Comentário:
A meio caminho entre a leveza de Murakami e o misticismo de Mishima, este Nobel da literatura japonesa adota um estilo simbólico, uma escrita por vezes enigmática onde significante e significado nem sempre são reconhecíveis numa leitura leve.
A estória é, na sua globalidade, uma espécie de metáfora da memória. A morte, mais especificamente o suicídio, é um tema recorrente na literatura e na arte japonesa em geral; veja-se a recorrência deste tema no cinema japonês, por exemplo. Aqui, Goro morre mas sobrevive nas cassetes do Tagame (este é o nome dado ao gravador de áudio que Kogito usava para ler as exposições orais de seu cunhado e amigo Goro). Quando Goro se suicida, a sua existência como que persiste nas cassetes e a sua memória é perpetuada na mente de Kogito, nos sucessivos flash-backs em que toda a vida dos dois amigos é revivida. O diálogo com Goro é assim mantido após a sua morte, numa afirmação da vida depois da morte; o Tagame torna-se o testemunho da eternidade. O pensamento, a reflexão, a perspetiva analítica e crítica perante a vida conferem à obra uma dimensão mística que não deixa de lembrar Mishima, na sua melancolia e misticismo. Note-se o nome Kogito, derivado do Cogito de Descartes; Kogito é aquele que pensa, aquele que existe porque pensa e o pensamento é uma espécie de perpetuação da vida.
Um outro tema central nesta obra, que lhe dá também uma dimensão autobiográfica é a relação do ser humano com a fama; Kogito é um escritor de sucesso; Goro é um realizador de cinema muito bem-sucedido; a perpetuação da memória, a prevalência da obra de arte na sua dimensão intemporal, são assuntos recorrentes no livro.
Temas menos simbólicos, mais objetivos, também têm lugar nesta obra, como é o caso da denúncia do terror da Yakuza, a máfia japonesa de que Kogito e Goro também são vítimas.
Em suma trata-se de um livro cheio de simbolismo, numa linguagem algo enigmática, em que o ritmo narrativo é lento e a estória acaba por ser colocada em segundo plano face a esse mesmo simbolismo e também à multiplicidade de temas abordados.
SINOPSE (in wook.pt)
As Regras do Tagame é uma notável história de amizade, perda e ambição artística que confirma Kenzaburo Oe como um dos maiores talentos do nosso tempo. Nele, o autor combina magistralmente ficção e realidade, refletindo sobre a condição humana e os temas que dão forma ao leitmotiv da sua obra: a incompreensão, a violência e a identidade.
Quando Goro, um prestigiado realizador, se suicida, o escritor Kogito, seu cunhado e amigo, fica destroçado. Goro tinha enviado a Kogito várias cassetes nas quais gravara reflexões sobre a amizade que os unia. Uma noite, Kogito escuta no Tagame uma gravação perturbadora. «Agora vou passar para o Outro Lado», anuncia Goro, e ouve-se um estrondo. Passado um momento de silêncio, a voz de Goro continua: «Mas não te preocupes, não vou deixar de comunicar contigo.» Instantes depois, a mulher de Kogito informa-o de que Goro se suicidara.
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