Sinopse:
Se não contares a tua própria história, alguém o fará. E possivelmente fá-lo-á mal...Paris, 1940. Em plena ocupação alemã, Hieronymous Falk, um jovem e brilhante trompetista de jazz, é detido num café, desaparecendo completamente de circulação. Tinha apenas vinte anos, era cidadão alemão e... negro.
Cinquenta anos depois, Sid, antigo companheiro de banda e única testemunha desse fatídico acontecimento, ainda se recusa a falar do assunto. No entanto, quando Chip, outro ex-companheiro, lhe mostra uma misteriosa carta que recebeu de Hieronymous, vivo e de boa saúde, Sid enceta uma dolorosa viagem ao passado. Da agitação dos bares clandestinos da Berlim do início da Segunda Guerra aos salões de Paris, irá reviver a paixão pela música, a camaradagem e a luta diária de então, mas também as invejas, as traições em nome da arte e o sentimento de culpa...
Um romance extraordinário sobre o mundo do jazz, mas também sobre os limites da amizade, o racismo e a fragilidade dos que vivem à margem.
Comentário:
Em linguagem futebolística, este livro é um penalti falhado.
Ou seja, a autora parece ter perdido uma enorme oportunidade de marcar um
grande golo. Na verdade, o romance oferece pistas e caminhos que poderiam ter
proporcionado uma obra de enorme qualidade; no entanto, na minha opinião, o
livro perde muito com uma narrativa demasiado lenta, entrecortada, espartilhada
num constante vaivém temporal.
A autora optou por uma narrativa repartida em três momentos
da vida dos personagens: a sua juventude, no primeiro quartel do século XX, o
momento em que os membros da banda se separam, durante a segunda guerra mundial
em Paris e o reencontro entre alguns deles, em 1992. O problema é que os saltos
temporais são constantes e muitas vezes apenas contribuem para cortar o ritmo
da narrativa e da leitura.
Por outro lado, a demasiada preocupação com a descrição de
determinados aspetos, em detrimento de outros, afeta a “economia” da narrativa
e torna-a, em muitos momentos, fastidiosa e lenta.
Os pontos fortes do livro, a meu ver, foram mal
aproveitados; refiro-me a determinadas ideias base, como o valor da amizade em
facetas muito complexas como a importância do remorso e a forma como ele não
abala um sentimento profundo, inexplicável, e que se torna verdadeiramente
imortal. Quando, na parte final da obra, estas ideias vêm ao de cima,
contribuindo até para um final belíssimo, já se tinha perdido o livro, por
entre dezenas de páginas que ao leitor parecem estar na fronteira do inútil.
Outro aspeto muito interessante no livro é a forma como a
autora utiliza uma linguagem cheia de erros gramaticais, fiel ao falar dos
personagens. No entanto, numa breve observação do original em língua inglesa,
verifica-se que algo se perdeu na tradução, nomeadamente o falar típico dos
personagens afro-americanos.
Finalmente, o aspeto que talvez mais tenha contribuído para
o sucesso deste livro: a sensibilidade da autora para compreender e exprimir a
força da música, nomeadamente o jazz, um estilo de música onde a alma se
sobrepõe às notas; o sofrimento dos personagens, os seus dramas e as suas
alegrias estavam naquele trompete.
Em suma, um livro que se lê com algum interesse, num estilo
fácil e fluente, mas onde falta o desenvolvimento de ideias que podiam ter
feito deste livro uma autêntica obra-prima.
2 comentários:
Hum... dei assim uma olhadela muito superficial neste comentário, e azar meu... li as primeiras linhas LOL...
Passo a explicar: Começo amanhã a leitura deste livro, e fiquei de olhos esbugalhados no "Pénalti falhado"
Volto daqui a uns dias, para ler com calma e falar sobre o livro.
Nuno,os penaltis falhados, às vezes resultam de grandes jogadas :)
Portanto, espero que gostes :)
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