Na semana que hoje termina faleceu um grande escritor; um génio chamado Gunter Grass.
Infelizmente, só li um livro dele, pelo que não sou a pessoa ideal para fazer grandes considerações em torno da sua obra. Mesmo assim, atrevo-me a dizer algo que me parece vir bem a propósito.
Li O Tambor (O Tambor de Lata no Brasil) há alguns anos. Se bem me recordo, o livro conta a estória de um jovem de nome Óscar, em plena segunda guerra mundial. A mensagem que me ficou do livro, ainda que vista à distância de vários anos, foi esta: Hitler tentava arrasar a Europa, chacinava os judeus, ambicionava dominar o mundo, causava uma guerra que resultou em vinte e tal milhões de mortos e, enquanto isso, Óscar tocava tambor. E parecia que toda a Alemanha tocava tambor enquanto Hitler e seus pares cometiam as maiores atrocidades.
A ideia que me fica hoje é que, no ano em que Gunter Grass nos deixou, muitos de nós continuam a tocar tambor…
É por isso que a Literatura é uma grande arte: há sempre atualidade nos grandes mestres, mesmo depois de eles nos deixarem…
Não me recordo de ter lido um livro dele. Foi precisamente este livro que requisitei na biblioteca esta semana.
ResponderEliminarLi apenas a "A ratazana" fiquei de tal modo deprimido que nunca mais o tentei ler.
ResponderEliminarEsta semana também dei por mim a folhear um livro dele, pensando se havia ou não de o comprar, e ler. Mas vou confessar que embirro um bocadinho com o senhor. Para quem pertenceu às SS, tecer considerações sobre o Holocausto e o Estado de Israel parece, no mínimo, de mau gosto.
ResponderEliminarOlá, sou de Belo Horizonte, Brasil, e por acaso, buscando opiniões sobre livros, encontrei seu blog. Adore! Parabéns e obrigada, vou acompanhá-lo. Abraço
ResponderEliminarCasos como o de Grass relembram-me sempre um professor de história que tive que dizia qualquer coisa como-é necessário olhar para cada período, não à luz da actualidade, do que hoje, séc XXI,conhecemos mas com a informação, o contexto da sua época.
ResponderEliminarRecomendo a leitura de "Descascando a cebola"
Catarina e Carlos,vocês iam gostar de ler este livro.
ResponderEliminarTeresa, ele foi praticamente obrigado a colaborar com o sistema; o contexto, como diz a C. explica muita coisa; aliás, depois disso ele teve um percurso notável na luta pela liberdade e pelos direitos humanos.
Obrigado, Cristina.
C., eu ainda não li Descascando a Cebola mas concordo com o que dizes.
Não, na minha estante não há livros deste autor. Tenho, do Pérez-Reverte o A Pele do Tambor. E tenho também um livrinho do Tambor, o personagem da Disney (do filme do Bambi).
ResponderEliminarDepois que li os comentários sobre a ligação às SS, optei por não o ler.
Também ainda não li Coetzee.
Um comentário ainda mais paralelo, ao lado de A Pele do Tambor, tenho o magnifico As Sandálias do Pescador. Alguém ainda se lembra, ou lê, Morris West?
José, Perez-Reverte é um ídolo, para mim.
ResponderEliminarMas essa estória do Gunter Grass ser operacional nazi parece-me um pouco mal contada; mas como não li nada sobre isso, nem mesmo Descascando a Cebola, não vou pronunciar-me... O que te digo é que Grass tem um passado marcadamente socialista e de militante social-democrata de esquerda e este O Tambor é uma crítica muito inteligente ao nazismo e ao colaboracionismo.
De Morris West li há muitos anos Filhos da Trevas e quanto a Sandálias do Pescador apenas vi o filme e adorei. Que bela estória!
Grass foi recrutado quando era adolescente. Apesar da referência não ser directa, tudo indica que terá sido "camarada de armas" de Ratzinger. O seu percurso posterior foi o de um homem de esquerda, e parece-me que deveria ser esse a ser tido em conta, não pelo "ser de esquerda" mas por coincidir com o período em que as capacidades intelectuais, sociais de qualquer indivíduo estão desenvolvidas
ResponderEliminarCaramba. Não ler Grass porque na sua juventude (e pensemos na Alemanha dessa época, pensemos na educação a que esteve exposta toda uma geração) esteve associado à juv hitleriana, às SS, olvidando tudo o resto parece-me tão disparatado como não ler Saramago com o argumento deste ser comunista
Que não se leia porque não há tempo para ler tudo, que o género não nos agrade...
Estive agora a rever o filme que o Manuel indica. Efectivamente todos temos que conviver com o erro, e até que o compreender, mas isso não significa que tenhamos que o aceitar. Gostei da passagem em que ele conta que certa vez, na Sibéria, lutou com um guarda por um pão que precisou dar a um aleijado, então alguém lhe pergunta - e se o tivesses assassinado durante a luta? Respondeu apenas "não sei o que seria de mim" essa nunca fora a sua intenção, mas podia ter acontecido. Quando abrimos uma porta temos aceitar que o fizemos, ter consciência do que fizemos.
ResponderEliminarNão li este. Do autor só li "A Caixa".
ResponderEliminarE tenho na mesa de cabeceira "O Gato e o Rato", que é a continuação do teu "Tambor". ;)
Seria bom que se tocasse tambor, mas para acordar e agir.
Boas leituras!
C.
ResponderEliminarA minha opinião sobre o assunto é exatamente essa. Não é o meu caso, mas conheço muita gente da minha geração e da geração anterior que foi obrigada a pertencer à< mocidade portuguesa. Seria terrivelmente injusto castigá-los por terem sido, eles próprios, vítimas do fascismo.
José, não sei, sinceramente, o que ele Gunter Grass terá feito enquanto colaboracionista, por isso não me posso pronunciar. Mas custa-ma aceitar a ultima frase da tua mensagem; teremos de acarretar sempre com o peso de um erro, ainda por cima, condicionado por um contexto de terror?
Sim, tonsdeazul; era caso para tocar "a rebate". E continuamos a ter essa necessidade. Há dias li uma notícia cujo título era mais ou menos este: setecentos emigrantes ilegais morrem em naufrágio no Mediterrâneo. Eu pensava que eram seres humanos.
E todos os erros da humanidade radicam na desumanização. Toquemos tambor, portanto, mas "a rebate"
Olá Manuel,
ResponderEliminarAinda não li Gunter Grass. Grande falha!
Depois de te ler a ti, decidi que "O Tambor" será a minha primeira escolha.
Abraço.