segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Algo Maligno Vem Aí - Ray Bradbury



Sinopse
O espetáculo está prestes a começar. O circo chega pouco depois da meia-noite, nas vésperas do Halloween. O que fariam se os vossos desejos secretos fossem concedidos pelo misterioso líder do circo, o Sr. Dark? O circo a todos chama com promessas sedutoras de juventude eterna e sonhos por cumprir…
Dois amigos adolescentes, Jim Nightshade e Will Halloway, são incapazes de resistir às atrações. A sua curiosidade de rapazes fá-los descobrir o segredo oculto nos labirintos, fumos e espelhos do tenebroso circo.
Inconscientes do perigo em que se veem envolvidos, uma terrível perseguição é posta em marcha e Jim e Will tudo terão que fazer para salvar as suas vidas. Mas, acima de tudo, as próprias almas... 
Comentário:

Ninguém será capaz de negar, goste-se ou não, que o género fantástico tem feito sucesso nos últimos anos. No entanto, este género surge-nos algo difuso nas suas origens. Podemos recuar, a meu ver, a duas géneses distintas: a ficção científica e a literatura de fantasia e aventura iniciada por Júlio Verne. Se a esta mescla juntarmos algo de Edgar Allan Poe teremos uma aproximação às raízes do fantástico do século XX, onde O Senhor dos Anéis e o incontornável Harry Potter forneceram a alavanca decisiva para o triunfo do género.
No meio de todas estas influências há um nome algo esquecido que funcionou como charneira do fantástico: Ray Bradbury. Ele, com dois livros fundamentais para a história da literatura do século XX, marcou a transição a ficção científica para o fantástico. Refiro-me ao inesquecível Fahrenheit 451 e a este “Algo Maligno vem aí”.
O título, retirado de um poema de Shakespeare, denuncia o caráter misterioso e algo negro da obra.
Antes de mais convém chamar a atenção para uma curiosa confusão relacionada com a tradução. Na contracapa desta edição fala-se de um “circo” que chegou à cidade onde se desenvolve a ação. No entanto, o tradutor, ao longo da obra, em vez de “circo” usa o termo “feira”. Confesso que fiquei confuso; aquilo não é um circo nem muito menos uma feira. As descrições minuciosas de Bradbury sugerem uma espécie de “parque de diversões”. Para desfazer a confusão tive o cuidado de consultar o original, verificando que o autor usa o termo “carnival” que, em inglês dos EUA significa “parque de diversões”. Fica então o mistério de descobrir por que razão terá o tradutor preferido a equivoca e confusa palavra “feira”…
Voltando ao livro: um das aspetos mais geniais deste livro é a caraterização das personagens: Jim e Will são duas crianças em que todos nos revemos, à procura de mistérios e aventuras, descobrindo os monstros que há na feira, digo, na vida. Charlie, pai de Will é o adulto que nunca foi criança e procura agora esse novo mundo, onde pudesse, numa palavra, viver. Afinal sem infância não há vida e sem fantasia não há infância.
Com aparência de obra de literatura fantástica, este livro é muito mais do que isso: revela uma visão negra da vida, onde o parque de diversões simboliza um mundo negro para onde as crianças são atraídas mas onde só encontram o mal.
Por outro lado, por todo o livro, o absurdo do tempo – o carrossel que avança e recua na idade dos que o usam, só leva à infelicidade, seja em que idade for. A ilusão de enganar o tempo conduz invariavelmente à desgraça. Seja na vida, seja na morte, tudo é tenebroso; neste “carnival” não há diversão, apenas ambição, ilusão e desilusão.
No final do livro, de forma encantadora, uma luz de alegria: é com o sorriso que o pai de Will vencerá… afinal, no carrossel negro da vida também há redenção…

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