“Boneca de Luxo” é a história de uma jovem actriz, Holly Golightly (Lulamae de seu nome verdadeiro), que foge de um passado sofrido para o luxo e a luxúria de Nova Iorque. “Em viagem” é a frase que coloca na sua caixa de correio; de facto, ela procura na vida uma eterna viagem que a leve até ao âmago da existência, por caminhos incertos mas iluminada por um objectivo: a realização pessoal, a sua afirmação como pessoa.
Boémia e mundana, Holly envolve-se numa existência povoada de vícios, com uma conduta que a sociedade carimba de devassa e imoral. No entanto, ela nunca deixa de expressar os seus valores morais. Ao longo da narrativa, é visível a superficialidade das relações humanas na grande cidade e a futilidade daqueles que a procuram em nome do corpo e da satisfação do prazer.
No entanto, Joe Bell e George Peppard, o escritor fracassado, são diferentes. Eles alimentam por Holly uma amizade profunda e verdadeira, talvez aquele amor que a cidade lhe recusa. Este amor, que nada tem de carnal, dispensa qualquer erotismo e mesmo a própria presença física. É Joe Bell quem define este amor, de forma eloquente e terrivelmente bela:
“Podemos amar uma pessoa sem ser dessa maneira. Mantemos as distâncias, é uma pessoa amiga que não deixa de nos ser estranha.”
Peppard segue os passos de Holly e caminha sempre ao seu lado, ao contrário da grande cidade que apenas a admira e utiliza nos seus desejos fúteis. No entanto, Holly permanece fiel ao seu passado; Doc, o ex-marido resgatara-a da miséria e a ele se unira com tenra idade. Para Holly, ele mantém-se o verdadeiro dono do seu afecto. Neste aspecto, as amarras do passado são intransponíveis.
“Mas, Doc, eu já não tenho catorze anos nem sou a Lulamae. (…) Mas o pior é que sou mesmo”.
Nessa quase infância, Doc libertara-a da miséria mas aprisionara-lhe os sentimentos; e Holly era como um animal selvagem que ele pretendeu enclausurar. Na grande cidade, procurou libertar-se desses grilhões, no entanto, apenas encontrou o desprezo vil da soma de egoísmos a que chamamos sociedade ou civilização.
Para Holly restou a necessidade de continuar “em viagem”.
7 comentários:
Ei Manuel,
Adorei a resenha, ja coloquei na lista dos livros que irei ler.
Aqui no Brasil o título é "bonequinha de luxo".
Deixo seu blog aberto so para ouvir as músicas :)
bjo
Olá Manuel
Não foi esse livro que foi adaptado para o "Breakfast at Tiffany's"?
Bjs
Obrigado, Nanda. Adoro Katie Melua. Logo que possa prometo colocar mais músicas.
Teresa, sim, "Breakfast at Tiffany's" é o título original do livro que deu origem ao filme. Nos anos 90 há uma canção pop muito engraçada também com este título. Já não me lembro é quem canta :(
Nossa! É a segunda vez que leio alguém escrever sobre Capote em blogs (e em um espaço de quase 3 anos!). Os leitores que questiono sequer o conhecem (na maioria das vezes).
Li a biografia dele e o "In Cold Blood" na faculdade e fiquei fascinada, também assisti algumas das suas últimas entrevistas e fiquei chocada lol. Ele tem uma história interessante, perdeu-se no meio do caminho e continuou assim (do mesmo modo como descreveste Holly) mas de um talento incrível.
Parabéns pela lembrança!
Viva Capote o/
"Boneca de Luxo" pretendo ler em 2010...quem sabe :P
Tanto para ler...
Umas férias para ler é que calhavam bem!
Este filme esta no meu top ten. Imortalizou Hepburn e relembrou Capote como um grande escritor.
O nome da banda é Deep Blue Something. É realmente uma musica muito divertida e o vídeo é também muito engraçado.
http://www.youtube.com/watch?v=1ClCpfeIELw&feature=fvst
Bjs
Eva
Enviar um comentário