Comentário:
Um livro surpreendente pela sua beleza e simplicidade. Esteticamente, é uma perfeita obra de arte; o ritmo narrativo é alucinante, a escrita é límpida e a simplicidade do enredo contribui para que a mensagem passe com clareza e eficácia. O assunto da obra é muito claro: o desajuste e a revolta de um jovem, Holden, um adolescente de 16 anos, perante a sociedade norte-americana do pós guerra. Na verdade, o enredo podia muito bem situar-se nos nossos dias; o que está em jogo é muito mais do que o eterno conflito de gerações; é a crítica ao sistema educativo mas, mais do que isso, à incapacidade que a sociedade revela para enquadrar os seus jovens e oferecer-lhes uma perspetiva de futuro. Os pais de Holden são abastados e aparentemente realizados e bem sucedidos em termos materiais. Mas o relacionamento com os filhos é totalmente frio e distante. O protagonista é um ser inteligente, sensível e com uma bondade natural por vezes emocionante. Mas tudo o que o rodeia é desprovido de sentido e de esperança. A sua revolta é um processo surdo, contido, como se a própria revolta fosse, também ela, desprovida de esperança.
A ligação de Holden aos irmãos, principalmente à irmã Phoebe, é enternecedora. Na verdade, grande parte da beleza estética deste livro está na bondade natural dos personagens jovens, em contraste com o egoísmo e uma certa perfídia interesseira dos adultos. Isto reflecte uma perspetiva notável de crítica social: quase todos os personagens que vão aparecendo na vida de Holden são ignorantes e mesmo estúpidos.
A ausência de futuro, a morte da esperança configuram a desmistificação do sonho americano, ao ponto de em algumas épocas ter sido uma obra perseguida e mesmo proibida em alguns setores mais conservadores da sociedade.
Em suma, um livro muito interessante, a confirmar a notável capacidade crítica dos grandes escritores norte americanos. Aliás, este livro, publicado em 19651, foi o primeiro responsável pela afirmação de Salinger como um dos nomes maiores de literatura americana do século XX.
O livro conta as aventuras de Holden Caulfield, um rapaz de 16 anos, que ao ter de deixar o colégio interno que frequenta, mas receoso de enfrentar a fúria dos pais, decide passar uns dias em Nova Iorque até começarem as férias de Natal e poder voltar para casa.
Confuso, inseguro, incapaz de reconhecer a sua própria sensibilidade e fragilidade, Holden percorre nesses dias um intrincado labirinto de emoções e experiências, encontrando as mais diversas pessoas, como taxistas, freiras e prostitutas, e envolvendo-se em situações para as quais não está preparado.
"À Espera no Centeio" é contado na primeira pessoa. Ao fazer esta opção, Salinger introduz na literatura americana os recursos da oralidade, com a linguagem espontânea, o calão, os palavrões, o bordão das repetições frequentes, o humor inconsciente, procedendo a uma verdadeira revolução literária, que tornou o livro num clássico da literatura americana do pós-guerra.
Publicada pela primeira vez em 1951, À Espera no Centeio é a mais marcante obra de J. D. Salinger, e uma das mais controversas da história da literatura norte-americana após a II Guerra Mundial. Foi constantemente censurada e banida das escolas, livrarias e bibliotecas dos EUA devido ao seu conteúdo profano, à abordagem que faz do sexo e à forma como rejeita alguns dos ideais americanos.
3 comentários:
Só nunca percebi a causa de tanta polémica e interdição do livro em tantos locais nos EUA, gostei muito dele, embora por toda a polémica em torno da obra estava à espera de algo ousado, afinal sai-me uma obra ternurenta sobre os sonhos de um adolescente idealista numa sociedade hipócrita.
Curiosamente, hoje quando tentei aceder diretamente a este post a rede bloqueou o acesso classificando o site de "pornográfico". Sequelas dessa polémica?
AhAhAh pornográfico...
Carlos, este livro foi escrito nos anos 50, inicio da guerra fria. Começava aí a paranóia anti-comunista nos EUA que com o MacCartismo atingiu níveis totalmente insanos. Este livro tem expressões atrevidas mas nada pornográficas; a polémica julgo que teve mais a ver com a ideia geral que transmite, de desmistificação do sonho americano. Mas nada que por exemplo Steinbeck ou Capote ou Hemingway não tenham feito antes! Na verdade, a perseguição a este livro penso ter sido muito irracional.
Quanto ao bloqueio da rede, sei que o blogspot tem uma politica algo estranha. Um dia, acho que foi no Destante, onde colaborava, publiquei um post com aquela pintura famosa com a pubis de uma mulher e bloqueou-me o site, por denuncia de pornografia e depois vi-me grego para desbloquearem aquilo. Espero que não tenha surgido algo do género...
Também gostei deste livro...Muito mais ternurento e sensível do que estava à espera. Agora estou a ler A Mãe do Gorki, que creio que já "criticou" aqui, estou gostar muito...
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