta velha Europa, ainda e sempre dominada pelo preconceito.
Mas a critica social e de costumes não são as alavancas principais deste livro; ele ganha força, sobretudo, com a dinâmica emocional; não direi que é um livro escrito para fazer chorar as almas mais sensíveis mas anda muito perto disso; é uma obra que se dirige muito mais ao coração do que há racionalidade de quem lê.
Não é, por tudo isto, um livro de grande excelência literária; mas é um livro que encerra uma mensagem polémica e atual e, como toda a literatura de qualidade é uma obra capaz de fazer refletir o leitor.
Sendo um livro muito pequeno, com uma escrita muito sintética e um enredo muito linear, não é uma obra de profundo alcance literário. Mas vale bem todos os minutos que empregamos na sua leitura.
Eu gostei bastante deste livro, só não gostei foi de alguns capítulos da última parte. De resto a escrita é maravilhosa!
ResponderEliminarTenho pena que não vás ao encontro do clube, no próximo sábado, mas é bom saber a tua opinião, sempre muito bem redigida.
Tenho um compromisso familiar, por isso não irei. Mas gostei muito do livro,sim.
ResponderEliminarVou procurar ler o livro. Estou curioso. Não conhecia a escritora.
ResponderEliminarObrigado amigo pelo seu excelente trabalho na divulgação dos nossos poetas e escritores.
Um abraço/Francisco.
Comecei a lê-lo, mas depois interrompi a leitura e preteri-o por outros. Vou tentar retornar a ele nos próximos dias...
ResponderEliminarOlá Manuel :)
ResponderEliminarestava para aqui a pensar (zzzz) como é que chegas a estes, a outros, no fundo a qualquer livro?
vou tentar tirar esta pergunta da confusão que à partida possa parecer- quem acompanhe o teu blog há algum tempo verifica que, e traduzindo por miúdos, és um leitor experimentado e suficientemente (+++ ;p) crítico, também já deu para ver que és também um leitor descomplexado e com um grande sentido de humor- (não me equivoco muito até aqui, pois não?)
Agora, vamos a isto- a dada altura como leitores vamos traçando um caminho, vamos fazendo escolhas, sabemos que ao optar por um livro estaremos a deixar outro de parte (não há tempo para todos, mesmo que sejam só os melhores). portanto onde acho que quero chegar é em que é que te baseias quando seleccionas determinado livro, livros que mesmo na dúvida algo (mais a experiência que outra coisa, pronto um bocadinho de preconceito à mistura) te diz que não vão além do "médio" ( sim ^lê-se, e dependendo da perspectiva até se poderá retirar algum aspecto positivo da experiência)
bj ;)
Olá C.
ResponderEliminarDesculpa só responder agora mas estive uns dias "fora de serviço..."
A questão é pertinente mas tem uma resposta muito simples: a vida é demasiado curta para tantos livros; e é mais curta ainda para que se perca tempo com coisas que não prestam ou até para que se gaste tempo a arriscar inutilmente uma leitura de gosto duvidoso. Por outras palavras: o segredo está num bom critério de seleção, que eu acho que tenho. O que eu não sou capaz é de te dizer que critério é esse :) Eu leio apreciações de pessoas em quem confio (não dos críticos literários, note-se). Depois tenho por regra que um escritor consagrado é, naturalmente, um bom escritor. E depois acho que é uma questão de intuição e de experiência...
De facto, cheguei a uma fase em que raramente não gosto de um livro; porque acho que consigo "cheirar" a má qualidade entes de ler :)
C.
ResponderEliminaresqueci-me de dizer que neste caso a escolha foi do clube de leitura Bertrand, de Braga. Eu não conhecia o livro.