Sinopse:
Um dos muitos títulos de um dos mais notáveis escritores da
língua portuguesa, "A República dos Corvos" reúne sete contos e foi
publicado em 1988. José Cardoso Pires, de quem se escreveu que todos os livros
são fábulas, mesmo os romances ou os ensaios, retoma a faceta
de contista com que se estreara na publicação ("Os Caminheiros e Outros
Contos", 1949) e que por essa altura já tinha sido alvo de várias
coletâneas.
Sete contos repletos de ironias para
descobrir e divertir, na mesma escrita despojada de quem em meio século de
letras sempre preferiu pecar por defeito do que por excesso e exigir
criatividade ao leitor em vez de o manter passivo. Enquanto ensaísta,
romancista, jornalista, dramaturgo e fabulador.
(sinopse mais completa aqui: http://static.publico.pt/docs/cmf3/escritores/95-JoseCardoso/texto.htm )
Comentário:
Em regra, não gosto de contos. Parece-me sempre pouco quando
se trata de grandes escritores. Há exceções, é claro, como os consagrados James
Joyce em Gente de Dublin ou os famosos contos de Tchekov. Não esquecendo o
nosso Eça, claro. Este livro de contos de Cardoso Pires pode acrescentar-se a
esta lista de exceções.
Trata-se de um conjunto de pequenas e médias narrativas que
têm em comum a presença de animais e a sua relação com os humanos. O primeiro
conto, que dá título à obra, é uma fábula absolutamente deliciosa, cheia de
humor e em certos momentos hilariante. O corvo, um dos símbolos de Lisboa, é
aqui um pássaro trocista intérprete de uma deliciosa crítica de costumes e com
uma linguagem encantadora.
A forma como os contos estão estruturados leva-nos desta
hilaridade dos primeiros contos a uma sátira cada vez mais séria e profunda.
Este crescendo culmina com o maior conto do livro, uma sátira a Salazar
(escrito em 1969, ano da “abdicação” do ditador) significativamente intitulado “Dinossauro
Excelentíssimo”.
Nesse conto, percorre-se a vida do ditador, desde uma
infância controlada pela beatice e pela analfabetismo, até uma morte que não se
sabe bem quando ocorre, uma vez que o ditador sobrevive na voz e na ação dos
seus seguidores, também eles esclerosados. Algures pelo meio do percurso o
dinossauro metamorfoseara-se numa estátua sem braços, venerada à imagem e
semelhança do ditador. Aqui como noutros pontos, José Cardoso Pires não esconde
a influência de Kafka, na abordagem de um certo “absurdo normal”.
Também noutros contos é nítida a sátira à classe política,
como por exemplo nos sábios cegos e iluminados, que são descritos por um
narrador “lambe-botas” típico do regime totalitário sob o qual parte do livro
foi escrito.
1 comentário:
Também não sou um apreciador de contos.
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