Já escrevi algures que de entre os novos nomes da literatura portuguesa contemporânea, Paulo Alexandre e Castro é um dos mais promissores. Depois dessa pequena obra de arte que é Loucura Azul, este escritor presenteia-nos com uma surpreendente e original peça de teatro.
Os protagonistas são três loucos num hospício. Desde logo, é um regresso à profunda, imensa, questão: o que é a loucura? Quem são os loucos? E daqui partimos para a questão que mais nos interessa: qual a quota-parte de loucura que nos é necessária para ser feliz?
É nestas coisas que o livro nos deixa a pensar. João, Pedro e Nuno são os loucos. Ou serão apenas infelizes? Ao longo do livro, é nítido o esforço que eles fazem para assumir comportamentos, raciocínios e emoções consideradas “normais”; tentam fugir da loucura assumindo uma assustadora lucidez. No entanto, parece óbvio que nada mais fazem do que qualquer um de nós, no quotidiano: apenas procuram ser felizes. Esta questão é muito mais relevante e profunda do que parece à primeira vista, porque a sua aparente loucura (e vemos isso nitidamente no final da peça) não passa de um desajuste em relação à realidade. Essa realidade é a normalidade, apresentada na peça pelas três mulheres que visitam os “loucos”; elas surgem de repente, vindas da normalidade. No entanto, essa normalidade é negra, infeliz, cruel…
Por outras palavras: onde está a loucura, afinal: na fuga à crueldade dos dias “reais”? ou nessa realidade trágica, absurda, que levara aqueles homens aos hospício?
Afinal de contas para onde caminham João, Pedro e Nuno? De que fogem? Onde está a normalidade da vida?
Esta avalanche de perguntas, de dúvidas existenciais é o que nos fica da leitura desta peça. E não é pouco, convenhamos. São questão que sempre hão-de avassalar a alma humana… afinal de contas, João, Pedro e Nuno não são diferentes de qualquer um de nós. Qualquer um de nós foge da normalidade; qualquer um de nós será um dia apelidado de louco… mas qualquer um de nós poderá descobrir que um homem é muito mais que um carimbo social, muito mais que um nome, um tempo no relógio, uma imagem na fotografia, mais que a ilusão de uma pedra na sopa.
No final, João, Pedro e Nuno recitam, em conjunto um poema. De lá tomei a liberdade de copiar este excerto:
NUNO- … da vida…
JOÃO - … o que vale…
PEDRO - … é a loucura…
NUNO - … pura e crua!…
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