terça-feira, 9 de novembro de 2010

After Dark, Os Passageiros da Noite - Haruki Murakami

Fascinante.
Maravilhoso.
Alguém escreveu há tempos uma frase que define na perfeição esta obra de Murakami: “Um livro magnificamente estranho”. Impossível definir melhor esta viagem pela noite e pelo maravilhoso mundo das personagens fascinantes do grande mestre japonês.
A calma e o fascínio da noite que escondem mistérios impenetráveis… a noite de Van Gogh… Mari e Takahashi vagueiam na noite de Tóquio confrontando-se com sensações únicas, acontecimentos inauditos, dramas silenciosos: uma prostituta agredida violentamente, um funcionário exemplar mas envolvido no crime, uma banda misteriosa em que Takahashi toca trombone. E do outro lado da noite está Eri, a irmã de Mari. Eri dorme profundamente; um televisor ligado absorve-a no sonho; uma câmara de filmar guia-nos no pesadelo de Eri; tudo é possível na noite, até mesmo o sonho. Até mesmo a fuga para dentro de nós mesmos, como Eri.
Murakami tem esta fascinante capacidade de escrever a paz entre o drama, de exprimir a vida atordoante dos nossos tempos entre o misticismo envolvente do espírito japonês. A magia da calma, da paz, entre os dramas mais violentos. E por todo o lado, a música, essa paixão de que Murakami não prescinde; os sons calmos que acompanham a noite.
No início do livro, uma lenda japonesa dá o tom: três irmãos, perdidos numa ilha desabitada, preparam-se para subir uma montanha à procura de um local para se fixarem; um Deus ordena-lhes que transportem um rochedo. Um fica junto do rio onde há imenso peixe; outro fica a meio da montanha onde dispõe de frutos e algum peixe. Mas nenhum deles poderá ver o mundo. O terceiro sobe até ao topo da montanha; aí terá dificuldade em arranjar alimento mas verá o mundo por inteiro. Estas são as opções da vida. Nós, a maioria, preferimos a segurança do sopé. Poucos transportam o rochedo para o alto. Alguns, como Mari e Takahashi vivem para ver e viver o mundo do alto da montanha; outros, como Eri, dormem e sonham.
Em suma, mais um livro maravilhoso de Murakami, cheio de mistério e encanto. Um livro que se lê sem esforço e que penetra fundo na nossa alma.
Ninguém permanece igual depois de ler Murakami. A sua escrita mexe-nos na alma e deixa-nos impávidos perante o fascínio de uma simplicidade transcendente.

10 comentários:

Tinkerbell disse...

dos meus autores preferidos!

http://the-door-to-my-imaginarium.blogspot.com/2009/11/after-dark-haruki-murakami.html

bjs*

imagination walks disse...

Eu também adorei ler esse livro! Actualmente, é o meu escritor favorito. :)

O Sputnik, Meu Amor também é muito bom! E os livros de contos que ele escreve são deliciosos. :D

Unknown disse...

Murakami e Auster são, para mim, os melhpores escritores da actualidade. Por várias razões, mas a principal é porque eles conseguem exprimir os grandes dramas do mundo actual, encaixando-os num certo quadro de humanidade e de espiritualidade.
De Murakami o meu favorito, ainda assim, é Kafka à Beira-Mar.

Anónimo disse...

Em pouco tempo tornei-me uma viciada nesta coisa dos blogues, eu que há pouco mais de um ano não sabia quase abrir um computador. Mas depois tem a parte chata: a vontade de ler tanto do que é sugerido e o pouco tempo para o fazer.
Falou deste livro com um entusiasmo contagiante.Fiquei com vontade de o ler.Nunca li nada deste escritor.Vou comprá-lo e lê-lo logo que acabe o que comecei.

Isabel

Unknown disse...

Isabel, eu comecei Murakami pela sua obra mais complexa: Kafka à Beira-Mar. Tive sorte porque gostei. Mas para quem nunca leu Murakami, acho que este é o livro ideal para começar; lê-se depressa e com descontracção.

N. Martins disse...

Adorei este livro. Não sei o que Murakami tem ou como faz mas os livros dele mexem mesmo com a nossa alma.São fascinantes! :)

Paula disse...

Olá Manuel..
Li este livro o ano passado acho, e adorei, adorei porque tem imensas pontas soltas, adorei porque muita coisa não faz sentido, adorei por esse misto de interrogações que nos deixa e pelos finais que também podemos imaginar. Conheces Pássaro de Corda? Diz que é o melhor dele. vou tentar ler em 2011 :)
Abraço

Unknown disse...

Olá Paula
grande coincidência, teres falado nesse livro: tenho-o na "pilha de espera" há uns meses. Vou também lê-lo em breve, provavelmente já em 2011..- De facto há muita gente que diz que o Pássaros de Corda é o melhor livro dele. Duvido que eu mantenha essa opinião depois de o ler porque acho que é muito difícil que venha a gostar mais do que Kafka À Beira-mar. Mas estou ansioso por tentar

Miguel Nunes disse...

Acabei de ler há poucas horas.
Dá vontade de conversar com Mari e Takahashi noite fora.
Foi só em mim que surgiu o desejo de sentir Mari?
Murakami é um génio.

Unknown disse...

Sr., é exactamente isso que eu sinto sempre que acabo um romance de Murakami: dá vontade de conversar com os seus personagens; dá vontade de entrar naquele mundo encantado que o autgor constrói.
Fascinante, mesmo...