. O que um escritor nos dá não são livros. O que ele nos dá, por via da escrita, é um mundo. Mia Couto
terça-feira, 14 de setembro de 2004
Trilogia de Nova Iorque - Paul Auster
Quinn é Max e William Wilson. Mas é também... Paul Auster. O problema da identidade. Sempre. Uma fixação. Todas as três partes que compõem o livro são histórias de alienação e do seu sucedâneo, de ténues fronteiras, a loucura. Na grande cidade, toda ela alienada, Quinn perde a identidade, refugia-se como uma criança abandonada no "caso Stillman", como se ele passasse a preencher toda a sua vida, até ao ponto em que o real e o onírico se cruzam, onde o absurdo de Kafka se cruza com a loucura de Dostoievsky, passando pela solidão de Faulkener. A função do detective privado é uma metáfora da vida na grande cidade: alienação total, ao ponto da perda quase completa da noção de si mesmo, do auto-conhecimento, sempre perseguido e sempre inatingível. Os próprios laços de parentesco são muito mais frágeis do que os nós criados pela imprevisibilidade do espírito e pelo aleatório da vida. Esses sim são laços fortes, capazes de conduzir à alienação. Na terceira parte é quase chocante a forma como Auster dessacraliza a relação filial e conjugal, subjugadas cruelmente às obcessões construídas pela mente do narrador. Toda esta neutralização do sujeito conduz também ao egoísmo: o sujeito acaba por se transformar numa espécie de autómato, incapaz de sentir os problemas daqueles que o rodeiam. Neste sentido, a obra é profundamente pessimista.
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5 comentários:
Gostei do seu blog. Ainda ñ li tudo, voltarei.
Só ñ concordei na integra na análise que faz do Equador...
Um apontamento, se me permite, triologia ñ existe na nossa língua. Pretendeu escrever trilogia certamente. Acontece... ao seu critério.
Um abraço
Obrigado pelo elogio que faz a estes modestos apontamentos e também pela observação ao lapso. Este, foi corrigido.
Volte sempre :)
Este foi o primeiro e único livro que li de Paul Auster, mas foi o suficiente para me deixar com curiosidade em voltar a lê-lo!
Vejo que é um dos escritores que gosta de ler... Que outra obra de Auster me aconselha?
De facto, adoro Paul Auster; é um magnifico contador de histórias, sem nunca deixar de ir fundo nas “catacumbas” da alma humana. Já li quase tudo o que havia para ler de Auster. Quanto a um conselho, é difícil porque a sua obra é muito multifacetada… uma leitura mais introspectiva, Viagens ao Scriptorium ou Inventar a Solidão; livros com um enredo mais linear, menos introspectivo, Mr. Vertigo ou Musica do Acaso; uma fábula linda é Timbuktu; um estilo mais cinematográfico em O Livro das Ilusões, uma obra fantástica. E aquele que é, talvez, o meu preferido, As Loucuras de Brooklin, pela profundidade psicológica dos personagens.
:) Obrigada pelas dicas. Numa próxima visita a uma livraria irei trazer com certeza um destes. Penso que vou optar pelo último "As Loucuras de Brooklin" ou talvez pelo "O Livro das Ilusões".
Boas leituras!
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