domingo, 7 de março de 2010

Eusébio Macário - Camilo Castelo Branco



Quando Camilo Castelo Branco escreveu esta obra, em 1879, fervilhava-lhe no cérebro um tédio nauseado provocado pela abundante literatura bucólica do século XIX. Por isso, todo o livro é uma sátira sarcástica mas bem-disposta a esse tipo de literatura em que os personagens parecem viver no jardim do éden, rodeados de borboletas coloridas, flores campestre e passarinhos de canto melodioso. Em vez disso, CCB descreve-nos a natureza minhota pejada de moscas, porcos e estrume. Em vez dos amores perfeitos de Júlio Dinis, CCB apresenta-nos as aventuras sexuais do padre Justino, gordo e sebento ou as investidas do José Fístula nos bordeis de prostitutas baratas de Braga, onde estudava para padre.
Eusébio Macário é um boticário da região de Basto, no Minho profundo, que sabe de cor as mezinhas e remédios para todos os males. Mas é também um exemplo de sujidade, boémia saloia e devassidão.
A filha, Custódia, é uma moça roliça, gorda, penugenta, cheia de “desejos animais” e muitos ardores, “com cheiros de mulher suspeita”.
O filho, José Fístula (!) estudara para padre, onde se tornara devasso, bêbado e cliente de prostitutas sujas e mal-cheirosas. Voltara para casa pobre esfarrapado e tornara-se auxiliar do pai. Tocava fados que faziam tremer as nádegas do pai, animando os serões etílicos do pai e do padre.
O padre Justino vive com Felícia (“é ela abaixo de Deus”), uma mulheraça frescalhona, farta de carnes e seios intumescidos, a quem se agarrou quando duvidara da existência de Deus, acreditando que o Céu estava roto por causa da vitória dos liberais. Mais que mulherengo, é boémio e devasso, não se contentando com as frescuras de Felícia. Tornara-se herói quando matou um lobo a tiro e até foi promovido a abade e disputado por políticos com ambições eleitorais.
O abade, já de carnes amolecidas, atormentado por irritações, congestões, enterites e hemorróides não deixa de deitar o olho a Custódia, gabando-lhe as curvas roliças.
O irmão de Felícia, Bento, chegado do Brasil, é bruto e ignorante, gordo e feio. Mas desdenha do “país atrasado”. Recebido com honras de fidalgo, é feito comendador e espera o título de Barão.
Com o casamento de Custódia com o Barão Bento, Eusébio Macário, José Fístula, Felícia e Custódia tornam-se membros da mais fina sociedade nortenha.

8 comentários:

Teresa Fidalgo disse...

Manuel,
Quem não leu o livro fica aqui com um resumo surpreendente.

Sempre com excelentes opções!
Um abraço

Ana Isabel Pedroso disse...

Olá!

Em relação ao comentário que fizeste no meu blogue sobre o Hemingway, tenho a dizer que já li as páginas iniciais e gostei, tem uma escrita fluída...lê-se bem...até porque nem sou apreciadora dos livros do Hemingway.

Boas Leituras!!!!

Ana

Poeta do Penedo disse...

Caro Manuel Cardoso
Pelo que li no teu texto, o «José Macário» foge muito ao estilo do Camilo. Vou em busca deste livro, porque fiquei deveras curioso. Obrigado pela dica.
Com amizade

Poeta do Penedo disse...

Peço desculpa pelo erro. Será Eusébio Macário e não José, como escrevi.

Anónimo disse...

Adorei o seu blog, cinco estrelas! E, sim, eu li o livro. Fartei-me de rir até explodir. Camilo Castelo Branco possui um dom raríssimo para as palavras. E, por acaso, os romances que eu mais gosto dele são precisamente aqueles que pretendem gozar com os Naturalistas. Aconselho a todos os leitores deste blog a lerem "A Corja".

Um abraço,

Sandra Costa (do blog "Biblioteca Porta Aberta")

Unknown disse...

Poeta, o erro não é grande porque o filho do Eusébio é José mMcário, o Fístula :)
Ana, acho ias gostar deste Camilo.
Teresa, mas o melhor é mesmo o livro; aquela sátira de costumes é de rir até às lágrimas.
Sandra, já um colega me disse isso d'"A Corja". Vou ler, é claro. E parabéns pelo vosso projecto escolar.

Teresa Fidalgo disse...

Pois é Manuel. Eu gosto do Camilo principalmente por causa das suas "críticas".
E sim, faz bem em ler (e depois comentar) "A Corja", é um livro muuuito certeiro!
Um abraço

Regbit disse...

excelente dica disconhecia esse texto,não livre esse livro, estava postando no meu blog Camilo Castelo Branco quando me deparo com seu blog, como somos pequenos e sabemos tão pouco. Gostei muito da música