quarta-feira, 5 de janeiro de 2005

A Linha da Sombra - Joseph Conrad

A Linha da Sombra é uma curta mas complexa reflexão sobre a insignificância do homem perante a Natureza e o Tempo. É uma obra sobre a vida humana. O Comandante é a imagem assumida da fraqueza humana, a personificação do carácter quase insignificante do ser humano quando se confronta com a Natureza. Mas a obra de Conrad vai muito mais além. A complexidade das suas reflexões transforma esse tema de fundo numa autêntica trivialidade. É, acima de tudo, uma relexão sobre as diferentes fases da vida, sobre a transição da juventude para a maturidade. Tal maturidade é encarada com um estado de decadência, simbolizada pelo mar calmo, assustadoramente calmo, que impede o navio de seguir viagem. É, por isso, uma obra angustiada e angustiante, uma expressão de melancolia e pessimismo que enreda o leitor numa história monótona, penosa, quase moribunda. As palavras e as frases arrastam-se como o tempo, como a vida adulta… E a vida vai perdendo sentido quando tudo é estagnação, torpor e um medo passivo que conduz à inércia, à impotência. Não é um livro divertido nem apaixonante. Os primeiros capítulos parecem navegar sem sentido definido e o enredo caminha desesperadamente devagar, como o navio e como a morte…

1 comentário:

Ricardo Antonio Lucas Camargo disse...

Creio que mais que a insignificância, a situação que Conrad põe é a do indivíduo confrontado com a inexorabilidade de um protagonismo, independentemente de se estar preparado, em um cenário extraordinário. De repente, o jovem tem sob seus ombros as vidas de toda uma coletividade, e ainda tem de lidar com a insanidade mental de seu imediato, obcecado pelo fantasma do antigo comandante. Deixa, pois, de estar na posição daquele que necessita de amparo e passa a ser o suporte de todos, inclusive pessoas que têm idade para serem seus pais.