quinta-feira, 26 de maio de 2016

Em Busca do Tempo Perdido vol. 2 - À sombra das raparigas em flor - Marcel Proust


Comentário:
Neste segundo volume, Proust dá-nos a conhecer a juventude do narrador, numa fase em que este tenta esquecer a sua primeira grande paixão, um amor de infância, Gilberta. No entanto, a sua atitude perante as raparigas com que se depara é sempre algo amorfa, de contemplação, atitude essa que aliada ao seu caráter reflexivo não lhe favorece as artes da sedução. Pelo contrário, o seu caráter tímido, moldado talvez por uma educação demasiado rígida em termos morais leva-o a encarar as raparigas como se fossem obras de arte e não como mulheres a cortejar. Quando, na última fase do livro, consegue finalmente com que Albertina o receba no grupo das raparigas, é ela que lhe dirige a palavra e será sempre ela a conduzir o jogo de sedução.
Também neste segundo livro o tema central é o jogo social; as relações entre burguesia e aristocracia, um jogo que marcou esta época de encruzilhada que é a transição para o século XX. Swan é praticamente proscrito da alta sociedade devido ao seu amor por Odette. O seu lugar é tomado, junto dos pais do jovem narrador, pelo poderoso mas pouco simpático Marquês de Narpoir, um diplomata famoso. A altivez de Narpoir chega a humilhar o narrador (note-se o simbolismo deste pormenor, que conduz a um certo esmagamento do autoconceito do autor), considerando-o incapaz de vir a ser escritor.
Figura central desta primeira parte do livro é Odette; ela desafia o moralismo de uma alta sociedade muito influenciada (também) pelo moralismo burguês herdado do século anterior, aliado a uma espécie de novo clima aristocrático fomentado por países de regimes tradicionais como a Alemanha e a Áustria, muito poderosos neste início de século. 
Swan, o herói do narrador no primeiro volume mostra-se inicialmente contrário ao amor do narrador por Gilberta, mas essa oposição vai desaparecendo à medida que emerge o mais inopinado obstáculo: ele próprio, o narrador. É incrível a capacidade que qualquer ser humano tem para “inventar” obstáculos e “tolher” o seu próprio comportamento. O retrato que Proust no dá de si próprio (não esquecer que o jovem narrador é um alter-ego do autor) é o de um jovem extremamente passivo, mergulhado na sua melancolia, mau grado a crença no seu amor por Gilberta.
Nesta primeira parte do livro o narrador está mergulhado no mundo da aristocracia parisiense, pelo qual parece sentir um misto de admiração deslumbrada e, no plano racional, um sentido crítico em relação aos costumes. Essa admiração passa em grande parte pela veneração que cada vez mais sente por Odette. No entanto, esta Odette é bem diferente da que encontramos no primeiro livro: aí ela é a mulher leviana que “vitimou” Swann, tornando-se este seu verdadeiro escravo. Agora, ela é a mulher autónoma e livre que desafia a própria sociedade nobre. Mas aquele sentimento contraditório que acima referi é muito bem espelhado na figura do tio Charlus, um personagem fortíssimo.
A arte continua a ser uma forma de expressão fascinante para o jovem narrador, nomeadamente a pintura e a arquitetura. O convívio com o pintor Elstir, na segunda metade do livro, vem reforçar esta paixão. A arte não é apenas uma expressão de beleza; é também uma forma de linguagem que desperta o sonho e a imaginação, acabando por se sobrepor a ela, da mesma forma que o pensamento se sobrepõe ao real e às coisas comuns do quotidiano.
No final do livro é com surpresa que encontramos um narrador desinibido, feliz entre as raparigas e apaixonado por Albertina. Mas a força da moralidade e do pudor eram de tal ordem naquele contexto social que mesmo tendo tido acesso ao quarto de hotel de Albertina, o jovem narrador nem um beijo no rosto conseguiu. Mesmo assim ficou extasiado com a sublime visão… do pescoço de Albertina!

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Em Busca do Tempo Perdido, vol. I - No caminho de Swann - Marcel Proust


Comentário:
Este é o primeiro dos sete livros que compõem Em Busca do Tempo Perdido, uma das obras mais marcantes de toda a história da literatura mundial.
Antes de mais quero desenganar os potenciais leitores dizendo que, de facto, é uma leitura exigente. Difícil, mesmo. Esta dificuldade tem também a ver com os frequentes saltos temporais que exigem uma atenção especial por parte de quem lê. Para compreender corretamente o que Proust diz e quer dizer é necessário ler, por vezes reler e refletir. A linguagem em estilo de prosa poética aprofunda essa dificuldade.
Mas são as montanhas mais altas que fornecem as mais belas paisagens; ler este livro é um desafio que compensa pela beleza do texto mas também pela própria narrativa. Mas essa poesia também potencia o prazer de ler. Mesmo que lendo por ler, sem preocupações com a narrativa.
Já neste primeiro volume é nítida a influência de Bergson, o criador do intuicionismo; na verdade há uma espécie de primazia do pensamento; o homem é aquilo que pensa. A própria vida social (principal tema deste volume) é determinada pela forma como o sujeito apreende a personalidade dos seus pares: “A nossa personalidade social é uma criação do pensamento alheio”, diz Proust.
Uma espécie de ponto comum com um dos seus maiores ídolos, Baudelaire, Proust dá ênfase especial à crítica da sociedade. O formalismo, a atitude algo hipócrita das personagens, o seu caráter frívolo, são alguns dos aspetos apontados à sociedade parisiense do início do século XX. A própria educação do jovem narrador (alter-ego do autor) é baseada nesse formalismo aristocrático, com uma acentuada severidade dos costumes. No entanto, essa educação não deixa de distinguir o essencial do fútil; há aqui como que uma contradição – cultiva-se a aparência mas há uma consciência da necessidade da busca do essencial. Dessa forma, o jovem vai mesmo mais além do que a educação lhe forneceu. Ele cultiva a reflexão baseando-se em grande parte na função pedagógica da arte e do romance.
O predomínio da mente está patente, por exemplo, na forma como a arte é encarada; uma catedral gótica, por exemplo, é descrita pelas sensações que causa na mente de quem a aprecia, mais do que pelas suas caraterísticas arquitetónicas. Mesmo nas descrições naturalistas – paisagens, a floresta, o rio – o acento tónico é colocado nas sensações e impressões que suscitam.
O título deste volume remete para uma personagem fortíssima no livro que é um cavalheiro aristocrata de nome Swann profundamente admirada pelo jovem narrador (nunca nomeado, ele é uma criança cuja caraterização pode ter sido baseada no próprio Proust). Swann vivia perto da família do jovem e um dos caminhos de acesso à propriedade dessa família passava pela casa de Swann, daí “O caminho de Swann”. Mas este título tem um duplo significado: o jovem admira Swann e tenta seguir o seu caminho.
Swann é um cavalheiro muito bem colocado na alta sociedade, privando mesmo com príncipes. No entanto, apaixona-se por uma mulher, Odette. E Proust utiliza essa relação para deixar clara a sua crítica ao amor romântico e ao casamento: Swnn perde a sua personalidade nesse amor; pior que isso, deixa de ser bem visto na sociedade porque a “fama” de Odette era má. Tudo isto talvez tenha algo a ver com a condição homossexual de Proust, que via a heterossexualidade de uma forma muito crítica. Mesmo o jovem narrador, admirador de Swann acaba por seguir as suas pisadas e deixar-se levar pelo amor, curiosamente pela filha de Swann. A condição feminina não é muito valorizada pelo autor; o jovem tem um amor sublime pela mãe, sonhando todos os dias com o momento em que ela o beijará à noite, mas, pelo contrário, Odette é vista como algo pérfida e a maioria das personagens femininas secundárias são pouco valorizadas, dando demasiada atenção às aparências. Proust deixa bem claro que a verdadeira beleza não está no feminino mas na arte e na natureza.
Em conclusão, estamos perante uma obra profundamente reflexiva, filosófica nos temas abordados e poética na linguagem. No entanto, a narrativa de romance dá-lhe alguma leveza e convida à leitura. Por outro lado há que ter em conta o marco imenso que a obra constitui na História. Mas os próximos livros certamente continuarão a testemunhar os motivos desta importância.
Magnífica tradução de Mário Quintana nesta velhinha edição da mítica coleção Dois Mundos.

Sinopse (in Folha de S. Paulo - http://biblioteca.folha.com.br):
"Cessara de me sentir medíocre, contingente, mortal. De onde me teria vindo aquela poderosa alegria?"
Com estas duas frases, o narrador de Em Busca do Tempo Perdido registra o momento de epifania que o fará reconstituir toda sua vida, desde a remota infância até a maturidade.
A cena é aquela em que a personagem mergulha um pedaço de bolo --a famosa madeleine-- numa xícara de chá e, a partir daí, se deixa transportar pela memória. Está no começo de No Caminho de Swann, volume inicial do mais importante ciclo romanesco do século 20.
Lançado por Marcel Proust em 1913, depois de ter sido recusado pelas principais editoras francesas, este livro se concentra no período de formação do protagonista: o amor intenso pela mãe e a pouca simpatia pelo pai; o ambiente familiar dominado por mulheres; os sentimentos precoces de ódio e de culpa; as temporadas na provinciana Combray, com suas histórias locais; os primeiros contatos com pessoas que iriam viver, envelhecer e desaparecer sob os olhos do narrador.
Entre as muitas figuras que povoam o mundo de Proust, neste volume se destacam o rico sr. Charles Swann e a jovem e sedutora Odette de Crécy (casal interpretado no cinema por Jeremy Irons e Ornella Muti, numa adaptação do diretor alemão Volker Schlöndorff). O capítulo "Um Amor de Swann" é quase um romance à parte: um magistral estudo sobre o ciúme, talvez o melhor que a literatura já produziu.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

A Mão e a Luva - Machado de Assis


Comentário:
Os “ismos” são sempre reducionistas e às vezes, como neste caso, são mentirosos. Machado de Assis é muitas vezes encaixado na escola romântica, numa primeira fase da carreira literária e, depois, numa fase mais “madura”, no realismo. Pois a mim, leitor pouco conhecedor de teorias literárias, parece-me que Machado de Assis nunca foi nem romântico nem realista. Machado de Assis é um daqueles génios que não encaixa em escolas; o seu estilo é, pura e simplesmente, Machado de Assis. E então o que tem ele de peculiar, especificamente nesta obra? Acima de tudo, interessa-lhe a vida interior das personagens; é por isso que os seus livros são considerados percursores do romance psicológico.
No caso deste livro, a crítica literária teima em encaixá-lo na escola romântica. Trata-se, de facto de um enredo que, vistas as coisas “ao longe” pode assim parecer; está lá o triângulo amoroso (ou o quadrado?), está lá o sentimento, a emoção em vez da razão. Mas não estão lá o final feliz ou o bucolismo, enfim, não é uma obra tipicamente romântica. Uma passagem que testemunha precisamente este afastamento em relação ao romantismo: “o homem, ser complexo, vive não só do que ama, mas também (força é dizê-lo) do que come”

Trata-se do segundo livro do autor, publicado em 1874 e que revela, por isso, uma certa ingenuidade, principalmente no que respeita ao enredo, com os inevitáveis “chavões” românticos. Mesmo assim, o futuro romance psicológico revela aqui já algumas raízes, ao nível da caraterização das personagens; Luís é a voz da razão, da sobriedade e de um certo calculismo, enquanto Estevão é emoção acima de tudo, é impulso, é a voz do coração. Jorge vem completar o quadro fornecendo uma personagem frívola, exterior, marcada pela etiqueta e pela aparência. Guiomar é muito mais que uma personagem de história romântica: é uma mulher culta, com uma personalidade fortíssima, bem longe da ingenuidade romântica das personagens de Júlio Dinis, por exemplo.
O estilo de Machado de Assis neste primeira fase da sua carreira é muito objetivo, límpido, assumindo uma espécie de diálogo com o leitor
Enfim, estamos perante um livro simples e agradável, de leitura rápida; um livro despretensioso mas onde estão já as marcas do génio do grande escritor brasileiro.

terça-feira, 10 de maio de 2016

O Museu da Inocência - Orhan Pamuk



Em termos formais estamos perante um romance perfeito; a estrutura da obra é muito bem conseguida, dividida em cerca de oitenta pequenos capítulos e com uma coesão interna em termos de enredo que fazem deste livro um romance agradável de ler, mau grado o seu grande tamanho.
O pano de fundo é fornecido pela Turquia do último quartel do século XX (a maior parte do enredo passa-se em 1975). Este país, encruzilhada entre a Europa e a Ásia vivia uma época de grandes conflitos internos. Para lá dos eternos e conhecidos conflitos religiosos, vivia-se uma fase de quase guerra civil, com confrontos frequentes entre extremistas de direita e de esquerda. Perante isto, o governo respondia com um autêntico estado de sítio, com recolher obrigatório e um poder discricionário por parte das autoridades. 
É sobre este pano de fundo que decorre uma história de amor marcada pelo insucesso. Kemal, o herói do livro, é o homem ofuscado pelo amor por Füsun, doze anos mais jovem e, pior que tudo, proveniente de um grupo social inferior. Estamos assim perante o tradicional confronto com a sociedade que nos seus extratos mais altos aceita mal esta união mas, muito mais que isso, estamos perante uma união frustrada pelo destino; esta frustração, aliada a um amor alienado, conduzem Kemal a esse projeto que ele vai pondo em prática de colecionar tudo o que direta ou indiretamente dizia respeito a Füsun, colecionando milhares de objetos que constituirão o seu Museu da Inocência.
Por trás deste enredo está uma magnífica reflexão sobre o destino humano que por vezes construímos sobre sonhos que se revelam quimeras.
Despersonalização e Intemporalidade são dois palavrões que podem servir de síntese à mensagem deste livro. Kemal submete-se a um sentimento que, paulatinamente, vai tomando posse de si, da totalidade do seu ser. Nada mais faz sentido fora daquilo que se relacione com Füsun. E Kemal escraviza-se ao sentimento. Despersonaliza-se.
Por outro lado, ao contar a história na fase final da sua vida, é nítido o imenso peso do passado na vida de Kemal; esse tempo passado é outra forma de escravatura: a tirania do tempo a contribuir para a anulação do Eu. E Kemal procura essa intemporalidade; procura como que uma eternização do passado, uma negação da mudança, uma paragem no tempo; uma intemporalidade. O recurso ao cinema é outra metáfora usada pelo autor para reforçar essa ideia de intemporalidade: os filmes são uma forma de manter o passado presente, da mesma forma que o museu; ao optar pelo colecionismo de tudo quanto se relacionasse com Füsun, Kemal não procura mais que essa intemporalidade, esse perpetuar da sua própria despersonalização. Na página 509 desta edição Presença, o autor usa uma expressão que de uma forma muito bela sintetiza o estado de espírito de Kemal: PRESO NUM SONHO.


Sinopse: (in wook.pt)
O Museu da Inocência é uma história de amor, passada em Istambul, entre a Primavera de 1975 e os últimos anos do século XX, e conta a história da paixão obsessiva do herdeiro de uma família rica, Kemal, por uma prima afastada, Füsun, de um meio social menos favorecido. Mas Kemal está noivo da filha de uma das famílias da elite istambulense. Entretanto, Kemal começa a coleccionar objectos pessoais e outros que lhe fazem lembrar a sua amada. Esses objectos são simultaneamente um fetiche e uma crónica da sua felicidade e das mágoas, um mapa de sinais de todos os sítios onde estiveram juntos. Com o tempo, a compulsão do coleccionador acabará por dar origem a verdadeiro museu, que também permite explorar uma Istambul meio ocidental e meio tradicional, a sua emergente modernidade e a sua vastíssima história e cultura.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Margarita e o Mestre - Mikhail Bulgakov


Comentário:
Empolgante e genial são os adjetivos que me ocorrem para caraterizar esta obra-prima de Bulgakov. Esta é a grande literatura russa, na senda dos grandes mestres do século XIX, Lev Tolstoi e Fiodor Dostoievski.
O enredo do livro passa-se nos anos vinte, já em plena ditadura de Estaline. Descreve-se a vinda de Satanás à terra, com um séquito muito peculiar. Nitidamente para nós, o diabo, Woland, é uma referência corajosa mas bem disfarçada a Estaline. Por esta razão o livro foi proibido e só viria a ser publicado, ainda assim numa versão mutilada, nos anos sessenta. 
Como se vê, todo o livro é uma autêntica metáfora da situação que se vivia na União Soviética. Muitas vezes, os membros do séquito assumem um papel mais ativo que Woland, como acontece com qualquer regime ditatorial, em que o ditador se protege por trás de meia dúzia de “testas de ferro”. De resto, todos os componentes do regime de Estaline estão representados no livro: o hospital psiquiátrico para onde são enviados as vítimas de Woland é a metáfora dos locais para onde eram enviados os perseguidos do regime, tanto campos de trabalho como instituições psiquiátricas; os opositores ao regime são perseguidos da mesma forma que no livro são severamente castigados os que se opõem a Woland. 
Um dos aspetos fundamentais do livro é aquilo que se passa com o Mestre e com a sua amante, Margarita. Estes personagens, embora constituam o título da obra, só aparecem a partir do meio do livro, sensivelmente. O que os carateriza é o pacto com o Diabo; só assim o Mestre consegue publicar a sua obra e o seu amor por Margarita é permitido; é evidente a representação, aqui, dos artistas, escritores ou outras personalidades que só conseguiram “sobreviver” pactuando com Estaline e o seu regime.
Mas o livro vai mais longe do que uma metáfora do regime estalinista; é uma intensa reflexão sobre a luta entre o Bem e o Mal. Até que ponto o ser humano consegue ser feliz vivendo honestamente e procurando a virtude? Até que ponto vale a pena lutar contra demónios se a felicidade pode passar com uma simples convivência com o mal, aceitando-o como uma realidade incontornável? Para Bulgakov talvez estas questões se resumissem ao dilema que certamente sentiu sempre presente ao longo da sua vida: até que ponto vale a pena ser resistente e lutar por um ideal?
Por outro lado, até que ponto o mundo real não é uma construção onírica? Até que ponto a realidade concreta existe tal como nós a vemos, não sendo profundamente deturpada pela nossa mente, pelo menos em situações-limite?
Em termos de estilo, a escrita de Bulgakov é profundamente realista, o que torna a leitura bastante fluida e agradável; o enredo é por vezes empolgante, com aquele suspense que nos faz devorar as páginas do livro. A linguagem cuidada e precisa é acompanhada por um sentido de humor notável, muitas vezes verdadeiro humor negro, reforçando o prazer de ler. 
Sem dúvida, estamos perante um clássico da grande literatura russa, que merece ser lido por todos quantos apreciam a melhor literatura.

Sinopse (in wook.pt)
Margarita e o Mestre publicado pela primeira vez na revista Moskva, mais de vinte anos após a morte do autor — a primeira parte em Novembro de 1966 e a segunda em Janeiro do ano seguinte. Mikhail Bulgákov trabalhara nesta sua obra durante mais de dez anos, tendo escrito diferentes versões. A última foi ditada à sua companheira Elena Bulgákova, quando o autor se encontrava já muito doente, em Março de 1940. O romance é composto por duas narrativas ligadas entre si — uma passa-se na Moscovo dos anos 30 e a outra na Jerusalém antiga. As personagens são estranhas, complexas, ambíguas e algumas delas sobrenaturais, como Woland. As principais são o Mestre e a sua amante, Margarita. Como afirma Samuel Thomas, «o romance pulsa de maliciosa energia e invenção. Por vezes uma dura sátira da vida soviética, uma alegoria religiosa da dimensão do Fausto, de Goethe, e uma indomável fantasia burlesca, é uma obra de riso e terror, de liberdade e servidão — um romance que explode as verdades oficiais com a força de um carnaval descontrolado». A primeira edição desta tradução foi publicada em 1991, estando há muito esgotada. Esta nova edição, integralmente revista pelo tradutor, António Pescada, inclui as alterações que constam nas recentemente publicadas Obras Completas de Mikhail Bulgákov.

segunda-feira, 2 de maio de 2016

A Ilha das Vozes - Robert Louis Stevenson



Comentário:
Robert Louis Stevenson foi, antes de ser escritor, um grande aventureiro. Viveu muitos anos nas ilhas do Pacífico, ao que consta por motivos de saúde. O certo é que na escrita de Stevenson se nota um verdadeiro encantamento pelas ilhas e pelos seus mistérios. O seu livro maior, que qualquer amante dos livros conhece, é A Ilha do Tesouro, que fez dele um dos escritores mais famosos de sempre ao nível da literatura de aventuras e mistério.
Stevenson viveu no século XIX, tendo falecido em 1894, pelo que se pode incluir entre os grandes pioneiros da grande literatura europeia de ficção. 
Esta velhinha edição Cotovia (1988) inclui três contos, tendo como denominador comum um enredo que se desenvolve em ilhas fantásticas. O primeiro conto dá título à obra, A Ilha das Vozes, o segundo, que é o mais longo, intitula-se A Praia de Falesá e o último dá pelo título de O Diabrete da Garrafa. O primeiro conto é sem dúvida o mais estruturado, mais bem conseguido pela imaginação, pela criatividade e pelo inesperado das situações. Digamos que este conto está a meio caminho entre a literatura de aventuras e a ficção de terror. Situações tenebrosas, episódios destinados a assustar os leitores mais incautos mas, acima de tudo, a mais pura prosa de aventuras. 
O segundo conto é um longo exercício de criatividade cheio de aventura e suspense. O que mais nos surpreende neste conto é a criatividade imensa do autor; ficamos a perguntar a nós próprios onde é que Stevenson foi buscar tantas e tão estranhas ideias.
O terceiro conto é dos mais divertidos que li até hoje. Trata-se da estória incrível de uma garrafa com um génio dentro, um diabrete, que podia fazer a fortuna e a felicidade de quem possuísse a dita garrafa mas, ao mesmo tempo, obrigava o proprietário a vendê-la; se não encontrasse comprador as consequências podiam ser terríveis; como se imagina isto levava a situações verdadeiramente rocambolescas.
Em suma, ler Stevenson é uma verdadeira diversão, capaz de nos levar de volta à juventude.