. O que um escritor nos dá não são livros. O que ele nos dá, por via da escrita, é um mundo. Mia Couto
quinta-feira, 13 de janeiro de 2005
Bouvard et Pécuchet - Gustave Flaubert
Uma caricatura genial de um tipo de conhecimento superficial e fútil, típico de uma burguesia pedante que pululava na sociedade francesa daquele tempo (segunda metade do século XIX). No entanto, a caricatura mantém-se actual, nesta época em que se cultiva o conhecimento “trivial pursuit”. Mas a obra é muito mais que uma caricatura. É uma crítica mordaz e divertida (por vezes hilariante) à ignorância e à soberba. È uma lição de como o conhecimento enciclopédico de nada serve quando não é guarnecido de inteligência ou, pelo menos, de sentido de adaptação à realidade concreta. Sem a flexibilidade, o espírito crítico e a tolerância do espírito inteligente, o saber refugia-se em preconceitos e ideias feitas. No fundo, Flaubert estabelece uma certa identificação da inteligência com o espírito crítico, entendido como forma de avaliar diferentes perspectivas e conciliar opiniões contrastantes. Duas características fundamentais da escrita de Flaubert, para além daquele espírito crítico típico da escola realista: o sentido de humor onde o nosso Eça se inspirou e um extraordinário domínio de vários ramos do saber, indispensável para colocar em ridículo as convicções dos “heróis”. Destaque ainda para um final absolutamente surpreendente e genial, embora apenas esboçado, pois a morte surpreendeu Flaubert antes do termo da obra.
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