segunda-feira, 4 de julho de 2016

Vidas Secas - Graciliano Ramos



Comentário:
Foi o primeiro livro que li deste autor brasileiro e devo dizer que fiquei maravilhado. Trata-se de uma história singela, simples mas terrivelmente dramática de uma família sertaneja, uma família sem terra, à procura de um meio de sobrevivência no inclemente sertão brasileiro.
Escrito numa época de ditadura (livro escrito em 1938, ditadura de Getúlio Vargas), toda a obra constitui um grito abafado de revolta, face a todo um contexto que dita uma miséria inenarrável da família. E esse contexto pode sintetizar-se em 3 elementos: o tempo, a autoridade e a sociedade. O tempo, inclemente, ameaça com a seca que mata homens e animais; a autoridade, aqui representada pelo bárbaro soldado amarelo, impõe a lei injusta, a que o personagem principal obedece mas que o explora e o pune injustamente; a sociedade como que empurra a família para a solidão: o dono das terras é injusto e explora a família que se vê forçada a procurar terra noutras paragens; na cidade para onde a família se desloca num dado momento, eles sentem ainda mais a solidão; só encontram um pouco de paz na igreja. De resto, a ameaça da injustiça está por todo o lado. Esta dimensão social, esta necessidade de intervir na realidade social faz-me pensar numa eventual influência dos escritores existencialistas franceses ou então nos nossos neorrealistas que, nessa época, começavam a fazer-se notar em Portugal.
Enfim, estamos perante todo um retrato de injustiça, de revolta surda, de miséria total. A família de Fabiano deixa o leitor emocionado pela miséria em que cai e da qual não consegue sair. A essa miséria junta-se a incrível solidão de cada um dos personagens – Fabiano sonha com uma terra, Sinhá Vitória, a mulher, sonha com um a cama de couro e as crianças não sonham – vivem a miséria como se não houvesse outro mundo.

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