sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Revolutionary Road - Richard Yates


Sinopse:
O primeiro romance de Richard Yates, Revolutionary Road, tornou-se um clássico logo após a sua publicação em 1961. Nele, Yates oferece um retrato definitivo das promessas por cumprir e do desabar do sonho americano. Continua hoje a ser o retrato da sociedade americana. Um casal jovem e promissor, Frank e April Wheeler, vive com os dois filhos num subúrbio próspero de Connecticut, em meados dos anos 50. Porém, a aparência de bem-estar esconde uma frustração terrível resultante da incapacidade de se sentirem felizes e realizados tanto no seu relacionamento como nas respetivas carreiras. Frank está preso num emprego de escritório bem pago mas entediante e April é uma dona de casa frustrada por não ter conseguido seguir uma promissora carreira de atriz. Determinados a identificarem-se como superiores à crescente população suburbana que os rodeia, decidem ir para a França onde estarão mais aptos a desenvolver as suas capacidades artísticas, livres das exigências consumistas da vida numa América capitalista. Contudo, o seu relacionamento deteriora-se num ciclo interminável de brigas, ciúmes e recriminações, o que irá colocar em risco a viagem e os sonhos de auto-realização.

Comentário:
Mau grado a aparência algo “pirosa” da capa desta edição, este é um livro interessante.
É um livro sobre liberdade, sobre projetos adiados mas que iluminam uma vida. April e Frank queriam remar contra a maré; sonharam com uma vida diferente; fugir ao tédio da mediania; fugir à miserável condição de sonhadores adiados, de membros da colmeia onde todos seguem os mesmos padrões, onde todos se olham como rivais mas sempre membros da mesma “carneirada”. Frank e April sonharam ser diferentes; sonharam ser felizes; talvez não tenham conseguido. Mas sonharam. E portanto, viveram.
Publicado pela primeira vez em 1961 este livro é uma das sátiras mais assertivas que até hoje li sobre a sociedade norte-americana, tal como ela foi formada pelo neo liberalismo triunfante no período após a segunda guerra mundial.
Em causa está um modelo de vida que privilegia o formalismo burguês da classe média e o materialismo capitalista disfarçado numa redoma de moralismo conservador tipicamente americano. Na verdade o autor parece ter como alvo principal esse conjunto de ideias conservadoras e moralistas que apenas fornecem uma imagem artificial da vida.
Frank, empregado num escritório que já arruinara todos os sonhos do pai, é o primeiro a dar-se conta de como a América caminha para a loucura, produzindo cidadãos totalmente alienados, envolvidos num conceito de normalidade avassalador que não permite desvios. Ou seja, que não oferece qualquer margem de liberdade. É a América esquizofrénica, pátria privilegiada da psiquiatria.
Este olhar triste e revoltado percorre quase todo o livro; mau grado o título que promete um certo tom de esperança, a verdade é que não há esperança nem redenção. John, considerado louco, internado num hospício, é o único que concorda com Frank quando este afirma que “este país é um vazio sem esperança”. Contra este modo de pensar, John recebe intensos tratamentos com choques elétricos.
Mas a triste realidade é a dos Campbells; esses sim, são os cidadãos normais da América. O chefe de família, Shep é a imagem quase perfeita de Homer Simpson: pouco dado à higiene, ignorante, bruto, egoísta e interesseiro. É esta a América dos anos 50, como é esta a América da atualidade que, por exemplo Paul Auster nos retrata nos seus livros.
Em suma, trata-se de um livro de leitura muito fácil, agradável embora com um enredo algo sombrio. Como referi acima, merecia uma capa melhor.

4 comentários:

Cristina Torrão disse...

Há aspetos no "american way of life" que são assustadores. O fundamentalismo católico, por exemplo, ou a mentalidade racista e prepotente da província texana. Ou esse "conceito de normalidade avassalador que não permite desvios, que não oferece qualquer margem de liberdade", como bem dizes. É irónico, no país que se considera símbolo máximo da liberdade e da democracia.

Teté disse...

Não li o livro mas gostei muito do filme! E apesar de eventuais diferenças que sempre existem entre um e outro, concordo plenamente com a tua opinião... :)

Unknown disse...

Em várias passagens este livro fez-me lembrar os vários livros em que Paul Auster põe o dedo nas diversas feridas do sistema social e da mentalidade norte-americana.
Obviamente nós, europeus, temos uma certa invejazinha do sucesso económico desse grande país que é os EUA. Mas o que me preocupa é que, em muitos aspectos, nós estamos a imitar do lado de cá os grandes erros do lado de lá, principalmente ao nível das estratégias macro económicas e das estruturas sociais.
Valha-nos a literatura e o cinema para continuar a alertar para tais perigos.

Carla disse...

Olá Manuel
Este é o típico exemplo das mudanças de capas após a adaptação dos livros ao cinema.
Gostei da tua opinião tenho-o aqui por casa quem sabe quando lhe pegarei.
Beijos e boas leituras!