Sinopse:
O Velho e o Mar é, porventura, a obra-prima de maturidade de E.
Hemingway. Santiago, um velho pescador cubano, minado por um cancro de
pele que o devora cruelmente, está há quase três meses sem conseguir
pescar um único peixe. Vai então bater-se, durante quatro dias, com um
enorme espadarte, que conseguirá de facto capturar, para logo o ver ser
devorado por um grupo de tubarões. Esta aventura poética, onde Hemingway
retrata, uma vez mais, a capacidade do homem para fazer face e superar
com sucesso os dramas e as dificuldades da vida real, é seguramente uma
das suas obras mais comoventes e aquela que mais entusiasmo tem
suscitado, ao longo de mais de meio século, entre os seus fiéis
leitores.
in wook.pt
Comentário:
Um pequeno livro que é muito grande. Uma estória simples,
muito simples mesmo, que deu origem a uma das maiores obras-primas da história
da literatura mundial. Um velho pescador, um bote, uma cana de pesca e um peixe
enorme. Pelo meio uma amizade suprema entre o velho e um jovem. Mas no coração
da obra está algo de sublime: a luta incessante entre o velho Salvador e o seu
destino; o peixe e o velho, a natureza e o homem, a vida e um destino fatal. A
vida como caminho para um lugar onde não há redenção.
O velho Salvador não consegue segurar o peixe preso à linha,
como o peixe não consegue segurar o homem; um destino fatal em que homem e
natureza se prendem em laços de escravidão mútua. O homem é velho e está só.
Mas talvez o peixe também seja velho e esteja só.
Ao longo da luta, homem e peixe começam a identificar-se,
como que irmanados na solidão.
Numa luta entre iguais, não há lugar para o medo; o peixe
tem a força e o tamanho – maior do que o barco – mas o velho tem a dignidade
humana. Uma dignidade tão grande que o seu maior receio é que o peixe veja a
sua mão ferida: “é indecente estar assim”, como se na luta o homem perdesse
dignidade ao mostrar a sua inferioridade ao adversário: respeitar o peixe é
condição essencial para uma luta entre iguais e só assim poderão ser dignos um
do outro.
A luta com o peixe vai-se agudizando. A linha vai cortando
as mãos do velho pescador; a fome e o sono fazem-no vacilar. Mas a força que
vem da vontade faz com que ele renasça constantemente; aqui está a maior metáfora
da vida humana: uma luta incessante. Pode ter um fim catastrófico, mas isso é o
que menos interessa; no destino do homem está na luta acima de tudo, mas uma luta
digna, uma luta em que a dignidade humana tem de vencer, mesmo na derrota.
Já com o arpão cravado, o peixe navega ao lado do barco; o
velho não sabe quem puxa e quem é puxado. Nem interessa. Se o peixe fosse
transportado no barco, morto ou agonizante, perderia a dignidade e a luta
perderia o seu sentido. Assim, é uma luta entre iguais; uma luta honrada em que
o velho não se importa de ser puxado por um adversário tão nobre, porque a
nobreza do vencedor só engrandece a nobreza do vencido.
Poucas vezes a natureza do ser humano tenha sido relatada de
forma tão bela, numa espécie de poesia em prosa que delicia o leitor da
primeira à última página. Numa escrita concisa, objetiva mas ao mesmo tempo
muito poética, Hemingway escreve assim algumas das páginas mais belas de toda a
história da literatura.
2 comentários:
Sem dúvida. Um grande livro, com uma mensagem muito poderosa. A vida numa eterna luta e a procura de um sentido, na pressão de tantos dias que vão voando.
Boas leituras.
não sou adepta de Hemingway (acho o tipo mais interessante do que o que o que escreveu, mas também só li este O Velho e o Mar e Adeus às Armas).
assim de repente acho que a força deste livro reside no facto do autor captar duas forças aparentemente opostas e dar-lhes um mesmo rumo, um destino comum.
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