terça-feira, 5 de março de 2013

O Noventa e Três - Victor Hugo




Até onde pode um ser humano chegar, quando se encontra nas situações mais extremas que se podem imaginar? Esta pergunta poderia ser o subtítulo desta obra. O extremo do sofrimento, o limiar da raiva contida, o limite da injustiça… tudo neste livro nos faz tremer; é inacreditável até onde pode chegar o ódio, a violência do ser humano sobre o seu semelhante, em nome de ideais que por vezes nem se conhecem, por obediência a líderes que nada têm de benevolentes.
A luta contra a injustiça e a denúncia de uma sociedade fundada sobre a desigualdade, conferem a Victor Hugo o estatuto de escritor revolucionário mas, acima de tudo um grande e profundo humanista. A sua própria dor sente-se nas linhas da sua escrita. A dor de quem escreve com alma, com a paixão pelos ideais da Revolução francesa, mas com toda a consciência dos excessos dos próprios revolucionários que, em nome da justiça não hesitavam em cometer os mesmos crimes e a praticar a mesma violência.
Gouvin é o herói romântico que Hugo escolheu para representar o revolucionário que, esse sim, procurou combater o mal com o bem. Acabará mal, como é lógico.
O enredo desenrola-se no ano do título, em plena guerra da Vendeia, que opôs os revolucionários republicanos, herdeiros da Revolução Francesa, proclamando os ideias de Liberdade, Igualdade e Fraternidade e, do outro lado, os realistas, saudosistas da monarquia, com o apoio dos interesseiros ingleses.
Um dos aspetos que mais impressiona o leitor, nesta obra, é desapego dos personagens em relação à própria vida; é a forma por vezes heroica, outras vezes louca como enfrentam a violência do inimigo, com que se expõem às balas. E no meio de heróis uns e idealistas outros, o povo de pé descalço; milhões de soldados miseráveis jogando a vida como se a morte fosse o destino fatal de uma procura a que chamam vida.
Escrito em 1874, quando V. Hugo contava já 72 anos, este livro é o culminar de uma carreira literária brilhante; é a súmula de uma imensa obra, onde brilham estrelas como Os Miseráveis e Nossa Senhora de Paris. Sem a profundidade histórica do Corcunda de Notre Damme e sem a beleza e a profundidade de Os Miseráveis, este O Noventa e Três compensa o leitor com um ritmo narrativo alucinante, privilegiando os diálogos e a emoção do enredo.
Sem dúvida, mais uma obra grandiosa da enorme literatura francesa do século XIX.
Obrigatório para quem aprecia a grande literatura universal.
Nota dez em dez.

4 comentários:

susemad disse...

Gostei imenso desta obra de Victor Hugo! Ainda não li "Os Miseráveis", nem "Nossa Senhora de Paris", mas lembro-me que quando li este "O Noventa e Três", senti que tinha terminado de ler algo completamente extraordinário.

Unknown disse...

é isso, tonsdeazul. E essa sensação que tiveste (e que eu também tive) foi reforçada pela habilidade que VH tem em criar grandes finais, cheios de emoção.
É um escritor formidável sem dúvidas. O Nossa Senhora de Paris, também conhecido pelo nome usado na animação (O Corcunda de Notre Dame) é um livro algo chato pelas análises históricas exaustivas, mas Os Miseráveis vais adorar. Tenho a certeza!

Anónimo disse...

Realmente, entre todas as obras relevantes de vitor está encontra-se em seu maior grau de maturidade literária: um primor de leitura. Aos apaixonados por hugo, diria que aí se encontra, sem rebuços, sua melhor obra. E parabéns, Manuel, pelo post sempre maravilhoso quando se fala em Vitor Hugo. (Ian André)

Fernanda Huguenin disse...

Oi Manuel! Não cheguei a ler o livro "Noventa e três" mas seu texto me deu muita curiosidade sobre ele! Do V.Hugo cheguei a ler "Notre-Dame de Paris" que achei muito cansativo ,mas que no geral me agradou, e "O homem que ri", que entrou pra lista dos livros clássicos prediletos. :)