. O que um escritor nos dá não são livros. O que ele nos dá, por via da escrita, é um mundo. Mia Couto
terça-feira, 11 de janeiro de 2005
Fahrenheit 451 - Ray Bradbury
Uma história de ficção cientifica que ultrapassa largamente o âmbito usual do género. Bradbury imagina a sociedade americana mergulhada numa ditadura da democracia onde se condena sem piedade tudo quanto é susceptível de causar perturbação no sistema. Este baseia-se num ideal de igualdade social fundada sobre o obscurantismo, o culto da ignorância, a ausência do pensamento. Os livros tornam-se assim o inimigo a abater e os bombeiros são os soldados do sistema, encarregados de destruir toda a literatura. É preciso abater o espírito humano para diminuir qualquer consciência de inferioridade ou de injustiça. O homem culto é o inimigo da sociedade. É desestabilizador como o aluno “esperto”, que responde a todas as perguntas, é o alvo a abater por todos os elementos da turma. Desta forma, todas as minorias devem ser abatidas, porque escapam ao modelo universal de homem comum, ignorante e obediente. Os livros trazem desigualdade e consciência dessa mesma desigualdade. Portanto, provocam desobediência, logo, são nefastos. Para que a sociedade continue a caminhar para a “harmonia”, o indivíduo não pode ter opções; não pode ter o que escolher. A autoridade deve oferecer-lhe tudo aquilo que é considerado indispensável. Mais do que isso, é função da autoridade fornecer ao indivíduo um modelo único onde se deve integrar plenamente. Em conclusão, não se trata de uma obra de ficção científica mas de um livro premonitório. Escrita em 1953, em pleno pós guerra que abria o caminho à guerra fria, a obra de R. Bradbury parece tornar-se o “1984” do mundo ocidental, nomeadamente do modelo capitalista e neo-liberal norte-americano.
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