sábado, 2 de janeiro de 2010

A Terceira Rosa - Manuel Alegre

Trata-se de uma das raras obras em prosa deste que é um dos grandes poetas da língua portuguesa. Neste livro, Manuel Alegre relata-nos uma sofrida história de amor, entre Xavier e Cláudia, na fase final do Estado Novo português.
Os encontros e desencontros, as euforias e os dramas da paixão vão acompanhando a agonia de um regime pérfido mas moribundo que, no entanto, continua a dilacerar vidas e almas. Xavier e Cláudia, divididos pelo fascismo, separados por mundos opostos num mesmo mundo, vítimas dos outros mas também da insatisfação humana que eles próprios representam no teatro da paixão.
Numa admirável, cuidada e emocionada prosa poética, Alegre passeia pelas palavras enquanto nos guia pelos caminhos da solidão que o amor não apaga. Um amor sem tempo, ou melhor, com um tempo que é desde sempre e sem fim.
Fabulosa a descrição dos mecanismos da paixão, que “passa e não passa”. Assim é o amor: morre mas não morre. E um “também eu” que é frase de quem ama e se repete nesse tempo que não acaba, nesse passar que não passa.
Uma prosa escrita com ardor, sem artificialismo, apenas alma, apenas o som que vem do peito. Sem descrições inúteis, que tantas vezes enfadam e destroem grandes enredos. Trata-se da escrita mais pura e magnificamente simples que se pode criar.
Dispensável, talvez o estafado paralelismo entre o amor e os toiros de morte.
Genial, talvez a leitura da alma humana que, de tanto amar, destrói. Xavier amou até à exaustão.
Genial, também, os caminhos paralelos do amor e da Liberdade; o 25 de Abril que nasceu para não morrer, um amor que terminou sem morrer. A esperança que sobrevive, Cláudia e a Liberdade, a eternidade das paixões. Cláudia que dizia a Xavier “eu não quero morrer de ti” é, afinal, eterna.
Curioso título do livro: referência a um belo poema de E. E. Cummings em que a rosa vermelho-escura aparece como símbolo da morte:
(…)
If there are any heavens my mother will (all by herself) have
one. It will not be a pansy heaven nor
a fragile heaven of lilies-of-the-valley but
it will be a heaven of blackred roses
(…)

5 comentários:

Anónimo disse...

Oi Manuel!
Não conheço o autor. Vou procurar por aqui.
Feliz ano novo querido.
Bjs.

Poeta do Penedo disse...

Caro Manuel Cardoso
Nunca li nada de Manuel Alegre, embora toda a vida tenha ouvido falar na sua poesia. Talvez tenha sido negativamente influenciado por uma triste história de guerra, que várias vezes ouvi contar, que fez com que eu tivesse perdido toda a credibilidade nesse autor. Sei que foi um homem de Abril, conheço o poema trovas do vento que passa, mas sou incapaz de procurar um livro do Manuel Alegre.
Eis-me finalmente aqui. Afinal não custou nada. Tem sido interessantíssima a nossa conversa.
Com amizade
Fareleira Gomes.

Paula disse...

Um livro que nos toca.Pois, assim parece pela forma que o comentaste. Não conhecia este livro de Manuel Alegre. No entanto vou ver se o encontro, há frases que destacas e que me chamaram a atenção...

Paula disse...

Terminei ontem este pequeno grande livro.
Adorei, excelente!
Uma escrita poética que cativa do início ao fim.
Os sentimentos contraditórios no seu auge!
Obrigado pela dica :)
Um abraço

Anónimo disse...

Bonito livrinho.
Pena que os grandes amores sejam mesmo assim...
Impossíveis de ser vividos.
Proibidos.
Isabel