Sinopse:
No seguimento do primeiro volume da serie SPQR, o lance do
rei, John Maddox Robert com "A conspiração de Catilina"
transporta-nos de novo às profundezas das conspirações romanas. Grupos de
criminosos controlam as ruas assaltando indiscriminadamente patrícios e
plebeus. As atrozes mortes de um antigo escravo e de um mercador estrangeiro na
perigosa zona de Subura parecem não ter quaisquer consequências para a
hierarquia romana, mas Décio Cecílio Metelo, o novo, não pensa dessa maneira.
Contrariando a apatia oficial, subornos descarados e ameaças brutais, Décio vai
pôr a nu a corrupção que grassa nos mais altos escalões do governo e faz
perigar toda a estrutura político-social e a sua própria vida. As ruas estão
empapadas com o sangue de cidadãos assassinados, e os rumores que circula
apontam para mais atrocidades. Décio Cecílio Metelo, o Novo, investigador, está
convencido de que há uma conspiração cujo objetivo é derrubar o governo - uma
cabala sinistra que só pode ser destruída de dentro. Mas a entrada na sociedade
traidora sai cara a Décio: a vida do seu melhor amigo e possivelmente a sua.
Comentário:
Este romance histórico apresenta-nos uma leitura
historicamente credível do famoso processo que deu origem às Catilinárias
(célebres discursos em que o senador Cícero desmascarou a traição levada a cabo
por Catilina). Catilina era o nome do chefe de uma revolta na Roma dos últimos
tempos da República Romana. Viviam-se tempos difíceis em virtude dos diferentes
partidos que se haviam formado vinte anos antes, durante as guerras civis entre
Mário e Sila (ou Sula, segundo algumas traduções).
De uma forma um pouco simplista, Maddox associa os
partidários de Sila à velha aristocracia e os de Mário aos populares; no
entanto, a gravidade da conjura não tinha tanto a ver com as referências históricas
destes partidos mas apenas e só com as ambições políticas desmedidas de alguns
políticos romanos. Na verdade, Catilina é-nos apresentado aqui como um misto de
herói e vilão. É esta ambivalência e a forma como é gerida pelo autor que
constitui o aspeto mais interessante do livro. Até que ponto Catilina foi
apenas um “peão” nas guerras políticas onde os verdadeiros líderes não deram o
rosto? Este ponto leva-nos a uma interessante reflexão sobre a natureza do
poder político: muitas vezes nós, os cidadãos comuns, nada sabemos sobre as
verdadeiras intenções e até sobre a identidade dos mais poderosos.
Da mesma forma que Catilina nos é mostrado como uma espécie
de herói (ou, no mínimo, de vítima), também o seu acusador, Cícero, não é aqui
visto como o herói, o político brilhante que desmascarou a traição, mas apenas
como mais um político ambicioso que, ao acusar Catilina, não demonstrou a
coragem suficiente para procurar os verdadeiros culpados.
Certo é que a conspiração de Catilina e toda a confusão que
gerou veio a dar justificação para o período de ditadura de Júlio César, ou por
outras palavras, à queda definitiva da república romana, dando lugar, em
definitivo, à autocracia.
Ficamos pois, com esta lição da história: Catilina ou
Cícero, pouco importa, os homens destruíram a democracia ou o que dela restava
para justificar o poder discricionário de um homem.
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