Sinopse:
Ondjaki, o escritor angolano já
bem conhecido do público por obras como o assobiador (2002), quantas madrugadas
tem a noite (2004), os da minha rua (2007), AvóDezanove e o segredo do
soviético (2008), entre outros títulos, sempre colocou Angola, e em particular
Luanda, de onde é natural, no centro da sua escrita.
Com o presente romance, de novo aparece Luanda - a Luanda atual do pós-guerra, das especificidades do seu regime democrático, do «progresso», dos grandes negócios, do «desenrasca» - como pano de fundo de uma história que é um prodígio da imaginação e um retrato social de uma riqueza surpreendente.
Combinando com rara mestria os registos lírico, humorístico e sarcástico, Os Transparentes dá vida a uma vasta galeria de personagens onde encontramos todos os grupos sociais, intercalando magníficos diálogos com sugestivas descrições da cidade degradada e moderna.
Com o presente romance, de novo aparece Luanda - a Luanda atual do pós-guerra, das especificidades do seu regime democrático, do «progresso», dos grandes negócios, do «desenrasca» - como pano de fundo de uma história que é um prodígio da imaginação e um retrato social de uma riqueza surpreendente.
Combinando com rara mestria os registos lírico, humorístico e sarcástico, Os Transparentes dá vida a uma vasta galeria de personagens onde encontramos todos os grupos sociais, intercalando magníficos diálogos com sugestivas descrições da cidade degradada e moderna.
Comentário:
Luanda em fogo: a destruição provocada pela ânsia
capitalista. “A nossa vida está quase grelhada”, diz o cego que anseia por
saber a cor do fogo e só a conhecerá na última frase do livro. Ele não sabe a
cor do fogo porque o rapaz, o vendedor de conchas, não a sabe explicar. Terá de
perguntar a uma criança. Eis o ponto de contacto entre este livro e as obras
anteriores de Ondjaki: o fascínio pelas crianças, pelo ingénuo e sábio
conhecimento infantil. Porque em outros aspetos, este livro marca um certo
ponto de viragem na carreira literária deste autor angolano: é a emergência do
desencanto, é a morte e o funeral da Ideologia. O desencanto perante o sonho
socialista, vencido pelo poder económico.
De facto, este livro é marcado pelo olhar nostálgico sobre
uma cidade vendida ao poder económico, à voracidade cega de um capitalismo
desumano e descaradamente criminoso.
Embora cheia de humor, esta obra denuncia de forma aberta e
direta a inacreditável tirania da corrupção e das ambições desmedidas dos
lideres políticos e económicos de Angola: o livro começa e acaba com a
destruição pelo fogo, provocada pela própria ambição da riqueza. Mau grado este
aspeto cinzento, crítico, o humor é refinado, de cariz popular e exprime-se
numa linguagem simples.
A corrupção está por todo o lado; mesmo funcionários menores
aproveitam as benesses do poder para extorquir dinheiro aos mais
desfavorecidos; assim devorados pela voracidade do sistema, aos pobres resta
inventar meios de sobrevivência. Até as doenças, como uma descomunal hérnia de
Edu, pode ser motivo para ganhar “algum”.
Na parte final do livro revela-se a explicação para o genial
título da obra: os pobres não emagrecem; ficam transparentes: o corpo torna-se
leve até não precisar de comer e a leveza do ser levará Odonato ao céu…
Um crítico literário cognominou Ondjaki de “ourives da
língua portuguesa”. De facto, o escritor angolano lida com as palavras como se
de filigrana se tratasse: com uma precisão esmerada e sem ornamentos inúteis.
Não há dúvida que estamos perante uma obra genial de
Ondjaki: mais sóbrio que nas obras anteriores, embora mais pessimista. No
entanto, no espírito de quem lê, fica um tom de fantasia a lembrar Saramago e uma
certa magia na abordagem do ser humano que prevalece, pairando acima da
corrupção, da desumanidade da classe política e da voracidade de capitalistas
sem ética. Um retrato mordaz mas profundamente humano de Angola.
1 comentário:
Adorei o livro.
http://numadeletra.com/os-transparentes-de-ondjaki-50442
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