Inquietante, perturbadora, a espera da morte.
Zenão será perseguido; por ela e pela ignorância. Das duas, qual a mais tétrica, a mais terrível e impiedosa?
Zenão será condenado por ter sido sempre fiel a si próprio, à sua humanidade, ao bem universal, à verdade. Ao bem por si só!
Mas é vítima do ódio, do egoísmo, da cegueira. Do obscurantismo.
A Obra ao Negro é um testemunho histórico impressionante, de uma época (início do séc. XVI) em que se cruzam a cegueira medieval e os conflitos dos tempos modernos, com a afirmação de novos regimes e Estado, perdidos em constantes guerras e conflitos.
A visão radiosa do Renascimento é abafada pelos conflitos absurdos em torno da questão religioso (fruto da reforma protestante e contra-reforma). Zenão, vítima da sua qualidade de bastardo e de uma família obcecada pelo poder, abandona-se a uma mescla de hedonismo e solidariedade cristã, cultivando a reflexão interior, temperada com o espírito pragmático do renascimento.
Tudo isto só poderia ter um fim: as teias da Inquisição.
Impressionante o estilo. As palavras soam como música, numa linguagem fiel à época, encantadora! As descrições de Yourcenar brilham pelo realismo. O enredo não deixa escapar uma tremenda profundidade dos sentimentos. As reflexões filosóficas são constantes e profundas.
Uma obra magnífica!
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