Sinopse:
Este livro pode ser definido como
uma declaração de amor, de amizade e de admiração. O personagem-título do mais
novo e polêmico romance de Saul Bellow é, na verdade, Allan Bloom, professor de
filosofia que influenciou várias gerações de políticos americanos e chegou a
ser recebido por Reagan e Thatcher. Como um pensador da Antigüidade Clássica,
Bloom era um líder para seus alunos e sua ascendência ia muito além das salas
de aula. Acima de tudo, ele procurava instigá-los a pensar, levando ao limite
sua busca pela liberdade de pensamento e defesa da democracia. Saul Bellow se
retrata no livro como Chick, um escritor que jamais conseguiu passar do quinto
lugar na lista dos mais vendidos e amigo incondicional de Ravelstein, com quem
se encontra em Paris. Saul Bellow também revela no livro a homossexualidade de
Allan Bloom e sugere que ele teria morrido de HIV.
(extraído daqui)
Comentário:
É o primeiro livro que leio deste
escritor norte-americano (embora nascido no Canadá) e posso dizer que vale a
pena, a julgar por esta obra. Saul Bellow obteve o prémio Nobel da Literatura
em 1976 mas este é o seu penúltimo livro, escrito em 2000 quando Bellow contava
já 85 anos de idade (veio a falecer em 2005). Mais do que um romance, trata-se
de um livro de apontamentos biográficos.
Este livro, embora ficcionado,
não deixa de ter fortes traços autobiográficos, representando-se no enredo a
amizade do autor por Allan Bloom, conhecido politicólogo norte americano, aqui
nomeado Ravelstein. Eminente especialista em política externa, ele privara com
os grandes nomes da história americana do século XX e estudara Keynes e
Friedman. Ravelstein é um daqueles personagens fortes, dominadores que encandeiam
todos os que o rodeiam. Judeu culto, rico, invejado e idolatrado, Abe
Ravelstein terá um final de vida dramático devido ao HIV, contraído devido a
relações homossexuais promíscuas. A ideia que passa ao leitor é que a tentativa
de anular o judaísmo parece funcionar em, personagens como este como um motivo
para que a sua vida seja ainda mais marcante; como se a perseguição fosse
motivo para uma espécie de vingança sobre o destino: viver em força, marcando a
existência de tal forma que a memória nunca se apague. A vida, vivida no
limite, com uma intensidade por vezes absurda, talvez fosse uma forma de
combater a ignomínia com que algumas ideias políticas tentaram encobrir e perseguir
os judeus.
Um outro aspeto muito
interessante nesta obra é a forte abordagem da amizade entre os dois homens;
Chick, alter-ego do autor idolatra Ravelstein; trata-se de uma daquelas
amizades em que alguém se deixa quase subjugar pelo outro; por aquele que admira
de forma quase sagrada. E a forte personalidade de Ravelstein pactua com esta
situação e alimenta-a. Até a doença de Chick se assemelhe à do seu ídolo. Questiona-se
aqui até que ponto a amizade pode conduzir à despersonalização; até que ponto
uma personalidade pode dominar outras pessoas de forma tão avassaladora.
Enfim, trata-se de um livro
interessante, de leitura fluida, que nos deixa com vontade de saber mais sobre
este autor norte americano.
2 comentários:
Ravelstein é uma personagem apaixonante, intensa.
Este é um belíssimo livro que me faz alimentar o interesse em ler mais Bellow.
Também entrou para a lista a ler o "A cultura inculta" do Bloom, com prefácio (se não estou equivocada) do Saul Bellow.
Do autor li "Herzog", um livro que considerei apaixonante. O personagem principal conta a sua história (os pensamentos, as frustrações, as conversas imaginárias, ...) através de cartas que nunca chega a enviar.
Este "Ravelstein" também me parece muito bom!
Enviar um comentário