Embora seja muito mais do que isso, a Balada da Praia dos Cães é uma história policial; tudo começa com a descoberta de um cadáver numa praia. A vítima era um militar envolvido numa tentativa fracassada de derrubar o regime fascista português. A partir daí, o enredo decorre em constante feed-back, retornando aos últimos dias do oficial, escondido com três cúmplices que são, ao mesmo tempo, suspeitos da morte do oficial e de envolvimento no referido golpe.Perante este cenário, a Policia Judiciária e a PIDE procuram pôr em campo o seu jogo de interesses, num constante bailado de rivalidades e questões políticas entre as duas instituições. O caso acaba por ser entregue à Judiciária. O agente encarregado do processo, personagem principal do romance, Elias Santana é um português típico: está-se marimbando para a política, julga ter solução para tudo, é desleixado, tem um lagarto como melhor amigo e usa unhaca comprida no dedo mindinho. Portugal vivia numa ditadura posta em causa pela independência da Índia e pela ameaça da guerra colonial. O regime tornava-se obsoleto e cada vez mais repressor. Por isso o tom do romance é sempre sombrio e o retrato social apresenta-nos uma realidade dominada pelo medo, pelas intrigas políticas e por uma sociedade de aparências forçadas.O crime em si mais não é do que um pretexto para que os cuidades de “segurança” do regime escondam o crime maior: o de um regime repressor e baseado no medo. Os suspeitos são as vítimas desse crime maior. O castigo imposto a estes suspeitos é o castigo imposto a toda a sociedade; a um país reprimido, manietado, assassinado. No final não há redenção nem compaixão; apenas solidão.O próprio Elias Santana, mais do que um agente da autoridade, é uma vítima aquém não é permitido ter uma opinião nem muito menos uma vida própria; ele é o braço do sistema e por isso depende de tudo quanto o condiciona. O medo e a solidão são, também para ele, os denominadores comuns de todos os aspectos da vida.
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