segunda-feira, 19 de novembro de 2012

A Ilha de Sukkwan - David Vann



 Sinopse:
Uma Ilha selvagem no Sul do Alasca, a que só se consegue chegar de barco ou de hidroavião, repleta de florestas virgens e montanhas escarpadas. Este é o cenário inóspito que Jim escolhe para fortalecer a relação com o seu filho Roy, que mal conhece. Doze meses pela frente, numa cabana isolada do resto do mundo. Mas as difíceis condições de sobrevivência e a tensão emocional a que se vêem sujeitos rapidamente transformam esta viagem num pesadelo, tornando a situação incontrolável.
Comentário:
Soube pela revista Ípsilon, do jornal Público, que o pai do autor cometera suicídio quando ele tinha 13 anos, e apenas duas semanas depois de ter recusado passar algum tempo com ele numa ilha no Alasca. Este facto ilumina-nos um pouco quanto ao tom negro com que o livro foi escrito: uma aventura no Alasca em que pai e filho acabam por se envolver numa enorme tragédia.
Este livro foi escrito antes daquele que comentei anteriormente (A Ilha de Caribou) e o enredo tem a particularidade de se passar num tempo cronológico posterior. Ou seja, o segundo livro do autor passa-se antes do primeiro, numa espécie de analepse. Trata-se de um livro nitidamente escrito com sangue. Ou, no mínimo, com uma dor latente que fornece à escrita este tom pungente, triste, cinzento mas por vezes desesperado. A aridez da paisagem, a solidão que invade todas as frases do livro, o drama de um pai incapaz de comunicar com o filho, o desespero de um filho arrastado para uma desgraça anunciada, tudo isto faz deste livro uma obra dolorida, dramática, triste e de uma beleza quase gótica. O drama humano do confronto de duas solidões (a do pai desiludido pela vida e a do filho proibido de sonhar) transmite-se ao leitor, contagiando-o em toda esta visão negra do mundo e da alma.
David Vann revela uma mestria invejável no domínio da escrita. Num estilo claro, objetivo, obriga o leitor a deixar-se contagiar pela dimensão dramática da obra.
Se, por um lado, são nítidas as marcas pessoais do autor, a sua história de vida, também fica clara a sua paixão pro aquela terra inóspita, o Alasca, que convida a uma vida interior intensa. Os personagens de Vann não têm amigos; são, eles próprios, mundos inteiros de conflitos interiores, de dramas intensos, de incertezas, medos e atos de loucura. Há neste livro uma estranha paixão pela terra gelada que é, ao mesmo tempo, uma estranha paixão pela solidão, pelo silêncio e até pelo desespero.
Em suma, podemos afirmar que David Vann escreve com alma, mas mais que isso: escreve com sangue e dor.

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