Qualquer coisa era melhor do que ser judeu. E assim Liesel
era feliz na Alemanha nazi. Max, o judeu, é o perseguido, atormentado,
sacrificado. O representante de um povo martirizado. Mas este livro não é
apenas mais um a denunciar o holocausto; ele oferece-nos a perspetiva do povo
alemão; ou melhor, dos pobres que Hitler também fabricou na Alemanha; é o
desmistificar de uma ideia feita que ainda tem adeptos hoje em dia: de que
Hitler enriqueceu a Alemanha. Nada de mais errado. A Alemanha de Hitler não era
a Alemanha da riqueza; era a da inveja e da loucura que levou ao anti-semitismo
e ao imperialismo absurdo.
O livro é o elemento de união entre Liesel e o pai; é o
cimento da amizade. Aos poucos, os livros vão-se transformando no símbolo da
resistência, da esperança, da vida. Qualquer que seja o livro: um manual do
coveiro, por exemplo. Ou até o Mein Kampf cujas páginas Max vai pintado de
branco e reescrevendo numa bela mensagem de esperança.
Mein Kampf parece ser o livro que acompanha o mal, a
tristeza. Afinal há livros maus. Mas para Max aquele era o melhor dos livros
porque lhe havia salvado a vida.
Max reescreveu 13 páginas do mein kampf; pintou-as de branco
e escreveu sobre a amizade.
Rudy, o jovem amigo de Liesel é, a meu ver, a personagem
mais fascinante deste livro; para ele, Jesse Owens é sempre o símbolo da
liberdade. Simboliza a luta pela liberdade; a resistência ativa. A força do
bem.
Este livro não é uma obra prima; o tema, mais do que
explorado por escritores e historiadores, acaba por fornecer um ambiente em que
é fácil chegar ao coração dos leitores. Por outro lado, embora o estilo e a
linguagem seja de uma beleza avassaladora, não prima pela originalidade. Por
várias vezes, ao longo da leitura, me fez recordar O Leitor, de Bernard
Schlink, esse sim uma obra prima da literatura do holocausto.
No entanto, fica a originalidade de certas ideias: muitos
alemães, a maioria, foram mais vítimas que culpados. Eles escolheram Hitler.
Mas mereciam morrer por causa disso? Talvez o seu maior crime tenha sido um
mero encolher de ombros…
4 comentários:
Vou ser franca: adorei o livro quando o li, em 2008! Se é mais ou menos literário, mais ou menos original (OK, não li "O Leitor", mas adorei o filme), interessa-me pouco. Facto é que me prendeu do princípio ao fim, fez-me repensar o cenário histórico e emocionou-me como poucos. E isso é quase tudo o que desejo num livro... :)
Eu li o livro em 2008 e adorei. Consigo imaginar a Miúda a trepar janelas ou a sensação de ter um livro na mão, visualizei o Max e o Rudy (fascinante). Ainda bem que este livro foi adoptado para o Plano Nacional de Leitura.
Nota:
parabéns pelo seu trabalho de divulgação de livros.
Só mais um comentário: Eu achei original porque é raro um livro ter a Morte como Narrador.
É, de facto, um excelente livro. Acho que só não gostei mais proque tenho lido demasiadas coisas sobre o assunto.
Na verdade, a Morte como narrador foi uma ideia genial.
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