Aí está um verdadeiro romance de capa-e-espada! Admirador indefectível de Alexandre Dumas, Reverte presenteia-nos com um livro de aventuras bem refrescante, divertido e emocionante. A época histórica escolhida é bem marcante para nós, portugueses; é a época de Filipe IV, o terceiro de Portugal, de quem nos livramos em 1 de Dezembro de 1640. O enredo passa-se em 1621, quando Filipe IV era um jovem rei sem “mão” para governar um país dominado por interesses e intrigas, onde pontificava a terrível Inquisição e o nosso conhecido conde duque de Olivares, um fidalgo talvez mais poderoso que o próprio rei mas preocupado, acima de tudo, em sugar as finanças portuguesas para financiar as guerras na Flandres e Holanda. O livro é o segundo de uma trilogia que descreve as aventuras do capitão Alatriste (referência ao incontornável Cervantes) com o pano de fundo na terrível guerra da Flandres, onde combatiam as tropas de Filipe IV e onde o nosso capitão viveu batalhas terríveis. Esta obra não é uma obra-prima. Não tem “fôlego” para isso. Nem tinha que ter. O seu propósito não é afirmar as grandes qualidades de Reverte, já confirmadas noutras obras, mas sim o de divulgar uma época fantástica da história de Espanha, em que este país dominava o mundo. Estávamos no período áureo do Império Espanhol. Ao mesmo tempo, pretende-se mostrar que há determinados males que não são de hoje: a corrupção, a tendência para uma religiosidade falsa como Judas, a corrosão do poder político e os desmandos daqueles que se dizem a “elite”, mais virada para a aparência do que para a verdade. São fenómenos que permanecem mas têm raízes históricas muito bem explanadas por Reverte. Aliás, o grande mérito desta obra é o conhecimento profundo da realidade histórica que reverte revela. O fenómeno da Inquisição, por exemplo, é explanado com grande significado. O recurso a este tribunal tão desumano e hipócrita foi uma das razões para um certo atraso estrutural do sul (católico) da Europa, ao provocar a fuga de talentos e dinheiros para a Holanda, Inglaterra e outros países do Norte. Esta preocupação pelo “pano de fundo” leva o autor, muitas vezes a dar mais importância à “paisagem que ao retrato”; ou seja, a descrição da época por vezes ofuscando o próprio enredo, a história que pretende contar. Enfim, trata-se de um livro agradável, de fácil e rápida leitura, leve e simples. Um excelente exercício de divulgação histórica, bem apropriado para uma leitura de férias.
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