Sinopse
A quem e em que circunstâncias conta Pereira o mês crucial
da sua vida, um fatídico Agosto de 1938? O livro não o diz, caberá ao leitor
escolher entre várias repostas possíveis. Mas Pereira é uma testemunha exata e,
com obstinação e minúcia conta, como se fizesse um depoimento, um período
trágico da sua existência e da história da Europa. Tendo por pano de fundo o
Salazarismo Português, o Fascismo Italiano e a Guerra Civil Espanhola, Afirma
Pereira é a história atormentada da tomada de consciência de um velho
jornalista solitário e infeliz.
Comentário:
Este livro é uma magnífica homenagem a todos aqueles heróis
anónimos que simbolizam a resistência à ditadura salazarista. Pereira não era
um homem talhado para revoluções nem para heroísmos; como não o eram a maioria
dos portugueses; mas enquanto essa maioria preferiu adaptar-se, compreendendo o
incompreensível, Pereira preferiu ser fiel a uma voz diferente…
Pereira era apenas um homem simples e solitário, que gostava
de limonada e falava com o retrato da falecida esposa. No entanto, depressa se
viu devorado pelos tempos conturbados em que vivia, em plena guerra civil
espanhola, nos alvores da ditadura salazarista. Pereira não tinha sonhos;
apenas desejava manter a pacatez do jornalista modesto, responsável pela página
cultural de um jornal de fraca tiragem. Mas aqueles tempos não se compadeciam
com sonhos de anonimato. Pereira vai ter de tomar partido.
Quando Pereira vai para a clinica de talassoterapia, é
inevitável a evocação da Montanha Mágica, de Thomas Mann por parte de Tabucchi.
Aí, o Dr. Cardoso diagnostica em Pereira a emergência do seu “Eu hegemónico”
que o leva a simpatizar com os jovens revolucionários. Eu hegemónico ou
simplesmente consciência social? Assim Pereira perde a inocência da passividade
e muda a sua vida para sempre; o comprometimento político é, às vezes, uma
obrigação e, ao mesmo tempo, uma necessidade profunda.
Assim, em pouco mais de 150 páginas, este genial escritor italiano
apaixonado por Portugal transmite-nos uma mensagem bem atual: perante a
injustiça, é obrigatório tomar partido.
Finalmente, referência para o filme de 1996 (Sostiene Pereira no título original),
realizado por Antonio Faenza, com Marcello Mastroianni num dos seus últimos
desempenhos e com alguns dos melhores atores portugueses: Joaquim de Almeida,
Nicolau Breyner, Mário Viegas e ainda com a magnífica Nicoletta Braschi,
conhecida pelo desempenho em A Vida é Bela:
5 comentários:
Desejo um dia vir a ler esse livro...
Lê-se muito bem, Carlos; e é pequeno. Há inclusivé uma edição de bolso, salvo erro da Biis-Leya
Procurei este livroi durante anos e estava esgotado. Penso que só foi pubvlicado há um ou dois anos e corriu a lê-lo. Gostei imenso e o Pereira ainda hoje é um personagem com que me cruzo. Traça um excelente retrato de Portugal em 1938 (julgo ser essa a data, retive que é mesmo antes da guerra). Mas é mais do que um livro de época, do que um retrato desse mundo dos anos trinta; este livro escarafuncha no que é ser o humano, as suas hesitações, as suas grandezas. E tudo em cento e cinquenta páginas. Um grande livro. E, claro, aqui uma grande visão do mesmo.
É isso mesmo Fernando. Passa-se durante a Guerra Civil Espanhola e é uma excelente leitura da alma humana, no eterno dilema entre a ação e a acomodação. Pereira só queria ser acomodado; adaptar-se; mas havia aquela voz lá de dentro, aquela força que o empurrava para a ação... é assim que se fazem os heróis, os resistentes e os que constroem a história.
Ao longo da leitura fez-me lembrar várias vezes Mário de Carvalho e Saramago.
Mais um livro que me levas a ler. :)
Já o pedi emprestado para ler assim que terminar o "Ivanhoe" de Walter Scott.
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