Sinopse
Com este romance epistolar, Tabucchi renova uma ilustre
tradição narrativa, subvertendo muito embora os códigos e pervertendo o género.
Com efeito, apercebemo-nos a pouco e pouco que alguma coisa "não bate
certo" nestas missivas: a paisagem parece resvalar sob os nossos olhos, os
destinatários parecem errados, os remetentes desapareceram e os tempos
inverteram-se, como se o antes e o depois tivessem trocado de posição e as
cartas se antecipassem ou se atrasassem relativamente à própria mensagem que
transmitem. Como se a vida fosse afinal um filme perfeito em que só a montagem
falhou.
Comentário:
Este é um livro pouco convencional. Quem, como eu, leu antes
Afirma Pereira, estranha bastante a diferença entre as duas obras. Neste
livro, Tabucchi envereda por um formato peculiar, a que o autor (ou o editor?)
chama “romance em forma de cartas”, embora seja muito difícil considerar este
livro um “romance”. Na verdade, esta multiplicidade de tempos, de personagens e
até de narradores leva o leitor a um trabalho desmedido na procura de uma linha
de rumo que permita compor este enorme puzzle, em que as peças parecem não
encaixar nunca. Talvez esta diversidade de narradores seja influência direta de
Fernando Pessoa, tratando-se de escritor que viveu largos anos em Portugal e
admirador confesso do nosso grande poeta.
Na verdade, o único fio condutor que, depois de tanto
esforço, podemos encontrar é a multiplicidade de destinos a que as paixões
conduzem os homens, num palco de múltiplos cenários, a que chamamos vida.
Por entre tantas cartas, tantas estórias, perpassa uma certa
nostalgia, mesmo uma certa angústia perante os destinos tantas vezes cinzentos
desses amores. Assim, mais do que um romance, este livro não é mais queum conjunto de impressões e reflexões sobre a vida e o amor. No entanto, não deixa de ser muito
interessante a forma como o autor aborda os mais variados assuntos nessas
cartas, fazendo apelo a elementos relacionados com as artes e a literatura. Por
outro lado, talvez sob a influência, que o próprio autor assume, de Nikos Katanzakis,
são muito interessantes as descrições de paisagens rurais.
Trata-se, portanto, de uma obra bastante reflexiva, de
leitura difícil, árdua mesmo, a não ser que nos limitemos a encarar as cartas
de forma independente. No entanto, a designação de romance encaminha o leitor
para essa procura do fio condutor, de um enredo, o que prejudica o caráter lúdico
que, em meu entender, deve estar sempre presente numa obra literária de ficção.
2 comentários:
Boa tarde Manuel
Também eu sou um fanático dos livros.
Já leste "A louca da casa" da Rosa Montero? então lê que vais gostar.
Um abraço
Olá SEVE
não conheço mas já anotei.
Obrigado pela sugestão
Abraço
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