Sinopse:
Nas margens de um lago glacial no coração da península de Kenai, no
Alasca, o casamento de Irene e Gary está à deriva. Para cumprirem um
velho sonho de Gary, decidem construir uma cabana numa ilha deserta.
Irene suspeita que o plano de Gary é o primeiro passo para a abandonar e
começa a sofrer de dores de cabeça inexplicáveis, sendo atormentada por
recordações de um trágico passado familiar. Quando o inverno chega de
forma prematura e violenta, o casal vê-se submetido a uma pressão
inesperada, terrível. Rhoda, a filha mais velha, receia que alguma coisa
possa acontecer aos pais e tenta ajudá-los, mas também ela está a
atravessar uma crise pessoal.
Comentário:
Para quem lê o livro sem conhecimento
prévio do contexto literário ou do enredo, a Ilha de Caribou parece, às primeiras páginas, um
tradicional livro de aventuras, numa paisagem mais ou menos idílica onde um
casal decide aproveitar a aposentação para tentar remendar um casamento que
perdera há muito o seu encanto. No entanto, à medida que o enredo avança,
depressa nos apercebemos que o idílio é apenas aparente. Irene vira a sua mãe
pela última vez quando, ainda criança, deparara com o seu cadáver pendurado
numa trave. O suicídio da mãe dá o tom para o destino trágico da maioria das
personagens.
Sim, é um livro negro. O pessimismo do autor perante a vida
humana, perante o destino individual torna-se nítido. A paisagem idílica vai
sendo substituída por toda a aridez do Alasca, que vai invadindo a alma dos
personagens e de quem lê.
As imensas e intensas descrições com que o autor nos presenteia
constituem o aspeto menos positivo do livro; muitas delas absolutamente
desnecessárias e enfáticas conduzem a uma certa saturação, contrastando com a
deficiente caraterização física e psicológica dos personagens; pelo contrário, o
estilo e a linguagem do autor são excelentes, reforçados por uma excelente
tradução.
Não é um livro empolgante nem sequer é um livro que
surpreenda. Mas é um livro inovador em alguns aspetos: há um crescendo de
emoção que culmina com um desfecho trágico mas plausível e há uma abordagem
interessante da alma humana; tudo se passa como se o destino comandasse as
vidas; como se a vontade individual estivesse sempre condenada. Todos os sonhos
dos personagens estão condenados sem remissão. Nada há a fazer perante o devir.
Em suma, é um livro cinzento no conteúdo mas agradável na forma.
Houve quem o comparasse ao livro A Estrada, de Cormac McCarthy. Com alguma
razão; se A Estrada nos fala do destino negro da humanidade, A Ilha de Caribou
apresenta-nos o destino negro do ser individual.
Sem comentários:
Enviar um comentário