Sinopse:
O Túnel é a única novela escrita pelo argentino
Ernesto Sabato e que, conjuntamente com Heróis e Túmulos e Abaddón, o
Exterminador e diversos ensaios, o tornaram um dos mais importantes escritores contemporâneos.
O Túnel possui uma estrutura policial, tendo em Maria Iribarne uma personagem
feita dessa alternância de luz e sombra que acaba por levar o pintor Juan Pablo
Castel a assassiná-la, num processo em que os seus actos são analisados até à
exaustão.
Livro sobre o amor, O Túnel é também uma obra sobre a criação e o que nela pode haver de obsessivo na ânsia de ultrapassar a solidão. «Existiu uma pessoa que poderia entender-me; mas foi precisamente essa pessoa que matei», diz Juan Pablo que se apaixonara pela mulher que fora capaz de compreender um quadro seu e de quem mais tarde não suportará o abandono.
Livro sobre o amor, O Túnel é também uma obra sobre a criação e o que nela pode haver de obsessivo na ânsia de ultrapassar a solidão. «Existiu uma pessoa que poderia entender-me; mas foi precisamente essa pessoa que matei», diz Juan Pablo que se apaixonara pela mulher que fora capaz de compreender um quadro seu e de quem mais tarde não suportará o abandono.
Comentário:
Num tom marcadamente existencialista, Ernesto Sabato
surpreendeu-me com este livro. Não esperava encontrar aqui uma obra tão
pungente, tão bem escrita, tão profunda na análise da alma humana. O Túnel é um
daqueles livros que associa os dois atrativos maiores num bom livro: uma
estória que agarra o leitor, feita de uma narrativa emocionante e, por outro
lado, um fundo cheio de conteúdo, de ideias assentes na psicologia do comportamento
do criminoso e na análise de toda a humanidade que há mesmo nas almas mais
revoltadas.
O Túnel é a arqueologia do ódio; é o esmiuçar das
profundezas das emoções mais negativas que um ser humano pode experimentar,
desde a solidão até ao ódio assassino. Mas sempre com um terrível sofrimento.
O protagonista do livro é um homem desesperado pela solidão
que, à partida, sabemos ter cometido um crime hediondo. Depois, o autor oferece-nos
um magnífico feed-back com toda a
história de um amor obsessivo que conduzirá ao crime.
Pablo Castel é um homem terrivelmente tímido; este é o ponto
de partida para um caminho em três andamentos: timidez, solidão, e loucura. O desajuste
entre o pensamento e a ação conduz Castel aos mais sombrios mundos que a sua
mente alimentou. A fobia ao social – o inferno são os outros – acentua este
ensimesmamento e a loucura é o ponto de chegada.
A alma (ou o pensamento) pode ser o maior inimigo do ser
humano quando se constrói um mundo interior feito de ilusões ou sombras de
Platão. À volta de Castel tudo eram sombras até ao aparecimento de Maria. Ela
tornou-se a Luz, mas depressa a mente conturbada de Castel a transformou numa
nova sombra, mais negra que nunca: a sombra tenebrosa do ciúme; e à tríade inicial
(timidez, solidão e loucura) soma-se agora o ciúme que levará ao extremo da
loucura. E, por uma vez, o pensamento, alimentado por um novo e poderoso ódio construído
sobre o ciúme, levará Castel à ação; à única ação objetiva que a sua alma encontrou:
o crime.
No fundo, por detrás de todos estes fantasmas, um outro
monstro se alimentou da mente conturbada de Castel: o medo. O medo, o grande
monstro do ser humano… matar não é um ato de coragem; é um ato de medo.
É por tudo isto que considero o existencialismo como a
corrente literária mais profunda e profícua: por esse mergulho às profundezas
da alma humana, esmiuçando os seus cantos mais remotos e assim fazendo com que
o leitor reconheça aí os seus próprios fantasmas, ilusões e sonhos.
5 comentários:
confesso uma certa irritação ao ler este comentário :P já não me lembrava de grande coisa. não é que sei que gostei do livro, que o considerei "Bom" e a única impressão que associo é de uma personagem (um pintor, até aí a memória ainda funciona) que vai alimentando uma ideia fixa ao ponto da obsessão até culminar numa tragédia.
a ler o "Sobre heróis e tumbas"
Boas Leituras :D
Mas ao fim de uns meses varre-se-nos tudo do livro que lemos...comigo só excepcionalmente isso não acontece.
C.e SEVE
foi por isso que criei este blogue: para combater a PDI :)
"esmiuçar das profundezas das emoções mais negativas (...) Mas sempre com um terrível sofrimento."
As emoções negativas estão sempre ligadas ao sofrimento, os seres mais odiosos são os mais tristes. A tentativa de preencher o buraco dentro deles é que os leva a cometer atrocidades.
É uma viagem interessante (e viciante), esta, pelo teu blogue, Manuel ;)
E como é bom saber que o meu bloguezinho pode ser um vício teu :)
Comentando o teu comentário: é por isso que ser positivo é tão importante! A vida parece que nos tenta constantemente, que nos quer obrigar a cair na negatividade! De tal maneira que isto de ser positivo é muitas vezes uma autêntica guerra...
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