Comentário:
Decidi empreender a leitura deste livro por duas razões
essenciais: porque não lia MEC há mais de vinte anos e porque tinha gostado
muito dos dois livros que li nessa época: O
Amor é Fodido e, principalmente, um livro que continuo a considerar genial, A Causa das Coisas. As expetativas
eram, portanto, muito grandes e quando assim é o risco de deceção é muito
maior. Infelizmente foi o que aconteceu e, indo direto ao assunto, fiquei
dececionado.
Nesta obra, constituída por crónicas jornalísticas,
encontramos um Miguel Esteves Cardoso muito mais sereno, mais adaptado ao mundo
e, talvez, mais feliz, tendo em conta o período negro que passou na sua vida
pessoal, com a doença da esposa, Maria João.
Mas o leitor, no seu egoísmo de cliente de um produto
cultural mas também de diversão, não queria um MEC acomodado e sereno. Queria o
“velho” MEC contestatário, crítico, mordaz. Aquele que com Paulo Portos (este
ainda mais transformado nos dias que correm) dirigia um jornal cheio de humor e
crítica, O Independente.
Neste livro damos conta que esse velho MEC já não existe. A
qualidade da sua escrita continua lá, com um estilo direto, sintético, claro.
Mas apenas encontramos amostras dispersas daquilo que mais o distinguiu como
escritor e jornalista: a crítica.
Quando, mais ou menos a meio do livro, vemos MEC confessar
que ama este país, chega a confirmação: este não é o mesmo MEC.
Mesmo assim, o livro vale por outra característica típica
deste excelente ser humano que é Miguel Esteves Cardoso: pela transparência com
que nos expõe os seus sentimentos e emoções; não há dúvida que a sua escrita
continua a ser transparente, honesta e frontal. Mas aquele sentido de humor
requintado, cheio de crítica, tornou-se agora mais raro e só em alguns capítulos,
como naquele episódio hilariante em que nos presenteia com um comentário à
cozinha francesa. O uso do palavrão, no título mas também em alguns capítulos, continua
a ser uma técnica bem explorada por MEC: usado com a propósito, conferindo um
tom de humor à escrita.
No entanto, no final da leitura, damos conta que o próprio
título do livro esconde uma outra deceção: não corresponde ao conteúdo e só se
explica como forma de o fazer notar nas prateleiras dos hipermercados, junto
dos livros da SIC.
Em suma: não é um mau livro, mas está longe desse clássico
que é A Causa das Coisas. Talvez a experiência da vida e a paixão notável pela
Maria João tenham tornado MEC um homem mais feliz. Valha-nos isso, porque ele
merece.
10 comentários:
Pois... eu optei por manter na memória o jovem rebelde e crítico dos meus tempos de juventude e por isso não li o livro, nem tive a tentação de o comprar.
Sabes, Carlos, acho que o amor,quando aparece daquela forma estupidifica um homem :)
Olá Manuel,
De MEC li apenas "A causa das coisas", e, na altura, gostei.
Decidi não comprar mais livros dele. Basta-me a leitura diária das crónicas publicadas no Público, que por vezes...
Eu gostava muito do Independente, até o assinei, quando vim para a Alemanha. Sem internet, na altura, foi o jornal que escolhi receber aqui, regularmente.
Das crónicas do MEC, às vezes, gostava muito, outras, nem por isso. Não tenho lido nada dele, ultimamente.
Comecei a ler, há 12 ou 13 anos, "O amor é fodido" e confesso que não gostei. Desisti a meio (talvez nem tivesse chegado a meio). Talvez hoje gostasse mais, não sei...
Ainda tenho o livro, posso tornar a tentar em qualquer altura ;)
Teresa e Cristina
o MEC rebelde parece que desapareceu para sempre e ainda bem que vocês confirmam a minha impressão.
Cristina,esse livro de que falas já não tinha a mesma força da Causa das Coisas. E se não gostaste na altura acho que não deves forçar uma segunda leitura...
Bem, é verdade que não está nos meus planos mais próximos ;)
Olá, Manuel!
Um autor que li e nunca me deixou aquela vontade de continuar a conhecer mais da sua obra...
O teu comentário cimentou a opinião ;)
Boas leituras!
Do MEC li os dois que referes e não gostei nada do "Amor é fodido", já "A causa das coisas" foi mesmo o melhor que salvou o autor, mas não ficou a vontade de voltar a lê-lo. Só mesmo esporadicamente algumas crónicas.
O verão que passou fui passar férias com uns amigos e por acaso um deles tinha acabado de comprar este livro. Eu desconhecia por completo o autor e ainda hoje, passado tanto tempo, não li nem sequer uma frase desse senhor. Acho que será uma das próximas apostas, no entanto, pelos títulos pelo menos deste e do "Amor é fodido" espero não estar a gastar o meu tempo com um autor banal e lamechas. A ver vamos
Noir, de facto o que mais me chocou foi ele ter-se tornado lamechas. Em A causa das Coisas não era nada lamechas.
Enfim, o que o amor faz a um homem...
Denise e Tons de Azul, beijinhos
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