sábado, 13 de março de 2010

Invisível - Paul Auster

Ao 13º romance, Paul Auster presenteia-nos com um livro surpreendente. Este grande escritor, verdadeiro génio da literatura mundial, demonstra-nos como é possível inovar, mesmo quando as fórmulas tradicionais garantem o sucesso.
Começando pelo fim: pela primeira vez na carreira literária, Auster escolhe um final pouco surpreendente; digamos que surpreende pela falta de surpresa; um final previsível mas, incrivelmente belo!
No entanto, não deixam de estar presentes os temas mais recorrentes na obra de Auster: a angústia do escritor, a solidão e a luta interior pela procura da identidade; sempre a identidade, a eterna procura de um destino que dê sentido à existência, a demanda de objectivos que expliquem a existência; a necessidade de correr riscos; a procura dos limites onde a vida começa a ganhar sentido: “É o medo que nos leva a correr riscos e a ultrapassar os nossos limites normais”.
A história de Adam Walker é uma saga incrível. Ele é o homem comum, como qualquer de nós, a quem tudo pode acontecer. A sua vida é marcada pelo confronto com Born, o anti-herói, o fantasma real, o inimigo visível e invisível. Walker flagela-se por ter sido pouco corajoso perante a maldade de Born. Toda a sua vida foi destroçada quando, na verdade, ele teria sido, apenas, a vítima. A culpa! A culpa, esse conceito tão subjectivo, essa condenação tantas vezes imposta por nós próprios, muitas vezes apenas uma construção mental com a qual, sadicamente, nos auto-destruímos.
E, pairando sobre vidas à procura de sentido, o mortos. Sempre os mortos, invisíveis, por vezes mais vivos que os próprios vivos, na solidão de quem não consegue nunca escapar às garras da memória e da culpa. Memória e culpa que se confundem, como se uma lembrança pudesse transportar o peso insustentável do remorso. A vida e os seus paradoxos: por vezes não conseguimos escapar ao invisível; ele esmaga-nos. Outras vezes queremos tornar invisível o real e não há fuga possível. O ser humano será sempre atormentado pela sua própria mente, pela eterna necessidade de pensar e sentir.
Em suma, um livro diferente de todos os que Auster escreveu até hoje. O melhor, como alguma crítica afirmou? Impossível responder. Diferente.
Genial, como sempre! Apenas!

6 comentários:

Teresa Diniz disse...

Também adoro Paul Auster. Esse poderá ser o próximo da lista!
Bjs

Anónimo disse...

olá Manuel,
sabes uma coisa?
Tenho este livro por ler em casa, de maneira que não cheguei a ler o teu comentário todo com receio de ficar a conhecer a história.
Um abraço
Cristina

Unknown disse...

Olá Cristina
tenho a certeza que vais gostar. A escrita de Auster cativa pela sensibilidade humana e pela originalidade do enredo.
Um abraço ;)

Tiago Mendes disse...

Nunca li Paul Auster, mas por acaso era um autor que gostava de experimentar, por falarem muito bem dele. Ouvi algures que tinham alguma coisa a ver com a escrita de Murakami, isso é verdade ou descabido?

Boas leituras e bom fim de semana!
Tiago

Unknown disse...

Olá Tiago
na minha opinião não é descabido, mas é um pouco forçado. Eu de Murakami só li Kafka À Beira-Mar, enquanto de Auster já li quase tudo, pelo que a minha opinião não é muito... digamos, definitiva. Mas o que me parece é o seguinte: em termos de estilo, Murakami é muito mais descritivo, mais analítico; Auster é sintetico, vai directo ao assunto, ou seja, aos sentimentos e emoções. Em termos de temática, Murakami tem um profundo conhecimento da realidade e mentalidade japonesa, explorando muito bem a espiritualidade oriental; Auster é um crítico da sociedade norte-americana.
No entanto, há um ponto de contacto: a procura da identidade como missão do ser humano; a solidão como campo de batalha onde se desenrola essa procura; a alma humana como universo fundamental, verdadeiro cosmos.
Mas, como disse, reservo opinião mais fundamentada para quando ler mais qualquer coisa de Murakami...
Ps- Obrigado por teres lembrado Boris Vian no teu Blog :)

Tiago M. Franco disse...

Invisível foi o meu primeiro livro do autor.
Além do seu nome ser apontado como um dos possíveis vencedores do Premio Nobel dos próximos anos, confesso que não achei Paul Auster um génio literário, no entanto, tenciono voltar a ler outro livro do autor.