quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Norwegian Wood - Haruki Murakami

Este foi o primeiro livro de sucesso de Heruki Murakami, publicado em 1987. O título é inspirado numa canção dos Beatles, com o mesmo nome.
O enredo narra a juventude de Toru Watanabe, no final conturbado dos anos 60, numa universidade japonesa. Toru, como qualquer jovem da sua idade, apaixona-se. No entanto, ele viverá um dilema entre duas paixões: Naoko e Midori.
A famosa geração de sessenta, também no Japão, vivia numa encruzilhada: os movimentos estudantis em confronto com a geração conservadora dos pais, a geração saída da segunda guerra mundial. Este conflito de gerações, (que se sentiu também na Europa) colocava em confronto aqueles que viveram a guerra e construíram a recuperação económica com base numa disciplina férrea e os filhos, protegidos pelos pais mas educados nessa disciplina, condição essencial para o grande objectivo de construir a riqueza material.
Ao longo da obra, Murakami encara estes jovens rebeldes (com os quais Toru não se identifica) como pessoas pouco esclarecidas, para quem a rebeldia era um instrumento de afirmação, mais do que de defesa de determinados ideais. A revolta contra a guerra do Vietname ou contra o sistema universitário eram apenas argumentos para uma geração sem ideais. São ideias revolucionárias que nada alterarão; são ideias ocas, desprovidas de conteúdo.
As paixões de Toru (Midori e Naoko) representam duas forças em confronto: Naoko é a tradição, a calma, a paz. Midori é o futuro, a ambição, a excitação do progresso e do desconhecido. Entre estes dois pólos, Toru procura a sua liberdade, a sua afirmação.
A geração antiga revela-se algo fria em termos de afectos para com os filhos. O pai de Midori diz às filhas, aquando da morte da mãe: “mais valia que tivessem morrido vocês”.
Muito significativa, a terapia de Naoko (que sofre de doença psíquica): o sanatório é uma espécie de paraíso na terra, entre a natureza. É nítida a apologia do mundo natural nos livros de Murakami, por oposição à devassidão do mundo dos homens. Trata-se de uma espécie de cooperativa de saúde onde todos se ajudam mutuamente, porque todos têm algo para ensinar. Por outro lado, todos têm deformações (doentes, médicos, funcionários). A diferença é que só alguns reconhecem essas deformações. Diz Reiko, amiga e terapeuta de Naoko: “o que nos torna normalíssimos é o facto de sabermos que não somos normais”.
Já neste seu primeiro romance, Murakami emprega uma linguagem profundamente simbólica; todas as situações parecem ter sido meticulosamente estudadas para exprimir algo que está para além da realidade e para além do texto.
O “Sargento”, colega de quarto de Toru, representa a geração nova: muito ambicioso, trabalhador, mas sem referência éticas ou morais.
O livro é extraordinariamente envolvente. Sem o misticismo e a fantasia dos seus romances posteriores, Murakami constrói um enredo bem mais linear que envolve o leitor numa espécie de solidariedade para com Toru. Talvez este personagem tenha bastante de autobiográfico; no entanto, os dilemas de Toru (os amores, as opções de vida, a forma de encarar o futuro e o passado) são os dilemas de todos nós. Por isso nos revemos nele. Como diz Reiko (a voz da razão neste livro) “todos somos imperfeitos num mundo imperfeito” e, por isso, não devemos encarar os nossos dilemas com demasiada seriedade. A vida exige leveza – essa leveza do ser que Murakami transporta de forma encantadora em todos os seus livros.
É que a vida, às vezes, encarrega-se de decidir por nós. Assim foi com Toru, um homem perdido nas encruzilhadas…

Uma nota de rodapé para a editora Civilização: a qualidade (sofrível) da capa e do papel bem como a (má) qualidade da impressão estão muito longe de justificar um preço de 22.20 €.

7 comentários:

Ana Luisa Alves disse...

Pode parecer incrivel, mas à dois anos atrás tentei ler um livro deste autor e achei muito aborrecido :S
O título tinha qualquer coisa a ver com carneiros...O problema é que já ouvi tanta gente dizer bem deste autor que estou tentada a fazer uma segunda tentativa.
Em relação à crítica, gostei muito! :)
Cumps!
Alu

Jacqueline' disse...

Só li um livro de Murakami, mas fiquei com a mesma sensação sobre o que escreveste em relação à sua escrita. É maravilhosa.

Nuno Chaves disse...

Olá Manuel, embora este comentário esteja dentro do post do Murakami, não tem nada a ver com ele, ai à tempos a proposito da tua critica sobre a sombra do vento, aconselhaste-me Peréz-Reverte, andei à procura do que me falaste, mas nenhum deles estava disponivél(julgo que fazem parte das Aventuras do Capitão Alatriste)é isso??? trouxe no entanto um livro dele chamado o cemitério dos barcos sem nome que estava a um preço bestial de euros, já o leste? se sim qual a tua opinião? um grande abraço.
Nuno

Unknown disse...

Sim, Nuno, os livros mais emocionantes do Reverte fazem parte das aventuras do capitão Alatriste. No entanto, devo ter-te aconselhado o Mestre de Esgrima, que é o meu preferido juntamente com o Clube Dumas.
Não conheço esse que compraste mas numa breve pesquisa na net já vi que vai na linha dos Alatriste; aventura e emoção. Vais gostar :)

Nuno Chaves disse...

Obrigado Manuel, como deves ter reparado no final do post falo em euros, mas devo ter passado o valor, já agora foram 10 euros na Bertrand !!! (dá para acreditar)?

Unknown disse...

É um excelente preço, sim, tendo em conta os disparates de preços que se andam a fazer por aí.
Um abraço

Marco Magalhaes disse...

É o meu escritor favorito, já li tudo o que tem editado em Portugues.Norwegian Wood é um livro diferente de todos os outros que li deste autor mas igualmente fantástico.Ana Luisa Alves o livro que falas é o "Em busca do carneiro selvagem" e digo te que é um dos meus favoritos mas o que mais gostei foi a "Cronica do passaro de corda" que é um livro Brutal!!!