Sinopse
Samuel Riba considera-se o último editor literário e
sente-se perdido desde que se retirou. Um dia tem um sonho premonitório que lhe
indica claramente que o sentido da sua vida passa por Dublin. Convence então
uns amigos para irem ao Bloomsday e percorrerem juntos o próprio coração do
Ulisses de James Joyce.
Riba oculta aos seus companheiros duas questões que o obcecam: saber se existe o escritor genial que não soube descobrir quando era editor e celebrar um estranho funeral pela era da imprensa, já agonizante pela iminência de um mundo seduzido pela loucura da era digital. Dublin parece ter a chave para a resolução das suas inquietações.
Neblina e mistério. Fantasmas e um humor surpreendente. Enrique Vila- Matas regressa com um romance que parodia o apocalíptico ao mesmo tempo que reflecte sobre o fim de uma época da literatura. Um romance deslumbrante, aberto às mais diversas leituras, uma verdadeira prenda povoada de surpresas.
Riba oculta aos seus companheiros duas questões que o obcecam: saber se existe o escritor genial que não soube descobrir quando era editor e celebrar um estranho funeral pela era da imprensa, já agonizante pela iminência de um mundo seduzido pela loucura da era digital. Dublin parece ter a chave para a resolução das suas inquietações.
Neblina e mistério. Fantasmas e um humor surpreendente. Enrique Vila- Matas regressa com um romance que parodia o apocalíptico ao mesmo tempo que reflecte sobre o fim de uma época da literatura. Um romance deslumbrante, aberto às mais diversas leituras, uma verdadeira prenda povoada de surpresas.
Comentário:
Riba é um editor desiludido.
Gutenberg vencido pelo Google; a
imagem da decadência e da morte lenta da grande literatura.
Em torno de Ulysses de James
Joyce, expoente máximo da era Gutenberg, Riba decide ir a Dublin fazer o
funeral da era da imprensa, convidando para isso três amigos: Javier é uma
espécie de contraponto de Riba: não gosta do intelectualismo de Joyce. Ricardo
tem uma espécie de dupla personalidade; tenta equilibrar os dois lados: a
intelectualidade e a vida. Finalmente, o jovem Nietzky. Um nome que faz
referencia a Nistzsche; um jovem que Riba admira; grande admirador de Auster,
como Riba. Ele será o cérebro da expedição.
Como no filme de Cronemberg
(Spider), Riba personifica “a incomunicabilidade de um solitário com um mundo
inóspito”. Riba é um solitário que admira Paul Auster, nomeadamente no seu
livro “Inventar a solidão”; é nessas viagens pelo mundo interior que Riba
imagina e planeia a viagem a Dublin, como se fosse uma espécie de santuário
onde executará o requiem à grande literatura.
Em grande parte, este é um livro
negro. O autor revela um tremendo desencanto em relação ao rumo da literatura
atual; logo no início do livro, Riba apresenta-se como o editor fracassado
porque se recusou a editar livros góticos, com vampiros e sangue.
Todo o enredo da obra se baseia
nesta crítica, por vezes demasiado enfática, envolvendo mesmo os leitores: numa
perspetiva algo elitista, bem do agrado dos críticos literários mais cinzentos,
o autor considera que já não há bons leitores: os leitores atuais preferem
encontrar nos livros imagens daquilo que eles são, recusando ideias
alternativas. Tudo o que lhes é minimamente estranho, é rejeitado. Trata-se, a
meu ver de uma perspetiva demasiado sombria e pessimista que não beneficia em
nada esta magnifica arte que é a literatura; não é derrotando os leitores que a
literatura triunfa.
Trata-se de um livro que me
despertou sentimentos contraditórios: por um lado um desencanto perante esta
perspetiva híper criticista e elitista, representante típico desta conceção de
cultura que rejeita tudo o que pode ser considerado divertido e simples; para
Vila-Matas, como para muitos dos intelectuais mais destacados da nossa praça,
a cultura tem de ser bem chata, bem cinzenta. E triste; muito triste.
Mas há o outro lado, o sentimento
contraditório que despertou em mim o interesse, precisamente, por algumas
ideias de Vila-Matas, explanadas num estilo original e com algum bom humor. O
funeral em Dublin tem qualquer coisa de surreal, qualquer coisa de vagamente
místico que nos deixa presos à leitura sem que nos apercebamos do real motivo
desta atração pela leitura. Não há dúvida que Vila Matas escreve muito bem; não
é dúvida que é criativo e original; no entanto, esta mensagem cinzenta, esta
perspetiva sombria e esta envolvência algo elitista da cultura literária tornam
o livro pouco agradável para quem, como eu, encara a literatura como um dos
aspetos mais agradáveis, oníricos e divertidos da vida.
2 comentários:
Bom dia!
Somos um grupo de amigas com uma grande paixão pelos animais que decidiu criar o projecto “Artes Mião”!
No blog http://artes-miao.blogspot.pt/ divulgamos artigos feitos por nós e cujo lucro reverte para a compra de alimentos a ser doados a uma associação de animais, a ASAAST (Associação Dos Amigos Dos Animais de Santo Tirso).
Poderia contribuir para a nossa causa ajudando na divulgação do nosso projecto? Bastaria uma breve referência à nossa causa, ou um simples like/partilha da nossa página do Facebook:
http://www.facebook.com/pages/Artes-Mi%C3%A3o/243011502484046
Muito Obrigada! E pedimos desculpas pelo “spam”.
A equipa do Artes Mião
Antes de mais aproveito para dizer que tenho acompanhado o blog e gosto particularmente das críticas construtivas que partilha.
Resolvi-me a comentar porque Enrique Vila-Matas é um dos escritores que, de momento, mais aprecio (é possível que perca a objectividade :)).
Para mim este "Dublinesca" é uma crítica ao mercado editorial. Ao lê-lo dava por mim a sorrir, possivelmente por causa de um humor negro que sobressai a cada página. Há também uma característica que atravessa os livros de V-M que é a literatura dentro da literatura que é muito bem formulada.
Hoje, e porque já não tenho presentes todos os acontecimentos narrados, não consigo pensar que é uma visão pessimista, até porque a realidade não deixa de ser a exposta (sim, com uma personagem sui generis- cada vez mais disfuncional, com tiques de hikikomori). Basta consultar os catálogos nacionais, deambular pelas livrarias para verificar que uma grande percentagem do que é publicado é-o com a esperança de explosão do próximo best-seller, mais do que a vontade de dar a ler. É a velha questão do publicar um livro que venda, para sustentar a publicação de um livro com características “menos comerciais”. Serão os editores reféns do mercado?
Entretanto estou aqui a pensar na questão que abordou do autor criticar o facto dos leitores procurarem imagens do que são- até que ponto esta necessidade dos leitores (nós) não influi no processo criativo- O que se espera que um autor escreva. O que nos leva a reconhecê-lo, a investir nele e no fim que implicações é que esta tendência tem, sobretudo para os escritores.
Acredito que a literatura é um prazer, é múltipla, é um Universo, e cada um de nós (leitores Amadores ) tem o seu pedaço de terra e de ilusão. Podemos argumentar que é subjectivo dizer que este livro é bom ou mau, que esta concepção está dependente da visão particular do leitor, mas acredito que os livros que nos fazem avançar enquanto indivíduos, que nos fazem pensar são fundamentais, e estes livros não são necessariamente demasiado sérios, cinzentos (penso por exemplo na literatura hispânica).
Acho que este comentário vai mais longo do que esperava. Fico-me por aqui:)
Boas Leituras
Enviar um comentário