Sinopse:
Naquele que é justamente considerado o primeiro romance policial português, conta-se a história de um médico que regressa de Sintra acompanhado por um amigo. A meio do caminho, ambos são raptados por um grupo de mascarados, que os levam para um prédio isolado onde aparecera um homem morto. A partir daí, os acontecimentos sucedem-se em catadupa. Quem é o morto e quem o matou? E porquê? Quem era a mulher com quem ele se encontrava, e quem são os mascarados que pretendem proteger a sua honra? A história foi publicada no Diário de Notícias entre Julho e Setembro de 1870 sob a forma de cartas anónimas, e foram muitos os que se assustaram com os acontecimentos narrados. Só no final é que Eça de Queirós e Ramalho Ortigão admitiram tratar-se de uma brincadeira e que eram eles os autores das cartas.
Comentário:
(no âmbito das leituras conjuntas do blogue Destante)
Uma paixão desmedida, uma mulher adultera, uma viagem
num navio a vapor e, cereja em cima do bolo, um crime com requintes de absurdo
e de mistério. Aqui estão os ingredientes para este Mistério da Estrada de
Sintra, que será o primeiro livro de vulto publicado por Eça de Queirós, em
parceria com Ramalho Ortigão com quem escreveria, a partir do ano seguinte
(1871) essa obra genial que é As Farpas. O grande mestre da literatura
portuguesa publicou este livro com apenas vinte e cinco anos. Talvez isto
explique algum carater ingénuo que se “lê” nesta obra. Mesmo assim, é uma
publicação histórica: trata-se da primeira narrativa policial da história da
literatura portuguesa, talvez influenciado pelos contos de Edgar Allan Poe que
Eça certamente leu. Por outro lado é nítida a influência da escrita realista
francesa, nomeadamente de Flaubert, que Eça lia e admirava.
No entanto, parece óbvia uma certa vontade de
ridicularizar a escrita romântica então em voga em Portugal, nomeadamente os
grandes dramas do coração que redundam em tragédias “de faca e alguidar”. Ou
seja: Eça e Ortigão conseguem criar uma obra histórica ao nível do romance
policial e, ao mesmo tempo caricatura a realidade literária portuguesa daquele
tempo.
Trata-se de um livro em que Eça revela já uma
propensão nítida para a ironia e a sátira, caricaturando os costumes burgueses
e da classe média lisboeta: o marido ausente e a mulher que, sem ocupações
úteis, se expõe às tentações da carne. Assim, a protagonista, a condessa W. é
uma espécie de mistura entre a Madame Bovary de Flaubert e o jovem Werther de
Goethe: comete adultério mas acaba por cair na depressão do remorso, da culpa e
vítima de si própria.
Em termos de estilo, estamos longe das páginas mais
brilhantes de Eça de Queirós: as descrições são por vezes demasiado exaustivas
e o ritmo narrativo é por vezes demasiado lento. No entanto, o livro vale pelo
seu caráter pioneiro e pela crítica social que esta dupla de grandes escritores
trariam à cena com as brilhantes “Farpas”.
3 comentários:
Gosto do escritor e amo Sintra...
Deixo o meu comentário pois, longe de me comparar a Eça, escrevi também um Romance sobre esta bela vila.
Quem aprecia Sintra e o mistério envolvente, talvez o leia com prazer:
'O Segredo da Serra da Lua'.
Sou nova nestas andanças, pelo que desculpem a publicidade.
Boas leituras
C.S.
Gosto do escritor e amo Sintra...
Deixo o meu comentário pois, longe de me comparar a Eça, escrevi também um Romance sobre esta bela vila.
Quem aprecia Sintra e o mistério envolvente, talvez o leia com prazer:
'O Segredo da Serra da Lua'.
Sou nova nestas andanças, pelo que desculpem a publicidade.
Boas leituras
C.S.
Não tem de pedir desculpa, Carolina. Eu também gosto muito de Eça e de Sintra, pelo que vou procurar o seu livro. Um abraço
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