quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Como é linda a puta da vida - Miguel Esteves Cardoso


Comentário:
Decidi empreender a leitura deste livro por duas razões essenciais: porque não lia MEC há mais de vinte anos e porque tinha gostado muito dos dois livros que li nessa época: O Amor é Fodido e, principalmente, um livro que continuo a considerar genial, A Causa das Coisas. As expetativas eram, portanto, muito grandes e quando assim é o risco de deceção é muito maior. Infelizmente foi o que aconteceu e, indo direto ao assunto, fiquei dececionado.
Nesta obra, constituída por crónicas jornalísticas, encontramos um Miguel Esteves Cardoso muito mais sereno, mais adaptado ao mundo e, talvez, mais feliz, tendo em conta o período negro que passou na sua vida pessoal, com a doença da esposa, Maria João.
Mas o leitor, no seu egoísmo de cliente de um produto cultural mas também de diversão, não queria um MEC acomodado e sereno. Queria o “velho” MEC contestatário, crítico, mordaz. Aquele que com Paulo Portos (este ainda mais transformado nos dias que correm) dirigia um jornal cheio de humor e crítica, O Independente.
Neste livro damos conta que esse velho MEC já não existe. A qualidade da sua escrita continua lá, com um estilo direto, sintético, claro. Mas apenas encontramos amostras dispersas daquilo que mais o distinguiu como escritor e jornalista: a crítica.
Quando, mais ou menos a meio do livro, vemos MEC confessar que ama este país, chega a confirmação: este não é o mesmo MEC.
Mesmo assim, o livro vale por outra característica típica deste excelente ser humano que é Miguel Esteves Cardoso: pela transparência com que nos expõe os seus sentimentos e emoções; não há dúvida que a sua escrita continua a ser transparente, honesta e frontal. Mas aquele sentido de humor requintado, cheio de crítica, tornou-se agora mais raro e só em alguns capítulos, como naquele episódio hilariante em que nos presenteia com um comentário à cozinha francesa. O uso do palavrão, no título mas também em alguns capítulos, continua a ser uma técnica bem explorada por MEC: usado com a propósito, conferindo um tom de humor à escrita.
No entanto, no final da leitura, damos conta que o próprio título do livro esconde uma outra deceção: não corresponde ao conteúdo e só se explica como forma de o fazer notar nas prateleiras dos hipermercados, junto dos livros da SIC.
Em suma: não é um mau livro, mas está longe desse clássico que é A Causa das Coisas. Talvez a experiência da vida e a paixão notável pela Maria João tenham tornado MEC um homem mais feliz. Valha-nos isso, porque ele merece.


10 comentários:

Carlos Faria disse...

Pois... eu optei por manter na memória o jovem rebelde e crítico dos meus tempos de juventude e por isso não li o livro, nem tive a tentação de o comprar.

Unknown disse...

Sabes, Carlos, acho que o amor,quando aparece daquela forma estupidifica um homem :)

teresa dias disse...

Olá Manuel,
De MEC li apenas "A causa das coisas", e, na altura, gostei.
Decidi não comprar mais livros dele. Basta-me a leitura diária das crónicas publicadas no Público, que por vezes...

Cristina Torrão disse...

Eu gostava muito do Independente, até o assinei, quando vim para a Alemanha. Sem internet, na altura, foi o jornal que escolhi receber aqui, regularmente.
Das crónicas do MEC, às vezes, gostava muito, outras, nem por isso. Não tenho lido nada dele, ultimamente.
Comecei a ler, há 12 ou 13 anos, "O amor é fodido" e confesso que não gostei. Desisti a meio (talvez nem tivesse chegado a meio). Talvez hoje gostasse mais, não sei...
Ainda tenho o livro, posso tornar a tentar em qualquer altura ;)

Unknown disse...

Teresa e Cristina
o MEC rebelde parece que desapareceu para sempre e ainda bem que vocês confirmam a minha impressão.
Cristina,esse livro de que falas já não tinha a mesma força da Causa das Coisas. E se não gostaste na altura acho que não deves forçar uma segunda leitura...

Cristina Torrão disse...

Bem, é verdade que não está nos meus planos mais próximos ;)

Denise disse...

Olá, Manuel!

Um autor que li e nunca me deixou aquela vontade de continuar a conhecer mais da sua obra...
O teu comentário cimentou a opinião ;)

Boas leituras!

susemad disse...

Do MEC li os dois que referes e não gostei nada do "Amor é fodido", já "A causa das coisas" foi mesmo o melhor que salvou o autor, mas não ficou a vontade de voltar a lê-lo. Só mesmo esporadicamente algumas crónicas.

GJL disse...

O verão que passou fui passar férias com uns amigos e por acaso um deles tinha acabado de comprar este livro. Eu desconhecia por completo o autor e ainda hoje, passado tanto tempo, não li nem sequer uma frase desse senhor. Acho que será uma das próximas apostas, no entanto, pelos títulos pelo menos deste e do "Amor é fodido" espero não estar a gastar o meu tempo com um autor banal e lamechas. A ver vamos

Unknown disse...

Noir, de facto o que mais me chocou foi ele ter-se tornado lamechas. Em A causa das Coisas não era nada lamechas.
Enfim, o que o amor faz a um homem...
Denise e Tons de Azul, beijinhos