domingo, 15 de novembro de 2009

O Monte dos Vendavais - Emily Brontë


Ler o Monte dos Vendavais é uma aventura. É uma viagem alucinante ao interior do espírito humano e aos mecanismos que desencadeiam as paixões. No mundo da literatura, poucas vezes o confronto entre o amor e a vida foi tão dramaticamente abordado, como nesta obra magnifica de Emily Brontë.
O aspecto mais sublime desta obra tem a ver com a forma como os personagens principais representam tipos de comportamento complexos e, no fundo, profundamente humanos. É como se eles nos representassem a todos nós, nos aspectos mais profundos da nossa personalidade. À primeira vista, dos três personagens principais, dois deles (Catherine e Heathcliff) são figuras pouco adequadas àquilo que nós apelidaríamos de “pessoas normais”. Os seus comportamentos são, na maior parte dos casos, estranhos ao homem do século XXI. No entanto, o encanto desta obra está precisamente em mostrar que aqueles comportamentos também são nossos, também nos representam.
Edgar Linton é, aparentemente, o mais “normal”, aquele que mais se aproxima do arquétipo do homem comum. E isto porquê? Porque Edgar representa o “socialmente correcto” que é, ao fim e ao cabo, o factor que mais condiciona a nossa vida. Todos nós, no quotidiano, adoptamos atitudes que se destinam, em primeiro lugar, a cumprir deveres e regras mais ou menos impostas pela sociedade, pela tradição, pelas leis e por aquilo a que chamamos “moral”. Uma moral tantas vezes atrofiante e castradora, representada de forma sublime pelo criado Joseph.
No extremo oposto a Edgar, encontramos Heathcliff, um homem dominado pelas paixões. No entanto, essas paixões não se limitam ao amor por Catherine; um amor inexplicável à luz da razão, mas também a um conjunto de atitudes e traços de personalidade determinados pelas emoções e sentimentos. Heathcliff é amor mas também ódio e medo. Heathcliff representa tudo quanto há de instintivo na alma humana. E aí, no mais profundo da alma, amor e ódio misturam-se invariavelmente, em permanente luta. E o medo é a face visível dessa luta. Heathcliff inspira medo como expira paixão.
Catherine é a personagem intermédia, perdida entre o racional, o conveniente, de Edgar e a tempestade de paixões, o mundo do irracional, que é Heathcliff.
No final, qual destes lados triunfa? Isso é o que menos importa; o ser humano estará sempre condicionado por estes dois pesos que avassalam a alma. Poderemos algum dia encontrar um compromisso entre eles? Provavelmente não. E a felicidade a que Catherine aspirava, tal como qualquer ser humano, poderá encontrar-se em algum destes lados? Ou será a vida um longo caminho, uma longa procura rumo a esse compromisso?
Em jeito de conclusão, poderei afirmar que a resposta a estas perguntas será o grande desafio da vida de qualquer ser humano. E. Bronthë teve o enorme mérito de representar as nossas maiores angústias e medos. De nos mostrar os verdadeiros fantasmas da nossa alma. Cabe a cada um de nós descobrir que a literatura não é mais que um espelho da vida. Por mais incrível que nos pareça.



10 comentários:

continuando assim... disse...

e agora... fiquei com enorme vontade de reler "o mMonte dos Vendavais" :) :(

já não o tenho ...deitaram-mo fora juntamente com tantos outros.... numa "mudança de casa" que um dia fizeram ...

bj
teresa

Unknown disse...

Uma "mudança" dessas é uma catástrofe :(. Os livros deviam ser coisas sagradas, intocáveis.
Mas se puderes obter este livro, garanto-te que vais gostar. O inicio é um pouco complicado, mas de resto... é maravilhoso!

Luz disse...

Este é daqueles livros simplesmente fascinantes e que nos acompanham a vida toda, que lemos uma vez e voltamos a reler mais uma vez e, quem sabe ainda mais...

Abraço

Nuno Chaves disse...

um veradeiro classico, mas gosto um pouco da mana charlotte

Ju Haghverdian disse...

Huuuuum.. amei sua resenha!
Comprei um livro (versão colecionador) com as principais obras das irmãs Brontë... não vejo a hora de chegar no topo da minha lista e poder ler.
Já ouvi falar tanto desse livro (que em português-brasileiro, chama-se "O morro dos ventos uivantes") que comentaste, tenho tantas amigas super fãs da história e agora com sua resenha, minha curiosidade aumentou!

Ai, ai... livros. A forma mais deliciosa de aprender sutilmente as duras lições da nossa realidade.

Abraços.

Unknown disse...

Luz, Nuno e Ju, de facto só lamento ter esperado pelos meus 44 anos para ler este livro.
É impressionante a quantidade de livros "obrigatórios" que a gente vai descobrindo pela vida fora. É isto que a Literatura tem de maravilhoso: é um mundo infinito; um mundo perante o qual nos sentimos tão pequeninos...
Obrigado pelas vossas palavras :)

Cristina disse...

Imperdível!!

Andrea disse...

Oi Manuel, este livro deve ser muito interessante, só pela descrição fiquei curiosa, não achei aqui ainda o "As Pessoas Felizes - Agustina Bessa", deixei meu tel com um amigo que ficou de procurar em algumas livrarias em SP....vou aproveitar e aumentar minha listinha com mais esta dica...rs

Obrigada!

Bjo..:)

Anónimo disse...

Olá Manuel, encontrei seu blog através do "Ship made of books", e gostei bastante, estarei lhe acompanhando com satisfação.

Abraços Marco

Lia Silva disse...

É um dos melhores livros de sempre, que deve estar presente na estante de qualquer pessoa. Todas as emoções são experimentadas enquanto se lê esta pequena maravilha. É trágico, doloroso, inesquecível e único.
Beijos