Estranha e surpreendentemente dececionado, após ter terminado este segundo volume. A ação é menos intensa, o ritma narrativo mais lento e a incerteza no desfecho é menor. Continua a ler-se com muito agrado mas há menos mistério, ficando o livro muito preso à guerra dos cem anos e, principalmente, à Peste Negra.
Isto não impede, obviamente, que o génio de Follett esteja sempre presente, na sua escrita muito clara, fácil e objetiva.
A primeira fase deste segundo volume inicia-se com a abordagem desse enorme acontecimento político que foi o início da guerra dos 100 anos. Os exércitos ingleses invadem a França, pilhando, incendiando, roubando. Follett, inglês, não se deixa levar pelo patriotismo e é até com muito espírito crítico que nos mostra essa realidade, marcada pela afirmação dos interesses e ambições pessoais, num total desprezo pela vida humana. O cruel e ambicioso Ralph encontra nessa guerra o seu ambiente ideal. Como muitos outros… nesse como em todos os tempos, a guerra interessa aos poderosos…
O rei Eduardo III é mesmo descrito como sanguinário em impiedoso, tal como Ralph.
Uma parte do enredo situa-se em Florença, a maior cidade do mundo cristão, graças ao comércio e às manufaturas, principalmente tecidos. Mas era especialmente nas artes e numa nova mentalidade que o norte de Itália já se destacava.
A peste é vista, em parte, -como elemento de equilíbrio num mundo cheio: o excesso de população parece que fazia prever a necessidade de uma “razia” que voltasse a equilibrar pessoas e recursos. Assim, de repente, os homens vêem a morte surgir por todos os lados, intensificando a familiaridade, cada vez maior, da morte.
Um dos aspetos mais peculiares da peste negra que Follett muito bem desenvolve é o desregulamento dos costumes - da prostituição aos flagelantes, tudo parece configurar uma espécie de loucura coletiva gerada por um ambiente de Apocalipse, em que as pessoas misturam de forma estranha a vontade de viver com mais intensidade com a necessidade de uma penitência radical já que poucos duvidavam que a peste era um castigo de Deus pelos próprios pecados; era essa a contradição maior do ser humano: era levado a pecar até à exaustão ao mesmo tempo que assumia a peste como castigo.
Um aspeto que muitas vezes é negligenciado, mesmo pela historiografia: a peste negra, como acontece com todas as crises, teve o dom de despertar novas estratégias de progresso económico; muitos agricultores sobreviventes beneficiaram de um considerável subida dos salários (devido à quebra na oferta de mão de obra) mas principalmente, dá-se uma certa reconversão da agricultura, deixando, em certas zonas, os cereais de serem as colheitas mais vulgares, para dar lugar a culturas inovadoras, como as plantas tintureiras, que ajudariam ao crescimento notável do setor secundário no séc. XV, contribuindo assim de forma direta para a afirmação do movimento renascentista. Na história como na vida, as crises podem ser oportunidades de crescimento.
E o livro termina com uma mensagem velada mas importantíssima: a grande crise do século XIV foi também o momento de arranque de uma nova europa. O velho senhorialismo, no entanto não estava morto; as revoltantes diferenças entre ricos e pobres não desapareceriam com os novos ventos do Renascimento; e nós, quinhentos anos depois, cá estamos para testemunhar como as injustiças persistiram…
Sinopse (in wook.pt):
Não é apenas em Espanha que Ken Follett é um autor bestseller, vendendo cerca de 575.000 exemplares em apenas três dias. Noutros países, como Itália e Alemanha o feito repete-se e por cá, em Portugal, os leitores começam a ganhar avanço e a percorrer as páginas volumosas de um autor de culto. Em O Mundo Sem Fim encontramos Follett ao seu melhor nível, nesta que é a continuação de Os Pilares da Terra, o épico histórico que vendeu 90 milhões de exemplares em todo o mundo. Devido ao seu tamanho, a Presença decidiu dividi-lo em dois volumes distanciados na publicação por um espaço de um mês.
Críticas de imprensa
«A vida medieval retratada com enorme realismo... Faz-nos sentir na pele das personagens. Follett é um grande contador de histórias e, apesar da extensão, é impossível deixar esta epopeia a meio.»
Daily Express
«Uma narrativa para os fãs de O Rei que Foi e Um Dia Será, O Senhor dos Anéis e outras epopeias do género.»
Kirkus Reviews
«Os fãs da anterior epopeia medieval de Follett não ficarão nada desiludidos.»
Este "Mundo Sem Fim" não me entusiasmou tanto como "Os Pilares da Terra". No entanto, conseguiu manter-me ligada à sua história até ao final.
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