Sinopse:
Tristão Raposo é um jovem negro de 19 anos que vive nas
favelas do Rio de Janeiro. Isabel Leme é branca, tem 18 anos e é filha de um
diplomata importante. Quando se vêm pela primeira vez, na praia de Copacabana,
percebem que foram feitos um para o outro e fogem para poderem viver juntos. A
fuga leva-os numa série de desventuras através das regiões mais remotas do país
e do lado mais obscuro do Brasil. Relatando a trágica trajetória destes
amantes, da paixão imprudente à prostituição, da falsa segurança à morte
irónica e brutal, Updike descreve o Brasil das últimas três décadas mostrando
um país que vive num caos económico e social com uma gigantesca disparidade
entre ricos e pobres. Em cenários tão variados como o Rio de Janeiro, São
Paulo, Brasília, Dourados e Mato Grosso, é natural que a ação enverede por uma
vertente de realismo mágico que só John Updike poderia tão bem utilizar.
Comentário:
Nunca tinha lido nada deste conceituado escritor, mas devo
dizer que não me convenceu. É claro que este é considerado um dos livros menos
famosos deste escritor; talvez a s suas obras primas sejam mais interessantes.
Mas surpreendeu-me negativamente o imenso cliché em que cai a obra: uma
abordagem do país como se este fosse um imenso exagero. Para Updike, o Brasil é
o exagero. Qualquer situação humana, qualquer emoção, qualquer sentimento, se o
exagerarmos, se o tornarmos quase inconcebível, então estamos no Brasil. Parece
ser este o pensamento de Updike.
Talvez a minha leitura seja demasiado simplista, ma o que
este livro me deixou foi um profundo desagrado perante a imagem que transporta
do belíssimo país que deu título ao livro.
A própria história do casal Tristão e Isabel (referência à
lenda europeia medieval de Tristão e Isolda) é um imenso cliché – o rapaz da
favela, pobre e quase selvagem que se apaixona pela requintada burguesazinha, a
menina ingénua que não mais o será depois de se apaixonar pelo malvado mas
irresistível Tristão. Depois, juntos enfrentarão as situações mais inacreditáveis
que se possa imaginar: desde assassinatos numa mina de ouro onde eles procuram
fortuna até inimagináveis viagens pela floresta amazónica onde não faltam
índios tirados da carta de Pero Vaz de Caminha e garimpeiros muito malvados,
capazes de matar e esfolar qualquer incauto que se distraia ao longo do
Amazonas.
Pode advogar-se que Updike demonstra uma fertilíssima imaginação.
Isso é verdade; as situações criadas não inimagináveis por uma mente comum. Mas
a imaginação desmedida facilmente conduz à inverosimilhança. É o que acontece
neste livro. Tudo é exagerado. Tudo é demasiado incrível para que o nosso cérebro
possa aceitar este enredo sem a inevitável sensação de impossibilidade.
4 comentários:
Costumo elogiar a imaginação e penso que a tradição literária europeia a despreza, em favor da escrita elaborada. Mas detesto encontrar essa "sensação de impossibilidade" num romance. Excetuando, naturalmente, livros que se assumem como fantasias.
Olá Cristina :)
Realmente, por mais que a literatura nos transporte para outros mundos, muitas vezes apenas sonhados, é uma desilusão muito grande quando chegamos a uma determinada página e encontramos uma situação que o nosso cérebro não aceita como possível.
Para mim isso é uma das coisas que mais me custa ao ler um livro de ficção.
beijinhos
Olá Manuel,
Parabéns por este escelente texto.
Concordo contigo - Updike é um tanto ou quanto exagerado no esgrimir das palavras.Dele li apenas "Corre, Coelho", uma crónica da vida americana, o primeiro de quatro romances dedicados ao personagem Harry Angstrom (Rabbit)e gostei.
Tenho para ler "Procurai a minha face" mas ainda não arranjei disposição para lhe pegar. Um dia destes.
Bjs.
Não conheço autor ou livro, e acredito que, se vc o achou exagerado, eu acharia mais ainda, acho que como qualquer povo detesta clichês com seu país, e essa é uma coisa que eu abomino. Me lembro de uma amiga que esteve na Disney e em uma certa tração, eles mostravam o Brasil cheio de elefantes e leões pelas florestas... noutro caso, uma amga que estava em intercambio, tbm nos EUA, teve que escplicar que ela não vivia numa flroesta, mas numa cidade com 10 milhões de pessoas... realmente, essa mania que ainda persiste, de se pensar que o Brasil é o "fim do mundo" só demonstra ignorânica...
COmo disse, não conheço o escritor, não sei se ele é brasileiro (o nome não é comum), mas se é... erra em fazer transparecer uma imagem ridicula do país, se não é, peca pelo erro de escrever sobre o que não conhece.
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