Permitam-me imitar o blog http://adasartesleituras.blogspot.com e citar uma passagem absolutamente fantástica desta obra:
"na hora de pôr a mesa éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
[...]
e eu. depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois a minha irmã mais nova
[...]
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
[...]
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
[...]
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva, cada um
[...]
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho, mas irão estar sempre aqui
[...]
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
[...]
e eu. depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois a minha irmã mais nova
[...]
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
[...]
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
[...]
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva, cada um
[...]
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho, mas irão estar sempre aqui
[...]
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.
Não tenho dúvidas em afirmar que José Luís Peixoto é um dos escritores contemporâneos cuja escrita mais me fascina. Com nítidas influências de Lobo Antunes e, principalmente de Faulkner, adopta a técnica de multiplos narradores que confere à escrita uma intemporalidade encantadora. O tempo sai claramente vencido. Avô, pai e filho, uma mesma vida; as mesmas angustias, que são as da gente simples, as de todos nós. "Eramos perpétuos uns nos outros", afirma o filho de Francisco.
A obra baseia-se na vida de um maratonista português que morreu, dramaticamente, ao quilómetro 29 da maratona dos Jogos Olímpicos de Estocolmo, em 1912. Carpinteiro de Profissão, Francisco Lázaro era filho e neto de carpinteiros. Nasceu no dia em que o pai morreu, como viria a suceder ao seu filho.
Memórias de vidas repetidas formam circulos concêntricos, fazendo-nos olhar a vida como um carrossel de factos que, imperiais, dominam o destino e subjugam a existência. Ao longo de toda a obra, predomina a beleza que só a tristeza pode dar às palavras. O sentir da gente simples, os prazeres e as dores de quem vive à procura da música nunca encontrada dos pianos avariados. A vida como cemitério da música. E um maratonista que corre até à exaustão em busca de um sentido (que não existe) para os círculos concêntricos.
Maria, operária fabril, passava horas lendo romances de amor no cemitério de pianos (espécie de arrecadação onde se guardavam pianos que ficaram por consertar). Maria procura nos livros o sonho que não existe. Mas procura e assim vive; entre sonhos perdidos e musica que não sai dos pianos; esperanças adiadas que não perdidas. Sonhos que são o conforto e o alimento da vida. Maria lê; e quem lê foge sempre de algo; talvez do medo, talvez das memórias, talvez de alguém. Mas vive; refugiando-se num mundo novo, mas mantendo a esperança.
Sempre a esperança do maratonista que corre como vive: à procura do sentido da vida e em fuga; fuga da culpa e do medo, os grandes inimigos da vida: ninguém vive só a sua vida; vive também a dos outros porque as suas atitudes os afectam e condicionam.
No meio de tudo isto, que interessa quem vive e em que tempo? O momento presente encerra todo o passado. É Francisco quem o diz na primeira pessoa: "todo o tempo, anos e décadas que vivi, que não vivi, que viverei e que não viverei, existem neste momento" (página 225). Passado, presente e futuro num único e poderoso agora.
16 comentários:
Ola Manuel Obrigado pelo teu sincero e sempre bem vindo comentario ao pagina a pagina. pois é voltei a publicar a minha opinião acerca do livro equador, mas desta vez dando-lhe a importancia de melhor livro do ano (para mim claro)quando surgiu o pagina a pagina, a pouco mais de tres meses, lembro-me bem do teu comentario em relacão a este livro,(ele ainda la está) foi logo dos primeiros.eu gostei mesmo de facto do livro, não é nenhum supra-sumo, mas de facto houve qualquer coisa ali que mexeu que eu ainda não sei explicar. tal como esta febra da saga crepusculo (que por exemplo para mim não me disse nada) mas só podia ter opinião formada apos a leitura dos 4 volumes. fiquei bastante lisonjeado por referires que o pagina é um dos bogues pelos quais tens preferencia. uma vez mais obrigado, mas é isso mesmo a analise é pessoal e é isso que nos destingue. quanto a aversão aos livros de auto-ajuda, não lhe chamaria aversão, mas não me dizem nada, (mas isto é pessoal) mas deduzo que tenhas retirado essa ideia da critica ao livro A cabana (???) essse sim foi das maiores desilusões deste ano de 2009 (pesssoalmente) no entanto as criticas nos blogues identicos ao meu são todas tão boas!!! e eu que não consegui atinar com o raio do livro (LOL) mas vamos continuando a corversar ok?
Manuel que tenhas um excelente 2010, recheado de coisas boas e de muitas paginas repletas de Grandes histórias, um grande abraço.
Nuno Chaves.
Um abraço também para ti, Nuno!
Este mundo da literatura é mesmo encantado!
nunca li nada do José Luis Peixoto.....:( nem sei porquê ...
bj
teresa
Olá Manuel!
Confesso que nunca li nada de Peixoto nem nunca me senti inclinado, principalmente porque de facto me parece que a sua escrita tem similaridades com Lobo Antunes, escrita que me aborrece.
Em todo o caso o excerto é bonito.
Um bom 2010
É de facto um bom livro!
Quanto a José Luis Peixoto, nunca li nada, mas fiquei interessado.
Ja estou a seguir o seu blog!
Cumprimentos, Filipe
Eu estou para ler José Luís Peixoto há séculos. Lembro-me de ler um excerto no meu livro de Português do secundário e adorado a escrita dele. Tem qualquer coisa.
Vim desejar um Feliz e Próspero Ano Novo!
Bjs*
Pois, eu sou fã incondicional da sua Poesia. Não conheço ainda a Prosa, porque me perco sempre pelo texto poético.
É uma excelente preferência, sim senhor!
Feliz Ano de 2010 e com muitas leituras! :)
Gosto imenso da escrita de José Luís Peixoto. Este poema diz-me muito, pois representa também a minha família. Somos cinco.
Partilho contigo uma adaptação deste poema que um dia escrevi...
“na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, [os meus irmãos]
e eu. depois, [o meu irmão] mais velh[o]
casou-se. depois, [o meu irmão] mais nov[o
foi para longe]. depois o meu pai [calou-se]. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos [o meu irmão] mais velh[o] que está
na casa del[e], menos o meu irmã[o] mais
nov[o] que está [lá longe], menos o meu
pai [calado], menos a minha mãe [também calada]. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinh[a]. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.”
Adaptação do original
José Luís Peixoto, a criança em ruínas
Um óptimo 2010, com mais partilha de leituras!
Obrigado por essa prenda que nos deixaste aqui, tonsdeazul. Gostei sinceramente!
Aproveito para desejar um óptimo 2010, a vocês os cinco. Que sejam sempre "os cinco"...
Manuel
Mais outro autor sobre quem tenho dificuldade em falar(ou escrever!). Gosto muito da escrita do José Luis Peixoto, também me faz lembrar o António Lobo Antunes, mas menos angustiado, menos sombrio. Depois,... foi meu aluno, sabes, quando vivia em Galveias. Conheci e fui amiga da irmã mais velha. Lembro-me quando morreu o pai. Ficamos sempre ligados aos nossos alunos, como bem sabes, sentimos um pouco os seus êxitos ou fracassos. Com o José Luis, gosto de o ler e gosto de o recordar. Só não sei se ele ainda se recorda da professora do 9.º ano!
Bjs
Bom ano.
Teresa, se ele escreve bem, pelo menos um bocadinho ele deve ter ficado a dever à professora de História do nono ano.
E olha que ele escreve mesmo bem! Nem vou perguntar que nota lhe deste :)
Eu é que nunca tive um aluno assim ilustre :(
Manuel
Obrigada pelas tuas palavras, mas acho que não deve nada. E dei-lhe 4. Era um miúdo calado, sonhador, um pouco triste. Tenho tido alguns alunos ilustres (dou aulas na escola de Alcochete, onde estudam os miúdos da Academia do Sporting!), mas este é especial.
Bjs e Bom Ano, com boas leituras e muitas partilhas.
Considero a escrita de José Luis Peixoto muito especial, sentida mesmo.
Um abraço!
Nós também somos cinco. Quatro lugares a falar mais um vazio. Tão ausente e tão presente.
Já li alguns livros do JLP. A escrta dele é bela. Mas é bastante melancólica. Os seus livrs têm sempre presentes elementos como a morte, a velhice, a doença, etc.
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